ESCOLA DE TEATRO MARTINS PENA - A PRIMEIRA ESCOLA
DE TEATRO NO BRASIL
MARTINS
PENA THEATER SCHOOL - THE FIRST THEATER SCHOOL IN BRAZIL
Elza de Andrade
(UNIRIO)
Resumo
A primeira escola de teatro
brasileira foi criada em 1908, no Rio de Janeiro. Ela nasceu atrelada à
construção do Teatro Municipal e Coelho Neto foi seu primeiro diretor. O
currículo inicial apresentou cinco cadeiras, sendo quatro professores membros
da Academia Brasileira de Letras. Essa escola existe até hoje com o nome de
Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, localizada no centro do Rio de
Janeiro. Sempre envolvida em muitas dificuldades, a sua permanência é uma
grande vitória dos seus alunos, funcionários e professores.
Palavras-chave | Escola de Teatro Martins Pena | formação do ator
Abstract
The first Brazilian Theater School was created in 1908 in Rio de
Janeiro. It was born together with the construction of the Municipal Theater
and its first director was Coelho Neto. The initial
curriculum presented five chairs, four of which were given by members of the
Academia Brasileira de Letras.
This school still exists today under the name of Escola
Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, located in downtown Rio de Janeiro.
Always involved with many difficulties, its survival is a great victory of its
students, employees, directors and teachers.
Keywords | Theater School
Martins Pena | actor training
A formação do ator, além de permanente se
dá em vários níveis, sendo a escola apenas um deles, porém, são raros os
depoimentos sobre esse tema. Essa quase ausência de documentação e bibliografia
não é uma lacuna apenas no teatro brasileiro, a francesa Odette Aslan (1994) na introdução de seu livro sobre a evolução
técnica do ator escreve:
Há poucas publicações sobre o trabalho do ator. Ele mesmo, geralmente, explica mal o seu processo de pesquisa, a utilização consciente de seus meios de expressão. Quando escreve memórias, limita-se a contar casos. Não consegue reconstituir detalhadamente o itinerário que seguiu para construir um papel difícil (ASLAN, 1994: p. xvii).
Outro
francês, o sociólogo Jean Duvignaud (1972: pp. 13-33),
que estuda o teatro e o ator do ponto de vista da história da sociedade aponta
para a extensão do termo ator que caracteriza uma realidade mais ampla que tem
na expressão dramática apenas um aspecto. Para ele o conceito de ator é
inseparável do conceito de papel social. O teatro, nas suas diferentes épocas,
sempre apresenta uma fusão das diversas consciências ou identidades sociais,
independentemente da qualidade artística das obras. Consequentemente,
quando uma sociedade se transforma, o ator e a função do próprio teatro
adquirem novos significados.
O
alemão Werner Jaeger em sua obra sobre a formação do homem grego destaca que a
comédia ática, que tem em Aristófanes o seu maior representante é
“a mais completa
representação histórica do seu tempo. Nesse sentido, nenhum gênero de arte ou
de literatura se pode comparar a ela [...]. Um de seus valores consiste em nos
apresentar conjuntamente o Estado, as idéias filosóficas e as criações poéticas
na corrente viva destes movimentos. Assim deixam de aparecer como fenômenos
isolados e sem relação mútua, para se integrarem na dinâmica da sua influência,
dentro das circunstâncias do tempo” (1989: p. 287).
Observação
semelhante faz Silvio Romero (1953: p. 1.477, v.IV) sobre a obra de Martins
Pena: “Se se perdessem todas as leis,
escritos, memórias, da história brasileira dos primeiros cinqüenta anos deste
século XIX que está a findar, e nos ficassem somente as comédias de Pena era
possível reconstruir por elas a fisionomia moral de toda essa época”.
Partindo
desta relação entre teatro e história é possível dizer que o ator –
ampliando o sentido da palavra para abranger todos aqueles que de alguma forma atuam na construção da cena –
apresenta em sua formação estruturas análogas às da sociedade da qual faz
parte.
