PARA UMA EPISTEMOLOGIA DAS TÉCNICAS DE
EDUCAÇÃO SOMÁTICA1
TOWARDS AN EPISTEMOLOGY OF
SOMATICS
Isabelle Ginot (Paris VIII, FR)
Tradução de Joana Ribeiro da
Silva Tavares e Marito Olsson-Forsberg
Resumo
Desde os anos 1970, os métodos somáticos, ou somatics, tal como definido por Thomas Hanna (1995) vêm sendo
progressivamente integrados na comunidade artística, especialmente pelos
bailarinos. Essas práticas reconhecem a unidade corpo-mente e usam, simultaneamente,
a observação objetiva e a interpretação subjetiva da experiência como métodos
de construção do conhecimento. Isabelle Ginot analisa os princípios gerais de
produção de conhecimento e de transmissão dessas práticas. O artigo identifica
duas estratégias discursivas importantes nas técnicas somáticas: o aval de
personalidades da comunidade científica e o uso de narrações - através de
relatos de caso de pacientes e de ensinamentos do mestre. A autora conclui que
a função principal da ciência, tal como empregada pelas técnicas somáticas, é a
de alimentar a “crença”, um fator provável para a eficácia desses métodos.
Palavras-chave | epistemologia | técnicas
somáticas | corpo-mente | ciência | estratégias discursivas
Abstract
Since the 1970´s, somatic techniques, as
defined by Thomas Hanna (1995), are increasingly popular
with the artistic community, especially in dance. Somatic practices subscribe to mind-body unity
and accept both objective and subjective standards of knowledge in the
interpretation of experience. Isabelle Ginot discusses the general principles
of production and transmission of knowledge in these practices. The article
identifies two major discursive strategies within somatic techniques: the use
of “endorsements” from important representatives of the scientific community
and the use of “narratives”, such as case-studies of patients and the teachings
of the master. She concludes that the main function of science, as used within
somatic techniques, is to foster “belief”, which is evoked as a probable factor
in the efficacy of these methods.
Keywords | epistemology | somatic techniques |
mind-body | science |
discursive strategies
Em todas as épocas, a história da dança vem sendo marcada por intercâmbios
com práticas corporais não dançadas, contemporâneas a ela, tais como: as regras
de postura, de boa conduta, de higiene; o esporte, a medicina, etc... Do século
XX até nossos dias, a história cultural do corpo, por vezes, se interessou
pelos laços existentes entre a dança e diversas práticas, desde a terapia corporal até a ginástica. Lembremos da história das práticas corporais, realizada
por Georges Vigarello, na França, ou, ainda, dos vários trabalhos sobre danças,
ginásticas e esportes da Alemanha dos anos 20 a 40. A partir dos anos 70, um
conjunto de práticas paralelas, muito procuradas por bailarinos, encontrou um
denominador comum: os “métodos somáticos”, ou “somatics”, conforme um termo proposto por Thomas Hanna (1995).
Hanna propõe reunir sob essa denominação um conjunto de práticas que
compartilhariam certos princípios, entre eles: a não-separação do corpo e da mente,
evidentemente; mas também, o fato de levar em conta conhecimentos tanto
objetivos, quanto subjetivos no que se refere à experiência do aluno (ou do cliente, do paciente) e do terapeuta.
Acrescentarei a essa delimitação uma descrição igualmente histórico-cultural,
limitando a categoria dos somatics às
técnicas ocidentais recentes, diferenciando-as assim das várias práticas
corporais oriundas de culturas ditas orientais, tais como a ioga e as artes
marciais. Os somatics tomam muito emprestado de
práticas extra-ocidentais e esses dois conjuntos recrutam um público comum, que
procura nelas respostas para as mesmas perguntas. Neste artigo, estou mais
interessada nos somatics ocidentais e
na sua racionalidade, muito diferentes, na minha opinião, das formas
tradicionais orientais, mesmo quando se dirigem a um público ocidental.
De fato, essas práticas penetraram amplamente no mundo da dança onde elas ocupam hoje,
simultaneamente, um lugar reconhecido e um status de “saber” sobre o corpo que constitui
o objeto deste estudo. O primeiro valor que lhes é comumente atribuído é o profilático.
Trata-se de contribuir à prevenção de acidentes profissionais ou à reabilitação
funcional após uma lesão. Muitas vezes, elas são um recurso para melhorar a
virtuosidade; cada vez mais integradas na formação do bailarino e na pedagogia
da dança, essas práticas entraram como agente de “segurança” do bailarino (ou
do aluno/bailarino), como meio para limitar os acidentes. Porém, elas também
são conhecidas por terem transformado até certo ponto a pedagogia da dança, colocando
a ênfase numa pedagogia “ativa”, exploratória, e
opondo-se a uma ordem pedagógica do modelo e da forma, em benefício de uma valorização
do sentir (cf. FORTIN, 1996, 2002, 2005). Outras vezes, veremos essas práticas
como um “contra-poder”, um antídoto às práticas de dança dominantes. Este ponto
de vista é pouco documentado (talvez por não resistir
a uma argumentação sólida). Porém, é geralmente admitido que os “métodos
somáticos” opõem-se a um corpo virtuoso, glorioso, que
definiria o corpo dançante dominante. Pensa-se aqui, por exemplo, em
Trisha Brown2 e no uso
que ela fez destas técnicas desde o início de sua carreira como coreógrafa.
