REVISTA COMPLETA. Ano 14, Número 01: Edição julho de 2016
DOI:
https://doi.org/10.9789/1679-9887.2016.v14i1.%25pResumo
É com imenso prazer que anunciamos a mais nova edição da “Psicanálise e Barroco em revista”!Nossa décima quarta edição nos brinda com belíssimos artigos, para serem saboreados por nossos leitores. Vamos a eles!
Para abrir nossa edição com chave de ouro, o artigo “Anorexia e tragédia: o posicionamento paradoxal do sujeito frente ao Outro e ao desejo”, de Dayane Costa de Souza Pena e Roberto Calazans, a partir do fecundo diálogo entre psicanálise e tragédia, elucida o paradoxo em jogo na anorexia, pois com seu sintoma o sujeito coloca em cena ao mesmo tempo uma posição de assujeitamento ao desejo do Outro, e uma tentativa radical de separação. Os personagens de Sófocles, Édipo e Antígona, destacados respectivamente das peças Édipo Rei e Antígona darão voz a esse paradoxo próprio a todo sujeito falante, e tão caro ao sujeito anoréxico.
Ainda nesse entrecruzamento entre arte e psicanálise, tão caro a nossa revista, apresentamos o texto “Pina, Freud e Lacan: um ensaio”, de Fabíola Vieira Bertotti e Daniela Scheinkman Chatelard. Tendo como ponto de partida a obra da dançarina Pina Bausch, as autoras interrogam o laço entre corpo e linguagem, desmascarando a Coisa freudiana, das Ding, como uma hiância estrutural, que, através da dança, feita de movimentos inacabados e inéditos, expõe um potencial criador, que engendra uma nova relação e novos olhares sobre o corpo.
Ainda versando sobre a criação, Tiago Ribeiro Nunes e Tania Rivera no artigo “Freud e o mal-estar na civilização” propõem que a sublimação, em Freud seja compreendida como o que há de mais singular na experiência do sujeito com a linguagem, na medida em que possibilita a invenção e o surgimento do novo, sendo fecundo de um potencial transformador.
O corpo, esse estranho-familiar, é tema do artigo de Yvisson Gomes dos Santos, “O corpo: esse nosso amigo (des)conhecido - alguns apontamentos”. O autor envereda pelos caminhos do autoerotismo ao narcisismo, destacando o corpo em seu estatuto de incompletude, de fissuras, de falhas não unificadoras, como um (des)conhecido de todos nós. Débora Ferreira Bossa e Anamaria Silva Neves, no artigo “Uma leitura psicanalítica sobre a infância protagonizada por Górki, Ramos e Vasconcelos”, evidenciam o caráter inovador da psicanálise ao revelar que a infância é o lugar da vivência do trauma, do desamparo e da tentativa de construção de laços, os quais vão ser retomados ou ressignificados na vivência do adulto. As obras literárias “Infância” de Maksim Górki, “Infância” de Graciliano Ramos e “O Meu Pé de Laranja Lima’ de José Mauro de Vasconcelos serão uma importante ferramenta para pensarmos a infância e o infantil na psicanálise. Freud ensina que no adulto há o retorno do infantil, o que só evidencia o lugar de destaque que a psicanálise da à memória.
Nesse sentido, o artigo “Memória e experiência: um tecer de traços e impressões”, de Lana Magna Sousa Braz demarca que o reordenamento de traços mnêmicos corresponde à própria formação do aparelho psíquico. A autora da destaque a dois textos freudianos: o “Projeto para uma Psicologia para uma científica” e a “Carta 52”, esmiuçando os ensinamentos de Freud sobre a tessitura da memória.
O artigo “O retorno da letra: literatura e psicanálise”, de Gustavo Capobianco Volaco, recorre ao texto bíblico, especificamente ao Antigo Testamento e, em seguida, ao complexo trabalho de James Joyce, evidenciando a descoberta freudiana, tão salientada por Lacan: somos efeitos da linguagem, ato de inoculação significante que é violento a todo sujeito e repleto de consequências. Como efeito de linguagem, é impossível dissociar subjetividade e cultura, não em vão, Lacan indica que o psicanalista deve estar atento a subjetividade de sua época.
Nesse contexto se insere o artigo “Amplificação do discurso do capitalista no sujeito e nos laços sociais digitais”, de Patrícia do Prado Ferreira Lemos. Partindo da teoria lacaniana dos discursos, a autora aponta que os discursos do mestre, do universitário, da histérica e do analista são modos de aparelhar linguagem e gozo, condição necessária para a renúncia pulsional. Contudo, no discurso capitalista, há um apelo ao gozo que faz barreira ao laço social, o que o artigo aborda a partir das redes sociais e das peculiaridades que ali se estabelecem. Sem dúvida, a autora leva o leitor a pensar sobre a subjetividade de nossa época, e seus possíveis desdobramentos.