O Rio Civiliza-se1
Em 1900 o Rio de Janeiro ainda se
encontra como nos velhos tempos do império, com suas ruas estreitas, sujas e
becos onde se amontoa o lixo. Ligando os bairros existem os bondes, alguns são
elétricos mas, a maioria dos veículos é velha, desconfortável e puxada pelo
tradicional par de burrinhos. Além dos bondes, o transporte é feito também por
carroças, charretes e tílburis (o veículo preferido
na época). E os carros, puxados por braços humanos, são muito comuns. Em 1903
apenas seis automóveis circulam pelas ruas; ao final da década este número
chegará a seiscentos e quinze veículos.2
As ruas estão cheias de vendedores: são
os “burros-sem-rabo” (um tipo de vendedor ambulante).
A cidade é uma imensa feira e no Largo da Sé 3
o comércio é intenso. Em 1900 a população carioca não chegava a seiscentos mil
habitantes, porém não há empregos para todos e mais de cinqüenta por cento é
obrigada a viver de pequenos expedientes e a vender nas ruas, as mais diversas
mercadorias.
As casas de tijolo e alvenaria não são
suficientes para abrigar toda a população. Muita gente é obrigada a morar em
favelas ou cortiços. A favela é um conjunto de barracos construídos nos morros;
não há esgoto nem água.4 Seus
habitantes são malandros, boêmios, ladrões ou os velhos. As mulheres lavam ou
costuram “para fora”, as crianças vendem pela cidade, doces, balas e jornais e
a grande maioria é de negros. Além dos cortiços e das favelas, existem também
casas velhas cujo aluguel é caríssimo. Uma reduzida elite vive nos elegantes
palacetes de Botafogo e Laranjeiras. Mas próximo ao centro e nos subúrbios, uma
nascente classe média constrói suas residências.
Os temporais que desabavam na cidade
durante o verão deixam-na em estado de calamidade. Qualquer chuva produz uma
inundação. Alguns bondes ficam submersos e saem fora dos trilhos. O comércio
fecha as portas e os teatros suspendem os espetáculos.
São poucos os hospitais e o chefe de polícia Sampaio Ferraz
encaminha ao Ministro da Justiça um relatório que aponta alguns dos principais
problemas da cidade: a capoeira, a prostituição, a mendicância e o menor
abandonado.5
Ao
que consta, a febre amarela foi introduzida no Rio por um cargueiro
norte-americano, e as péssimas condições de higiene foram um solo fértil para o
mosquito transmissor da doença. Em 1902 foram registrados novecentos e oitenta
e sete óbitos entre a população pobre. Calcula-se que oitenta por cento dos
imigrantes morreram desta doença. Companhias de teatro inteiras faleceram. E se no verão a cidade é invadida pela
febre amarela, no inverno há a varíola (3.566 óbitos em 1904). E além da
cólera, a multiplicação dos ratos é uma ameaça permanente de peste bubônica. É
necessário sanear e modernizar a Capital Federal, abrindo o caminho para o
progresso. O Brasil precisa entrar no século XX.
A intenção era a de tornar o Rio uma “Europa possível”, e para isso era necessário esconder ou mesmo destruir o que significava atraso ou motivo de vergonha aos olhos das nossas elites. Vielas escuras e esburacadas, epidemias, becos mal afamados, cortiços, povo, pobreza destoavam visivelmente do modelo civilizatório sonhado (VELLOSO, 1988: p. 11).
Para modernizar a
Capital Federal, atrair imigrantes e investimentos do exterior, é preciso
tratar da urbanização. Pereira Passos assume a Prefeitura em janeiro de 1903,
com plenos poderes para remodelar o porto, alargar as ruas mais movimentadas,
derrubar os cortiços, desafogar o centro. Começa o “bota-abaixo”.
Muitos cortiços são destruídos e seus habitantes têm de se mudar para muito
longe de seu trabalho. Em nove meses desaparecem seiscentos e quatorze prédios.
De fevereiro a outubro de 1904, o centro da cidade parece uma área bombardeada:
pedras amontoam-se nas ruas e no porto.