Um estudo da influência estética dessas técnicas sobre as práticas e as
obras, notadamente na dança contemporânea, deveria ser empreendido. Um estudo deste porte permitiria, sem dúvida,
mostrar como elas contribuem para a construção de um corpo
singular. Na França, por exemplo, há uns
quinze anos, vê-se a ascensão em força da prática Feldenkrais3
junto a bailarinos e, mais recentemente, um interesse maciço pela ioga, o que
parece acompanhar a emergência de uma corporeidade dançante mais postural do que
dinâmica e mais plástica do que musical.
Entretanto, se os estudos em dança têm
começado a se aproximar dessas práticas e a instituí-las
como objetos de pesquisa, esse interesse recente
privilegia, no momento, dois eixos: o primeiro seria o do documento e do
testemunho (ver o papel pioneiro da revista Contact
Quarterly nessa área ou, mais recentemente, as Nouvelles de Danse na comunidade francófona). O segundo eixo seria
o da eficiência, particularmente no campo pedagógico, em que figuram os
trabalhos de Sylvie Fortin sobre a formação do bailarino e sua saúde, ou ainda
o espaço dado aos métodos somáticos nas revistas centradas na pedagogia ou
educação, tais como a Research in Dance
Education ou o Journal on Dance
Education.
O ponto de vista que abordarei aqui será de
outra ordem; em vez de considerar a questão da eficiência pedagógica,
preventiva ou estética desses métodos tais como a dança os utiliza, eu me
interessarei mais pelo seu estatuto epistemológico: como os “conhecimentos do
corpo” construídos pelos somatics são
elaborados e transmitidos? Os “métodos somáticos” contemporâneos são todos eles
apresentados como sistemas de pensamento do corpo, e as práticas por eles
propostas são indissociáveis de um corpus
teórico mais ou menos elaborado, principalmente empírico, e fortemente
dependente da tradição oral. Os bailarinos encontram, então, tantas técnicas
corporais quantas representações do corpo e do gesto; conhecimentos
constituídos sobre o “funcionamento” do corpo. Pode-se questionar a insistência
dos somatics em pretender “não ter
normas” ou modelos (ao contrário justamente das artes marciais ou da ioga onde
as normas são bem explícitas). Os métodos somáticos transformam-se, assim, num
aparelho conceitual que alimenta a reflexão sobre a pedagogia, a saúde do
bailarino e, eventualmente, a estética do gesto e do corpo. Mas, sobretudo e fundamentalmente,
eles fornecem as representações do corpo, que se tornam, às vezes, dominantes
por um período. É o motivo pelo qual o estudo a seguir se interessa pelo estatuto
epistemológico desses métodos e práticas, mais particularmente, por sua
produção discursiva.
Discursos Somáticos
Os métodos somáticos, assim como quase tudo
o que concerne às práticas corporais, sofrem um grande atraso teórico e não são
totalmente livres de uma doxa tenaz: tudo o que diz respeito ao
sentir escaparia sempre da linguagem. Atraso teórico não quer dizer, no
entanto, “ausência de linguagem” ou de discurso, e as necessidades de se fazer
publicidade, os cursos de formação ou, simplesmente, as trocas entre
praticantes são espaços de intensa produção discursiva. Refiro-me a esses discursos “endógenos”, produzidos no meio
profissional. Sem ser exaustivo, podemos considerar três grandes espaços
produtores de discursos somáticos endógenos:
- Os lugares de prática (cursos ou sessões
terapêuticas) voltados para o grande público; aqui, a maior parte dos discursos
é feita oralmente, direcionados para alunos ou pacientes, mas há também os
escritos, sobretudo os textos promocionais destinados a recrutar a clientela;
- Os espaços de formação de praticantes ou
professores, fonte crucial, senão a principal, para uma abordagem
epistemológica da questão. Nas escolas, nos estágios, nas formações iniciais e
nas contínuas, são elaborados e transmitidos os conhecimentos de uma profissão
somática, sua ética, suas crenças, seus modelos explicativos, seus conhecimentos
objetivos e, também, seus eventuais intercâmbios com outras áreas de
conhecimento. Por exemplo, a transmissão de conhecimentos científicos
pertinentes ao método concernido, sob a forma de conferências ou de distribuição
de bibliografias. Aqui, também, a oralidade domina, embora existam variações de
um método ou de um centro de formação para outro (certos métodos produzem
documentos escritos reservados aos praticantes em formação ou a praticantes
ativos).
- Finalmente, os textos publicados,
notadamente aqueles dos fundadores dos métodos, e as numerosas revistas e
publicações profissionais, cujos níveis, gêneros e modos de difusão variam um pouco
entre os métodos, e de um país para outro. Note-se, de passagem, que o estatuto
do discurso dos fundadores, no seio dos grupos profissionais, mereceria um
estudo inteiro.
