Resgates e abandonos do passado na prática musical litúrgica católica no século XX: memórias, tradições, identidades e abordagens teóricas possíveis

Autores

  • Fernando Lacerda Simões Duarte UNESP/PPG-MÚSICA

Resumo

Este trabalho aborda as metas religiosas para a música litúrgica católica no Brasil ao longo do século XX. Até o Concílio Vaticano II (1962-1965), o repertório considerado adequado à execução nos templos deveria revelar referenciais musicais estritamente europeus e o retorno a modelos do passado era marcante, tanto na execução, quanto na composição. Posteriormente, os modelos musicais legitimados pela Igreja Católica resgataram memórias da música autóctone, antes reprimidas. Esta pesquisa procurou responder aos seguintes problemas: por que os resgates e abandonos de determinados modelos musicais do passado se revelaram uma estratégia eficiente para o controle social do sistema religioso durante o século XX? Como os processos relativos à memória podem ser compreendidos dentro dos modelos teóricos existentes? Estes modelos representaram efetivamente a prática musical? Para responder a tais questionamentos, foi empreendida pesquisa bibliográfica e documental (trabalho de campo). Recorreu-se aos modelos teóricos e às noções de memória, esquecimento, tradição e identidade em Joël Candau, Michael Pollak, Pierre Nora e Jacques Le Goff, bem como às teorias de sistemas sociais de Niklas Luhmann e Walter Buckley – sobretudo à adaptação dos tipos weberianos de controle social deste último – e finalmente, ao modelo evolutivo biológico proposto por Jorge Wagensberg. Os resultados apontam para a tradição enquanto fator de legitimação num processo de institucionalização que atingiu não apenas as práticas musicais, mas o sistema religioso como um todo no início do século XX. Já nos anos que sucederam o Concílio Vaticano II, as memórias representadas como opressoras foram abandonadas em detrimento daquelas consideradas reprimidas. Finalmente, observou-se que a eficiência dos resgates e abandonos de modelos do passado se deve ao fato de estes modelos integrarem coerentemente discursos construtores de identidades, demandando, entretanto, distintos modelos teóricos para cada período estudado.

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Publicado

2016-07-02

Edição

Seção

Artigos - Musicologia