Em março de 1903
o governo nomeia o médico Oswaldo Cruz, diretor da Saúde Pública. Oswaldo Cruz
impõe a vacinação obrigatória contra a varíola, ato taxado como “impudente
tirania” que desencadeia a Revolta da Vacina, pondo a cidade em estado de
sítio. Uma vacina chamada de “túmulo da liberdade” é o pretexto desta revolta:
fala-se em derrubar o governo. A imprensa espalha o boato de que a vacina em
vez de imunizar, provoca a varíola. Enquanto isso, as Brigadas Sanitárias
entram nas casas e vacinam as pessoas a força. Vaiado pelos garotos dos
cortiços, motivo de piadas, o sanitarista é identificado como o culpado pela
difícil situação em que se encontram as camadas populares, como muito bem
ilustra a modinha cantada na ocasião:
As pobres mães choravam
E gritavam por Jesus
O culpado disso tudo
É o doutor Oswaldo Cruz (apud João do Rio, 1952: p. 211).
Três anos mais tarde, o carioca já pode
se orgulhar de viver na “cidade mais linda do mundo”. A nova Avenida Central (atual
Avenida Rio Branco, no Centro) é o eixo do mundo das altas finanças, da cultura
e dos passeios elegantes. Além disso, reúnem-se nos cafés da avenida grupos de
intelectuais, jornalistas e comerciantes. A cidade carioca que mais parece um
pedaço da Europa, vive uma nostalgia parisiense. Em pouco tempo, as largas
avenidas exibem a mais nova conquista técnica: o automóvel. Em 1906 existem
trinta e cinco veículos circulando e quatorze garagens.
O francesismo domina as idéias da
literatura, da educação, da moda, das diversões. A própria reurbanização
introduz a arquitetura art nouveau. Mas, paralelamente há uma crescente reação
nacionalista, que vem desde 1890, e que visa principalmente a valorização do
homem brasileiro.
Desde 1906 toda a cidade dispõe de luz
elétrica e de diversas linhas de bonde. Delso Renault
(1982: p. 47) atribui à renovação dos meios de transporte as transformações no
lazer do carioca. Com a facilidade de deslocamento da população dos bairros
para o centro e para os arredores, aumentam os passeios, as idas ao teatro, as
visitas e o interesse pela vida mundana.
Estão na moda as conferências literárias
e em 1907 elas se igualam ao teatro lírico na preferência do público. Acontecem
no Instituto de Música e os temas são os mais variados: Luiz Edmundo fala sobre
a Psicologia do Bonde e João do Rio
sobre a Delícia de Mentir.
Terminadas todas as reformas é preciso
dar uma festa que atraia os estrangeiros e mostre ao mundo a capital
brasileira. Esta festa foi a Exposição Nacional de 1908, organizada para
comemorar os cem anos de abertura dos portos brasileiros. A inauguração foi a
11 de agosto de 1908, na Praia Vermelha, numa área de grande beleza natural,
entre os morros da Urca e da Babilônia. Foram construídos imponentes edifícios6
que ocupavam uma área de cento e oitenta e dois mil metros quadrados e que
serviram para que os diversos estados brasileiros pudessem exibir sua produção
agrícola, industrial e artística. Além de apreciar os produtos e riquezas do
país, os visitantes também podiam se divertir nos dois restaurantes, no teatro,
no cinematógrafo ou no ringue de patinação. Em 1908, Coelho Neto cria um título
para a cidade modernizada: “Cidade Maravilhosa”, mais tarde cantada como
“coração do meu Brasil”, pela marchinha famosa.7
Sem dúvida, de acordo com o refrão que
Figueiredo Pimentel celebrizara, “O Rio Civiliza-se”.
O Teatro no Rio de Janeiro de 1908
Segundo Galante
de Sousa (1960: pp. 188-189, v.I), no período compreendido entre 1884 e os
primeiros anos do século XX, é nítido o predomínio na cena nacional da opereta
e da revista. O período anterior foi ocupado pelo Realismo, importado da França
e que se desenvolveu no Brasil em duas correntes principais: os dramas de
casaca e a comédia. Os dramas de casaca – como eram chamados pelo povo,
porque os atores apareciam vestidos com roupas modernas e não mais com o
figurino de época das peças antigas – era o teatro de tese social e de
análise psicológica. Tudo indicava que as idéias do Naturalismo, transpostas
para a cena pelo diretor André Antoine, no Théâtre Libre de Paris, em 1887, viriam a
seguir. Porém, foi na comédia onde melhor se estabeleceram os princípios
realistas e o gosto do público:
Não só porque este gênero está muito mais perto da vida real do que o drama, como observou Bergson, mas também porque, a essa época, o nosso público já se achava preparado para “assistir, com prazer, à dissecação das suas mazelas, sob a forma de comédia de caráter” (SOUSA, 1960: p. 189, v.1).