Não vou tratar aqui de uma descrição
exaustiva da retórica desses discursos, mas falarei de duas figuras dominantes
e antinômicas: a primeira é a do discurso científico e, a segunda, a do relato
da experiência. O objetivo principal dessa retórica é legitimar as práticas, e
os discursos tomam muitas vezes a aparência de produções de “provas”: trata-se,
quase sempre, de se defender das possíveis (e efetivamente frequentes)
desconfianças de charlatanismo, demonstrando a seriedade, o trabalho e a “verificabilidade”
do método.
A prova pela ciência
A primeira figura que me interessa é a do discurso científico e do uso que dele é
feito. Se a prática somática concentra-se sobre o sentir e a sua experiência
singular, trata-se por outro lado de afirmar seu valor a partir do grande
dispositivo de verdade de nossa cultura, a ciência. A meu ver, não existe um
método somático “moderno” que não tente essa aproximação. Essas tentativas
aparecem sob várias formas, nem sempre congruentes e, frequentemente,
superpostas dentro de um mesmo discurso ou de uma mesma série de discursos.
Primeiro um olhar, uma figura tutelar. Em
várias obras dos “fundadores” acumulam-se prefácios, posfácios, homenagens,
listas de agradecimentos, cujos autores, considerados de muito prestígio, são
escolhidos, de preferência, entre os cientistas ou médicos. Mesmo no caso de Alexander4,
que segundo Michel Bernard (2001) não reivindica nenhuma influência científica,
é o John Dewey quem se encarrega de assegurar a validação científica, afirmando
com toda sua autoridade de filósofo, que a metodologia de pesquisa de Alexander
atende a todos os critérios da ciência:
Em primeiro lugar, é através da experiência pessoal que eu tive como aluno, que fui convencido da qualidade científica do trabalho do Sr. Alexander. Cada aula era uma demonstração de um laboratório experimental. [...] Ao reafirmar minha convicção no caráter científico das descobertas do Sr. Alexander e de sua técnica, não o faço como alguém que conheceu a experiência de um “tratamento”, mas como alguém que trouxe toda a capacidade intelectual que possui para o estudo de um problema. (DEWEY in ALEXANDER, 1996: p.15-17 - tradução livre.)5o:p>
No final da mesma obra,
Alexander apresenta “casos” para os quais foi chamado por indicação de médicos;
e uma carta de apoio, assinada por nada menos que sete médicos, foi ainda
publicada como apêndice.
Bonnie Bainbridge Cohen6
(2002:
p.346-350) cita longamente suas “inspirações” e
dedica várias paginas, em apêndice
também, para render homenagem a seus “professores”. É onde encontramos a lista
dos membros de sua família, ao lado dos professores
que encontrou durante seus estudos “institucionais”, entre outros. Entretanto,
o corpo dos textos mal explicita essas
referências externas.
Relegadas às margens dos livros, em forma
de preâmbulos, introduções, prefácios, apêndices, essas referências emolduram o
texto principal com uma aura legitimadora, porém sem abalar sua produção
endógena. Se há conhecimentos novos, esses conhecimentos são oriundos do
fundador, do seu gênio, às vezes de sua cultura esmagadora (Feldenkrais, Bonnie
B. Cohen), ou ainda do gênio anterior do qual foram herdeiros diretos (Elsa
Gindler7
para L. Ehrenfried8 e
Charlotte Selver9). Porque
a outra característica do discurso somático, já a veremos, é de se considerar
como “verdadeiro” porque ele emana de uma experiência singular e vivenciada. A
combinação desses dois sistemas de garantia não é coisa fácil. Uma das
organizações possíveis é, por isso, a de colocar o discurso científico (e
exógeno) à margem, eventualmente destacado do
texto principal, em que o discurso do fundador ocupa o centro da cena. A
ciência aparece então como um olhar: o método ou a técnica teriam se
desenvolvido de forma endógena, mas a ciência, ou pelo menos os cientistas,
observariam e validariam sua legitimidade com menos reserva ainda, visto que,
justamente, o método teria êxito ali onde a ciência, ou a medicina, teria
fracassado.
Mas a ciência aparece também como o quadro
de referência do conhecimento somático. É, sem dúvida, em Feldenkrais que essa referência é mais estruturada. Trata-se,
primeiro, de colocar o trabalho somático no grande esquema da evolução das espécies.
Se Darwin nunca é citado - exceto numa menção em The Elusive Obvious (FELDENKRAIS, 1981), a respeito, não
da evolução, mas da expressão das emoções - todas as obras de Feldenkrais
começam com uma exposição sobre a evolução das espécies e insistem na
singularidade humana, levando em conta a complexidade e imaturidade do seu
sistema nervoso no nascimento. A evolução coloca, assim, um quadro que
justifica a necessidade de tal método (a imaturidade do sistema nervoso, ao
nascer da criança, deixa muito lugar a erros educativos) e também lhe confere
um status no seio mesmo da evolução. Trata-se de contribuir para completar a etapa final: “Penso que vivemos um curto período de transição que anuncia o
advento do homo humanus, do homem realmente completo. Não está descartado que já o
vivemos10
(FELDENKRAIS,
1971: p.98 - tradução livre).