Ainda tratando do modo como nossa época lida com o mal-estar, o artigo “O lugar do sujeito e do gozo nos processos de medicalização dos sintomas”, de Leonardo José Barreira Danziato e Leonardo Barros de Souza, delimita as estratégias práticas e discursivas utilizadas pelo campo médico para lidar com fenômenos paradoxais da subjetividade, reduzindo-os a 2 intervenção medicamentosa. Contrapondo-se a esse discurso, a psicanálise evidencia a singularidade presente em cada sintoma, sustentada pelo inconsciente e pela satisfação da pulsão. Ao se ater a subjetividade de sua época, a psicanálise não pode se esquivar diante do crescimento de discursos fundamentalistas que propagam a intolerância e o ódio.
Orlando Soeiro Cruxên, no artigo “A homofobia no campo psicanalítico”, faz uma interessante leitura do ódio e agressividade direcionados aos homossexuais pelo referencial teórico da psicanálise. Sustenta a partir de Freud, a impossibilidade de se construir um discurso segregacionista a partir da psicanálise, já que essa se configura como uma prática que considera a singularidade do desejo, acolhendo a diferença, e o caráter subversivo da sexualidade humana.
O artigo “Crime, gozo e ato: uma leitura psicanalítica”, de Vania Conselheiro Serqueira, esclarece que só podemos falar em transgressão a partir de certo referencial, o que necessariamente implica o Outro, imbricando sujeito e cultura em um ato dito criminoso. A autora retorna a diversas referencias antropológicas na tentativa de delimitar o que seria um crime, e a partir daí discute quais as contingencias levam um sujeito a se posicionar por um ato criminoso diante do mal estar. E, além disso, se pergunta como a cultura contemporânea estaria implicada na produção desse sintoma.
Sendo o sintoma uma via de acesso ao inconsciente, Cristiane Corrêa Borges Elael e Maria Isabel de Andrade Fortes, no artigo “Sintoma e fenômeno psicossomático”, propõem um desenvolvimento teórico sobre noções fundamentais para o estudo psicanalítico do fenômeno psicossomático a partir de Freud e Lacan. Esclarecem que o fenômeno psicossomático evidencia uma erupção de gozo no corpo, abordando a noção lacaniana de holófrase para delimitar o fenômeno.
Nossa edição retoma ainda, a importância da noção de estruturas clínicas para a psicanálise, com o artigo “Um olhar sobre a Paranoia”, de Karine Barbosa de Carvalho Borges e Roberto Lopes Mendonça. Os autores partem dos textos freudianos sobre tema, até as contribuições lacanianas, mapeando as particularidades dessa estrutura clínica, que vão delinear a posição do analista e o melhor caminho a ser percorrido para a construção de uma metáfora delirante, que possa funcionar como ponto de amarração e estabilização desse sujeito.
Por fim, contamos ainda com o artigo “A transferência na instituição: a Psicanálise nas clínicas escola”, de Emilie Fonteles Boesmans, Antonio Dário Lopes Júnior e Lia Carneiro Silveira. O texto faz uma análise acerca da Psicanálise na Universidade, especialmente de sua entrada em instituições de clínicas escola – os chamados “Serviços de Psicologia Aplicada” - e as implicações desta inserção para o estabelecimento da transferência. É realizada uma breve revisão sobre o conceito de transferência, e são destacadas as questões burocráticas, acadêmicas e as questões sobre o tipo de serviço oferecido nessas instituições. É apresentado ainda um relato de experiência relativo ao período de atendimento clínico no Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Estadual do Ceará no período de outubro de 2011 a janeiro de 2013, evidenciando uma aposta, de que, apesar da lógica institucional a transferência pode acontecer, possibilitando o acontecimento do tratamento analítico.
Desejamos a todos uma boa leitura! Por Denise Maurano Mello e Nilda Martins Sirelli
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Publicado
2018-03-03
Como Citar
EM REVISTA, P. e B. REVISTA COMPLETA. Ano 14, Número 01: Edição julho de 2016. Psicanálise & Barroco em Revista, [S. l.], v. 14, n. 1, 2018. DOI: 10.9789/1679-9887.2016.v14i1.%p. Disponível em: https://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/7310. Acesso em: 26 dez. 2024.
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