Para Flávio
Aguiar (1984: p. 16) a discussão a sério de nossas condições sociais seria
atribuição do drama ou da tragédia, porém esses dois gêneros apresentavam uma
série de dificuldades técnicas de construção, além da necessidade de que os
problemas e suas causas fossem apresentados de maneira consistente, pois
constituíam os seus principais temas. Entretanto estes mesmos problemas eram
mais fáceis de lidar na comédia, onde até se aceitava o atraso brasileiro, na
medida em que o riso revelava um sentido positivo e uma esperança de superação
das mazelas nacionais.
E então deixando para trás trinta anos de dramalhão e dez anos de peças de tese, voltamo-nos para outros gêneros de espetáculos, mais leves e de natureza bem menos literária, importados diretamente de Paris, ou com a intermediação de Portugal: o vaudeville, a revista, o café-concerto, a mágica (feérie) e a opereta. O Rio de Janeiro tentava ultrapassar o próprio provincianismo, importando a boêmia parisiense e os gêneros de sua vida noturna (ARÊAS, 1990: p. 89).
Nos
primeiros anos do século XX a população carioca chegava aos oitocentos mil
habitantes, e em 1908 funcionavam oito teatros no Rio de Janeiro.
Relacionando-se a lotação destas casas de espetáculo, que na sua maioria
ultrapassa o milhar, a uma tão reduzida população é fácil perceber que o teatro
era o centro da vida social da cidade, quase o seu único divertimento coletivo:
Lírico 1.621 lugares; Apolo 1.455; Recreio 1.313; Carlos Gomes 1.217; Palace 1.155; São Pedro 1.131; Exposição 930; Lucinda 609.
O número de lugares mais baratos constituía cerca de cinqüenta por cento da
lotação total na maioria dos teatros, o que indica a presença de um público
menos abastado.
É
revelador acompanhar a temporada teatral carioca no ano de 1908 que marca o
surgimento da Escola Dramática Municipal, a primeira escola de teatro
brasileira. É um período no qual os intelectuais e a imprensa não se cansam de
chamar atenção para a decadência do teatro nacional, para a necessidade da
criação de uma companhia brasileira e de uma escola de arte dramática, ao mesmo
tempo em que muitos espetáculos lotam e agradam, tornando a ida ao teatro,
provavelmente, um dos melhores programas da cidade.
O carioca do começo do século ama particularmente o teatro. E o freqüenta com a maior assiduidade. Só não possui boas casas de espetáculo. [...] Em compensação – e isso é pelo menos um consolo – sobejam os atores, peças, empresários e até público (EDMUNDO, 1957: p. 429, v.2).
A
Escola Dramática Municipal
As reformas da cidade pedem a renovação
do seu teatro, centro da vida cultural e social carioca. A necessidade da
criação de uma escola dramática passa a ser decisiva na campanha de recuperação
da cena nacional. O ator brasileiro, até então nascido e formado dentro das
companhias, em cima das “tábuas” do palco, passa a ter uma escola, oficialmente
criada pelo governo e vinculada ao seu mais importante teatro, o Teatro
Municipal.
Em 13 de janeiro
de 1908 é aberta concorrência pública para a administração do Teatro Municipal,
oferecendo-se uma subvenção anual de cento e vinte contos de réis. Dentre as
condições a serem cumpridas estão a criação de uma companhia nacional e de uma
escola dramática.
Em 1911, forma-se
a primeira turma de alunos da Escola Dramática Municipal, a primeira escola de
teatro brasileira. A 15 de abril de 1910, Coelho Neto, o seu primeiro diretor,
profere o discurso de sua inauguração. Dos cento e trinta e oito candidatos
inscritos, trinta foram aprovados em novembro de 1913, mas, apenas quatro se
tornaram, efetivamente, atores profissionais.
É fácil prever
que a escola recém criada vai servir à classe que via no teatro europeu
importado a sua melhor representação, pois, no mesmo estilo da reforma urbana
que copiava a arquitetura francesa, a Escola Dramática Municipal também vai
organizar seu currículo seguindo o modelo europeu de teatro.