A Teoria da Evolução é um dos grandes
modelos, muitas vezes implícito, que encontramos em muitos sistemas. Em Body-Mind Centering, o sistema criado
por Bonnie B. Cohen, a teoria dos esquemas motores (aquisição progressiva dos
grandes esquemas motores na criança) está diretamente ligada à história da
evolução, e esse paralelo entre ontogênese e filogênese percorre muitos métodos,
notadamente o de Feldenkrais. Em sua obra
(COHEN, 2002: p.239-249), cada “grande esquema” é
ilustrado com desenhos representando uma criança em ação e um animal, cujo
movimento corresponde ao estágio apresentado. Nesse sentido, são utilizados: uma
rã (anfíbio) para ilustrar o movimento homólogo (braços e pernas que se movem
juntos na mesma direção); uma lagartixa (réptil) para o movimento homolateral
(braço e perna do mesmo lado que se movem junto); e uma salamandra (anfíbio)
para o movimento contralateral (braço e perna opostos que se movem juntos). A
evolução aparece assim como a suprema
legitimação, dando à prática uma dimensão planetária (todos os humanos reunidos
pelos mesmos esquemas), quase cósmica e anistórica. Ao se
colocarem no nível da evolução, será que as práticas somáticas se situariam
numa escala supra-humana, além do histórico e do político, paradoxalmente
livres de qualquer contingência?
A cada método, seu corpo singular e, então,
a cada método sua ou suas ciências de referência: para Feldenkrais ainda, as
neurociências representam um papel crucial, tanto na época do fundador como
hoje em dia. Se atribuímos, de bom grado, a incrível complexidade biomecânica
do seu método à sua formação inicial de físico, todavia, é o “sistema nervoso”
que constitui o principal sistema explicativo do método nos discursos de Feldenkrais
e dos seus herdeiros. Em Body-Mind
Centering, o trabalho sobre os tecidos alimenta-se de um imaginário
biológico (o movimento das células, por exemplo). Para Lily Ehrenfried, o
quadro referencial parece, antes de tudo, ser biomecânico, vários esquemas em
sua obra ilustram o efeito da força gravitacional sobre a postura. Porém, a
meta é quase sempre o psiquismo e a melhora dos órgãos – pulmões e sistema
digestivo - em termos bem medicinais. E no caso
do psiquismo, o vocabulário se inspira diretamente na psicanálise.
Mas a ciência não se contenta em servir
como sistema explicativo. Ela vem, também, como um animal doméstico, alojar-se
em momentos precisos numa sessão individual ou coletiva. Deste modo, para
explicar as transformações da percepção e da postura, familiares aos alunos de
Feldenkrais ou de outros métodos centrados nas coordenações, não é raro escutar
uma explicação sobre o funcionamento sináptico e as assembléias neuronais,
aquelas famosas “novas conexões” que, supostamente, se realizariam durante uma
sessão. E, se certos métodos se reivindicam explicitamente como “educativos”, em vez de terapêuticos,
isto não impede o praticante de usar exemplos da área clínica.
Todavia, essa relevância dada ao discurso científico não significa necessariamente
(e até raramente) recorrer às referências: mesmo quando o autor está claramente
informado da atualidade científica (por exemplo, debates sobre a percepção e a
lateralização na obra de Feldenkrais), e mesmo quando seu próprio trabalho
carrega as marcas da pesquisa, da hesitação e procede por hipótese/verificação,
a ciência no discurso “representa” uma forma de verdade, homogênea, não
historiada, de certa forma eterna. Enfim, o discurso científico, tal como usado
nas práticas, não atestaria necessariamente o valor científico do trabalho
empreendido, e, ainda menos, uma atitude
eventualmente científica do seu autor. Sua função não seria a de introduzir uma
dúvida, nem de situar a prática em questão, no quadro dos debates científicos
em curso. Não teria necessidade de apoiar-se nas argumentações tradicionais da
ciência - descrição das experiências que permitiram sustentar tal argumento,
circunscrição dos limites nos quais o argumento é válido, apresentação eventual
das hipóteses contraditórias. Sua função no interior da prática seria a de
permitir uma relação de “crença”. Enquanto a prática somática não para de
ressaltar as diferenças, a natureza imaterial e sempre
imaginária do sentir, o discurso científico colocaria essa experiência, às
vezes vertiginosa do indivíduo, num esquema mais amplo, aparentemente estável e
generalizado. Tratar-se-ia, então, de “acreditar” na natureza “científica”,
universal e “demonstrável” de minha experiência, a fim de fornecer um horizonte
estável e coletivo à experiência instável e singular, pela qual eu passo
durante uma sessão.