A Escola
Dramática Municipal organiza seu primeiro corpo docente quase todo ele de
“imortais” da Academia Brasileira de Letras. Com exceção, dos professores da
disciplina “Arte de Representar” – que eram diretores de teatro –,
todos os outros pertencem à ABL. Possivelmente, esse elenco de professores
tenha sido escolhido com o objetivo de dar credibilidade à escola e, de atrair
jovens da classe burguesa, que certamente, se sentiriam mais bem orientados por
um corpo docente tão ilustre. Mas, também podemos perceber nessa escolha uma
tendência à formação de um profissional à altura do grande teatro burguês,
sério e erudito, aquele que diz com perfeição as palavras do texto. É evidente
que essa proposta de formação contraria o repertório de peças em cartaz na
cidade do Rio de Janeiro, naquela ocasião, eixo centralizador das temporadas
teatrais do país. Na primeira década do século XX, as temporadas estão lotadas
de espetáculos de teatro de revista e comédia de costumes, gêneros considerados
“menores” pela “inteligenzia” carioca, que, em sua
maioria, apenas se satisfazia freqüentando as companhias estrangeiras que nos
visitavam.
A primeira turma freqüentou cinco cadeiras que
foram oferecidas ao longo do curso: Prosódia (Professor João Ribeiro), Arte de
Dizer (Professor Alberto Oliveira), História do Teatro e Literatura Dramática
(Professor Coelho Neto), Arte de Representar (Professor Cristiano de Souza e
Eduardo Victorino) e Fisiologia das Paixões
(Professor Fernando Magalhães).
O professor João
Ribeiro (Prosódia) foi dono de uma
vastíssima produção intelectual e artística. Nascido em 1860, em Sergipe, se
muda para o Rio de Janeiro, em 1881, e durante toda a vida exerceu o jornalismo
e o magistério de História e Português.
Professor a partir de 1890 do Colégio Pedro II, dedicou-se desde cedo
aos estudos filológicos em que se tornou uma autoridade. Em 1898 é eleito para
a Academia passando a ocupar a cadeira no 31.
O professor
Alberto de Oliveira exerceu vários cargos públicos ligados ao ensino: Diretor
Geral da Instrução, Professor de Português e de Literatura Brasileira. Teve
muito prestígio nos meios literários e foi membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, ocupando a cadeira no8, a partir de 1897.
Do programa da
sua cadeira “Arte de Dizer” constavam os seguintes tópicos:
1o
ano: A voz, o ritmo, a expressão (exercícios de dicção em prosa);
2o ano:
Teoria do verso (leitura em voz alta e dicção de poesias, emoção dramática);
3o
ano: Estética do verso, o diálogo, a interlocução (exercícios de dicção
poética, a poesia dramática).
O professor
Coelho Neto (História do Teatro e Literatura Dramática) é um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira no2 e, eleito em
1926 seu presidente. Foi o diretor e professor da Escola desde a sua fundação
até a sua morte em 1934.
A cadeira “A arte
de representar” foi ministrada por vários professores em seus primeiros anos
mas, sempre profissionais ligados ao teatro. Mas, de todos estes professores,
apenas Eduardo Victorino deixa um material escrito e
sistematizado sobre suas aulas, que é publicado em 1912 com o título de Compêndio da Arte de Representar sendo
reeditado e ampliado em 1916, com o nome de Para
Ser Ator.
Eduardo Victorino nasceu em 1869 em Portugal. Radicou-se no Rio de
Janeiro, onde foi por muitos anos empresário, autor e diretor teatral. É
considerado um dos pioneiros da remodelação da cena brasileira, inspirando-se
em Antoine. O seu livro Para ser ator,
composto por 115 verbetes, ensina noções básicas de: rudimentos de marcação,
como se estuda um papel, subsídios para bem estudar, expressões fisionômicas, a
voz, o ouvido, memória, estética, arte de vestir, caracterização e conselhos,
axiomas, vocabulário teatral.
E, finalmente, o
professor Fernando Magalhães, responsável pela cadeira intitulada “Fisiologia
das Paixões”, foi um renomado médico, professor e diretor da Maternidade do Rio
de Janeiro, diretor da Faculdade de Medicina e Reitor da Universidade do
Brasil. Ocupou, a partir de 1926 a cadeira no33 da Academia
Brasileira de Letras, sendo seu presidente de 1929 a 1932. Atualmente, uma de
nossas mais importantes maternidades municipais, localizada no bairro de São
Cristóvão, zona norte do Rio de Janeiro, leva o seu nome.
Fernando
Magalhães escolheu um de seus alunos – Ulysses Martins – para
organizar os pontos de aula para melhor orientação dos estudantes. Este
trabalho de Ulysses Martins resultou num livro curiosíssimo intitulado A Escola no Palco, publicado em 1914. O
livro é mais um precioso documento desta época. Minucioso em suas descrições de
emoções e envenenamentos, chega mesmo a diagnosticar um tumor cerebral em
Hamlet, o que justificaria o comportamento incoerente e desequilibrado do
personagem shakespeariano.
A Escola 100 anos depois...
Site de um pequeno documentário sobre a Martins
Pena, onde eu também sou entrevistada.
Em 2008 a Escola
completou seu centenário de criação, sendo a única instituição de nível médio,
gratuita, do Estado do Rio de Janeiro. São cem anos de muitas lutas e uma
enorme determinação de seus alunos, professores e funcionários para fazê-la
continuar existindo.
Em 1935, após a
morte de Coelho Neto, assume a direção Oduvaldo
Vianna permanecendo até 1939. Neste período chamou-se Escola Dramática Coelho Neto numa homenagem a seu fundador.
Além das diversas
diretorias, esteve localizada em muitos endereços: inaugurada no Teatro
Municipal, pouco tempo depois se mudou para o Instituto de Educação, em seguida
para o Teatro João Caetano, depois para a Escola Venezuela, tendo estado também
em cima da Biblioteca Municipal.
Em 1948, Renato
Vianna assume a direção da escola sendo responsável por sua reestruturação.
Renato conseguiu instalar a escola em seu endereço atual, no centro do Rio de
Janeiro, num sobrado de valor histórico que pertenceu ao Visconde e ao Barão do
Rio Branco.
Em 1953 passou a
se chamar Escola de Teatro Martins Pena,
nome que conserva até hoje. Em 1960, com a mudança da capital, tornou-se uma
escola estadual. Atualmente, pertence à FAETEC (Fundação de Apoio à Escola
Técnica do Estado do Rio de Janeiro) que vem fazendo um bom trabalho de
recuperação das instalações, organização do corpo docente e de um Centro de Memória.
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Revista da semana. Suplemento dominical do Jornal do
Brasil. Rio de Janeiro, 1908.
Notas
1 Figueiredo
Pimentel é o autor do célebre slogan
“O Rio Civiliza-se” lançado na sua coluna do jornal Gazeta de Notícias e assinada com o pseudônimo de Binóculo.
2 Em setembro de
2007, a cidade do Rio de Janeiro contabilizava cerca de dois milhões de carros.
3 O Largo da Sé
estava localizado ao lado da Igreja do Rosário, próximo à rua Uruguaiana, onde
hoje está instalado o “camelódromo”, mantendo assim a tradição do intenso
comércio.
4 O termo favela se consolidaria com os
contingentes egressos da campanha de Canudos, subitamente desengajados e
desassistidos pelo Estado. A maioria havia permanecido aquartelada no morro da
Favela, próximo à área do conflito, passando a se denominar os favelados. (apud Gonzaga, 1996 : 47).
5 É interessante
perceber como alguns dos problemas atuais da cidade do Rio de Janeiro são tão
antigos.
6 O principal
desses edifícios, chamado de Pavilhão dos Estados ou de Palácio da Exposição, é
atualmente o Museu de Ciências da Terra (pertencente ao Departamento Nacional
de Produção Mineral), na Avenida Pasteur 404, vizinho ao Centro de Letras e
Artes da UNIRIO.
7 “Cidade
Maravilhosa” foi uma marchinha composta por André Filho para o carnaval de
1935. Tornou-se o hino do município do Rio de Janeiro, na década de 1960.
Elza de Andrade é Doutora em Teatro pela UNIRIO, Professora do Departamento Interpretação e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC/UNIRIO).
Elza de Andrade has a Theater PHD at UNIRIO. She is teacher at the Department of Interpretation and at the Post-Graduate Program of Cenic Arts (PPGAC/UNIRIO).