A prova pela vivência (lesão, relato de caso, exemplos)
O segundo
grande motivo discursivo situa-se do lado oposto ao precedente. Trata-se do
valor absoluto da experiência individual: “visto que esta foi minha
experiência, então, esta será a experiência de todos”. É o principal modelo que
organiza, por exemplo, a obra de Alexander - The Use of the Self [O Uso de Si
Mesmo], e um dos objetos de crítica de Michel Bernard (2001:
p.253-261) num artigo dedicado a ele.
O
Uso de Si Mesmo é apresentado como uma longa autobiografia que parte do
relato da “lesão fundadora” de Alexander - que era ator e sofria de afonias
recorrentes cada vez que subia ao palco - para chegar à descrição de casos que
ele tratou através de seu método, via
o longo caminho de suas próprias pesquisas, fracassos e limites. Aqui, é sem
dúvida a duração dos fracassos sucessivos e, finalmente, a persistência e
tenacidade da pesquisa que legitimaram toda a empreitada.
Na forma oral ou escrita, esse “relato
fundador” parece ser presente e constitutivo de vários métodos: a voz de
Alexander, a fraca constituição de Elsa Gindler, o joelho de Feldenkrais, os
reumatismos de Gerda Alexander... Aqui, a legitimação vem, supostamente, não
apenas da solução positiva do relato - o fundador curou-se a si próprio e
depois aplicou “seu método” nos outros para curá-los também - mas também da
inscrição subjetiva, “na carne” do fundador. O valor do método seria medido, de
um lado, através da extensão das dificuldades encontradas: assim, Alexander não
hesita em insistir sobre seus próprios erros, maus usos, compreensões errôneas,
sustentadas pela má apreensão do seu entourage,
principalmente os médicos, ao passo que Feldenkrais (1997: p.64) confessa: “Por
medo do ridículo, guardava minhas dúvidas para mim. Estava convencido de que eu
era louco...”. Por outro lado, o valor do
método seria medido pela distância entre
o início do relato (a gravidade do caso apresentado) e o fim do mesmo relato (o
sucesso da melhora). Ou seja, pelo grau de fracasso dos outros (médicos) sobre
o mesmo caso. Uma variante dessas formas de relatos é o relato do discípulo,
que combina a experiência pessoal - como me tornei aluno do mestre - e a glorificação do ensino recebido (ver, por exemplo,
os relatos dos alunos de Elsa Gindler em: “Elsa Gindler, 1885-1961”).
Outra forma de descrição de experiências é
o relato de caso; desta vez, a personagem central é o aluno (ou paciente).
Muitas vezes, ele assume o papel de vítima e a intensidade do seu drama medirá
o heroísmo do praticante-narrador que conseguirá resolver, ou pelo menos reduzir
drasticamente, o drama que todos, antes, não conseguiam aliviar. Um belo
exemplo desse modelo é The Case of Nora [Caso
Nora], de Feldenkrais, em que ele conta do início ao fim o tratamento de uma
aluna depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), as dificuldades
encontradas e – interesse principal deste relato - suas estratégias para
resolvê-las. Do mesmo modo que em O Uso
de Si Mesmo, a insistência nas dificuldades encontradas acrescenta uma
dimensão heróica ao relato, cujo protagonista
é o fundador. Mas o personagem central pode ser também um anti-herói, cheio de representações aberrantes e de atitudes
lamentáveis, cujas convicções perante seus próprios problemas refletem a
incompetência e a falta de raciocínio dos praticantes precedentes, na maioria
dos casos médicos, ou parentes, que o levaram até a sua situação atual. O
narrador, então, aparece como aquele cujo saber, resistente aos saberes
dominantes, é o único a superar todos esses preconceitos lastimáveis.
Na literatura secundária, o relato de caso
ocupa sem dúvida um lugar destacado, tanto por repetir a tradição dos
fundadores, quanto por ser também uma figura de retórica científica, médica e
psicanalítica (ver, por exemplo, as belas obras de O. Sacks). Nela, o
narrador/praticante tende a desaparecer atrás da eficiência do método. Há menos
dificuldades, menos fracassos parciais, mas ao contrário, uma máquina bem lubrificada
(o método perfeitamente dominado pelo praticante) que responde, sem hesitações,
às dificuldades ou à demanda do aluno ou do paciente. Se esses “estudos de
caso” tendem geralmente a considerar a pessoa na sua globalidade, elemento princeps de qualquer método somático,
entretanto e muito raramente, eles são testemunhas da “técnica” utilizada pelo
praticante (por exemplo: JOHNSON, 1997). O que ele faz? Como ele toca? E como suas
ações materiais são a “encarnação”
dos modos de raciocínio do praticante? Mais uma vez, esses relatos, mesmo
testemunhando o pensamento do praticante, impõem um regime de “crença”, já que fracassam
ao relatar a experiência excluindo, assim, qualquer possibilidade de “dúvida”
ou de contestação, seja do resultado, seja da explicação desse resultado.
Se o relato do fundador, ou ainda, o
“relato da gênese” parece servir de fonte ao conjunto dos relatos de caso,
compondo um território auto-referencial que não precisa do apoio de outros
sistemas para justificar-se, uma terceira variante desse tipo de discurso
somático me parece ainda mais interessante. Trata-se de breves relatos,
utilizados como ilustrações; verdadeiros ou inventados, originários de uma
anedota vivenciada ou compostos para a ocasião, esses “exemplos-relatos” adornam
as trocas orais, as explicações sobre os métodos, tanto quanto os discursos
escritos. O método Feldenkrais, muito impregnado de cultura narrativa, faz um
uso frequente do exemplo, particularmente no ensino dirigido ao “grande
público” ou na formação de praticantes. Os exemplos podem ser escolhidos entre
situações extremas; é necessário provar um “milagre”, que precisa ser logo
comentado para, ao demonstrar a racionalidade da experiência, reforçar o poder
do método. Porém, e mais particularmente quando se endereça a um público não
especializado, pode-se preferir exemplos mais cotidianos que, apesar do seu caráter
individual (“é a história de alguém que...”) atingirá um número maior de
pessoas. Tal como numa situação canônica de Feldenkrais: se a perda de
amplitude de rotação na coluna vertebral é um tema bastante abstrato para a
maioria, o exemplo de uma aluna que “desde sempre” renunciou a estacionar dando
ré, porque não podia virar-se o suficiente para olhar para trás, exemplificará
para todo mundo os resultados positivos de uma sessão sobre esta rotação.
Apesar de serem breves e reduzidos a um estado muito esquemático, esses relatos
seguem as mesmas regras dos dois primeiros gêneros citados acima. Sempre contar
a história de uma pessoa que encontrou uma dificuldade insolúvel e que, graças à
intervenção de um praticante e de seu método, resolveu essa dificuldade. De
certa forma, um perfeito modelo narrativo que, como nos contos de fadas, tem
sempre um final positivo, carregado de um significado moral mais ou menos
decifrado dentro do próprio relato.
O relato e o exemplo aparecem, então, como
figuras-chave para a transmissão do conhecimento somático. Quase sempre, são
feitos para designar uma experiência na qual os destinatários poderão
reconhecer-se. Dessa forma, dispensam o autor (ou o orador) do sistema de
explicação que, de outro modo, ele deveria revelar. Então, como nos contos de
fada, ou ainda como nas parábolas do discurso religioso, eles podem precisar de
explicação, o que é frequentemente o caso nos contextos de formação, mas podem
também dispensá-la. Ou seja, em vez de ilustrar a teoria, eles permitem a
economia da mesma.
Thomas Kuhn (1983), por sinal, descreveu um fenômeno parecido. No campo científico, uma
área de conhecimento e uma comunidade no contexto de um paradigma científico se
constituem menos a partir de uma explicação do conjunto de regras que definem
esse campo, contrariando nossa crença, do que a partir de um conjunto de
exemplos compartilhados, que ilustram e, frequentemente, “fazem o papel” da teoria. Esses
exemplos canônicos estabelecem uma base em comum que os jovens cientistas
adquirem no decorrer de sua formação e é o que lhes permite, de certa forma,
“conhecer as regras” sem serem capazes e, sobretudo, sem precisar explicitá-las
(KUHN, 1983: p.75-77).
Se pudéssemos comparar os discursos
somáticos e científicos, o livro de Kuhn nos interessaria em um ponto
particular, o da impermeabilidade do paradigma. A estruturação dos discursos
somáticos através do relato de caso, em suas diferentes variações, conduz a um
modo de elaboração dos conhecimentos que exclui justamente o que se pretende
alcançar, ou seja, a “verificação”. A perspectiva mais profunda do relato
somático, seu ponto de fuga, é sempre um relato somático anterior, cujo ponto
de origem intransponível seria a história
pessoal - a biografia ou autobiografia - do fundador. Paradoxalmente, esses
relatos são, na maioria das vezes, bastante pobres em elementos especificamente
“somáticos”, aprende-se muito pouco sobre a experiência do sujeito central, em
matéria de “consciência” de sensações. Embora esses relatos descrevam muitas
vezes as transformações de postura ou de uma função (respiração, digestão,
motricidade em geral), essa descrição é sempre feita do ponto de vista do
observador, eventualmente confirmada por alguma medição feita pelo médico... E
se, como para as ciências, os exemplos e as questões colocadas podem ser
tomadas de todos os campos do conhecimento (da natureza, diria Kuhn para as ciências),
no caso dos discursos somáticos, as estratégias para resolver os problemas e as
explicações são levantadas, estritamente, no interior do paradigma. É o que faz
com que – de forma às vezes bastante cômica – um mesmo sujeito, ao expor seu
“problema” de postura ou de movimento a vários praticantes de métodos distintos,
receba uma explicação completa, a partir de modelos explicativos totalmente
diferentes. Ao passo que para um praticante sua escoliose será atribuída a um
problema de percepção, para o outro, a causa será o fígado, já para o terceiro,
será um problema biomecânico na sua configuração vertebral, etc.
Das crenças do sujeito aos objetos do saber: as técnicas do discurso [consideradas]
como técnicas do corpo
Dois grandes modelos sustentam, portanto,
os esforços de legitimar o campo somático: o discurso científico, de um lado, e
o relato de experiência, de outro. O grande paradoxo do discurso somático é
trazer esses dois modelos, aparentemente antagônicos, para um só uso ou uma
única função. Pode-se entender melhor esse paradoxo se retomarmos as raras,
porém preciosas, tentativas de teorização produzidas pelos próprios
praticantes. Tendo em vista seu esforço para definir o corpus dos “métodos somáticos”, Thomas Hanna insiste no que constitui
um traço comum a todos esses métodos: considerar o sujeito na “primeira pessoa”,
conforme sua expressão. Carl Ginsburg (1996) retoma esse tema num artigo com
título promissor: “Is there a science to
the Feldenkrais Magic”? O argumento, tanto para um como outro, repousa nas
condições de observação: a observação “científica” caracteriza-se por uma
vontade de objetividade, ou seja, a possibilidade de repetir a experiência e a
observação, seja qual for a percepção do sujeito. Ao contrário, a prática
somática consiste precisamente em levar em conta tanto a observação objetiva
(por exemplo, a postura do aluno tal como “vista” pelo praticante), quanto a
percepção subjetiva do praticante e do aluno. Por exemplo, muitos Rolfers11
[Rolfistas] iniciam um tratamento através de uma tomada de fotos do paciente,
só com as roupas de baixo e em pé, de acordo com
um protocolo fotográfico estrito (fotografia de costas e dos dois perfis) e concluirão
a mesma série retomando as fotografias nas mesmas condições. Entre essas duas sessões
fotográficas, desenvolve-se o diálogo do sentir entre paciente e praticante
(para um relato do que acontece, “do ponto de vista do praticante”, entre esses
dois momentos, ver “Rolfing” de Micheal J. Salveson, em Groundworks).
As práticas somáticas estão precisamente no
interstício entre dois paradigmas cognitivos, duas modalidades do conhecimento,
sabidamente opostas: uma é a que “faz conhecer” verdades estáveis e repetíveis:
a ciência. A outra é aquela do saber sensível, do conhecimento empírico,
singular, infinitamente variável, que derrota todas as medições visto que,
precisamente, só se compara a si mesmo.
Portanto, no campo somático é o regime da
crença que parece determinar a produção do discurso. Se tal regime é
dificilmente admissível no outro mundo discursivo, que é o da academia, podemos
questionar sua função no seu ambiente natural, ou seja, aquele das técnicas. Já
vimos que grande parte do discurso somático direcionado para alunos ou
pacientes, tem a intenção de convencer e explicar práticas que se apresentam
sempre como “alternativas”, ou até mesmo subversivas, diante de uma ordem
dominante do corpo (médico, científico, social, etc). Mas qual é seu objetivo
de eficiência? Basile Doganis (2006), com base em James e
Bourdieu, sugere que a crença faz parte do próprio gesto. Questionando as
formas de teorização que acompanham as artes gestuais japonesas, e intrigado
pelas contradições aparentes que podemos encontrar em manuais relativos a uma
mesma técnica, até dentro de um mesmo manual, sugere que a “crença” é
constitutiva e condicional da eficiência do gesto. Do ponto de vista
eminentemente pragmático das artes marciais, “deve-se crer” na eficiência da ação
engatada, e ser capaz de mudar de crença, e consequentemente, de modo de
eficiência se o contexto assim o exigir. Os
discursos teóricos produzidos pelos mestres em artes marciais parecem
contraditórios, porque são guiados por um imperativo de eficiência, e não por
um imperativo de verdade (DOGANIS, 2006:
p.237). Deveríamos, então, ler os discursos “somáticos” como discursos
performáticos, ligados a um contexto preciso e visando uma eficiência também precisa.
Nesse sentido, fazem parte integrante da prática. Eles teriam um valor não
universal, mas pontual, e seu teor de verdade só seria medido conforme o efeito
que eles produzem sobre um determinado sujeito, no seu encontro com um contexto
específico. Eles constituem, por isso, técnicas do corpo, do mesmo modo que as
práticas de onde eles emanam.
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SITES
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Notas
1 Este artigo é uma tradução parcial do texto “Discours,
techniques du corps et technocorps.
À partir et non à propos, de Conscience du corps de
Richard Shusterman”, publicado em: À l(a)'(r)encontre de la danse contemporaine: porosités et résistances, (dir.) de Paule Gioffredi, collection Le corps en
question. Paris: L'Harmattan,
2009. A versão em inglês “From
Shusterman’s Somaesthetics to a Radical Epistemology of Somatics” foi
publicada no Dance Research Journal, Vol. 42, Nº 01, p.12-29, Verão [Summer] 2010. [N.E.].
2 Ver Early Works 1,
no link: <www.youtube.com/watch?v=7apowAv85vs&feature=related>
[N.E.].
3 Moshe Feldenkrais (1904-1984): fundador do
“método Feldenkrais” que se pratica em sessões coletivas (Tomada de consciência pelo movimento) ou individuais (Integração funcional). No primeiro caso,
o instrutor guia o movimento, principalmente por indicações verbais e, no
segundo caso, principalmente pelo toque; trata-se de um método educativo (e não
terapêutico), que busca a melhoria das coordenações a partir de um repertório
muito variado em combinações, muitas vezes no chão e em todos os planos do
espaço.
4 F. Mathias Alexander (1869-1955): fundador do
método Alexander. Trata-se de uma técnica de reorganização das coordenações que
questiona os costumes não-conscientes do movimento. A coordenação
cabeça/pescoço é fundamental e seu bom funcionamento é denominado “controle
primário”. É praticado, principalmente, em sessões individuais.
5 “Speaking as a
pupil, it was because of this fact as demonstrated in personal experience that
I first became convinced of the scientific quality of Mr. Alexander's work. Each
lesson is a laboratory experimental demonstration. [...] In re-affirming my
conviction as to the scientific character of Mr. Alexander's discoveries and
technique, I do so then not as one who has experienced a ‘cure’ but as one who
has brought whatever intellectual capacity he has to the study of a problem.” (DEWEY, John in ALEXANDER, F.M. The Use of the Self, Copyright E.P. Dutton & Company, 1932, s/p.
Disponível em: <www.alexandercenter.com/jd/johndeweyus.html>). [N.T.].
6 Bonnie
Bainbridge Cohen (1943): fundadora do Body-Mind
Centering (BMC). O BMC trata da reorganização dos diferentes tecidos corporais
a partir da estruturação do corpo em dez grandes sistemas: esqueleto,
ligamentos, músculos, órgãos, glândulas endócrinas, sistema nervoso, líquidos,
fáscias, gordura e pele. Cada sistema pode ser alcançado através de um tipo
específico de toque.
7 Elsa Gindler (1885-1961): professora e
fundadora de uma prática cujo nome varia (muitas vezes conhecida como
“ginástica do homem que trabalha”, título do único
texto de Gindler que foi conservado). Ela
nunca “fez escola”, mas marcou profundamente vários dos seus alunos que
fundaram seus próprios sistemas, porém rendendo homenagem ao sistema de
Gindler. (Charlotte Selver; Lily Ehrenfried, notadamente).
8 Lily Ehrenfried (1896-1995): aluna de Elsa
Gindler e fundadora da Ginástica Holística, método de ginástica “pedagógica,
preventiva e terapêutica”, fortemente inspirada no ensinamento de Elsa Gindler
de quem Lily foi aluna. A prática apóia-se principalmente no uso de objetos
(bastões, tapetes, suportes) e visa essencialmente uma melhor organização em
relação à gravidade.
9 Charlotte Selver (1901-2003): aluna de Elsa
Gindler e fundadora da Sensory Awareness, método muito difundido nos
Estados Unidos e que liga práticas corporais a psicoterapias.
10 O trecho se
refere à tradução em francês (FELDENKRAIS, 1971: p.98), que difere tanto da
publicação posterior em inglês (FELDENKRAIS, 1972: p.48) – “I believe that we are living in a historically brief transition period
that heralds the emergence of the truly human man”; quanto daquela em
português – “Creio que vivemos em um período de transição, historicamente
breve, que prenuncia a emergência de um homem verdadeiramente humano”
(FELDENKRAIS, 1977: p.69), em virtude do acréscimo da última frase: “Il ne semble pas exclu que
nous y assistons”. [N.T.].
11 Ida Rolf (1896-1979): fundadora da
integração estrutural, mais conhecida como “Rolfing”. Método manual visando um
alinhamento otimizado em relação à gravidade, a partir do reequilíbrio e
estiramento das fáscias, a camada dos tecidos “maleáveis” que envolvem os
músculos, tendões, órgãos, etc.
ISABELLE
GINOT é Profa. Dra. no Departamento de Dança da
Universidade Paris VIII e atuou nos últimos anos como crítica de dança
contemporânea. Praticante da Técnica de
Feldenkrais, desenvolve trabalho de adaptação deste método para bailarinos
assim como para a análise do movimento. Autora de numerosos artigos sobre dança
e técnicas somáticas para a imprensa especializada, publicou os livros: La Danse au XXième siècle, de M. Michel et I. Ginot,
(Bordas: 1995), Larousse: 1998, 2002;
Dominique Bagouet, un labyrinthe dansé - essai d'analyse de l’oeuvre
chorégraphique, I. Ginot,
Pantin, éd. CND, 1999.
ISABELLE
GINOT is Professor at the Dance department of Université Paris VIII and
has been a dance writer and theoretician for many years, contributing to French
newspapers and international dance magazines. She has collaborated with various
dance companies, theaters and festivals and wrote several books on dance, such
as: La Danse au XXième
siècle, M.
Michel and I. Ginot, Paris (Bordas: 1995), Larousse: 1998, 2002; Dominique Bagouet, un labyrinthe dansé -
essai d'analyse de l’oeuvre chorégraphique, I. Ginot, Pantin, éd. CND, 1999. Isabelle Ginot is also
a certified Feldenkrais practitioner and is currently working in conjunction
with the Movement Analysis discipline to adapt this method to the needs of
dancers.