Segregação e laço social: articulações entre a psicanálise e relações raciais
Palavras-chave:
psicanálise, relações raciais, memória, história, subjetividadeResumo
Neste trabalho realizamos uma análise psicanaliticamente dirigida sobre a formação sócio-racial brasileira a partir da teoria lacaniana e dos estudos das relações raciais articuladas a filosofia, historiografia, sociologia, psicologia e a epistemologia afro-diaspórica. Consideramos os aspectos históricos da escravização e da colonização brasileira. Esta dissertação é, a rigor, fruto de um pensamento coletivo. Nosso objetivo foi localizar a singularidade da lógica do racismo no Brasil, seus efeitos na estrutura inconsciente, seus mecanismos de manutenção, e as resultantes subjetivas dessa experiência na estrutura social e na constituição do sujeito racializado. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica como recurso prioritário; tomada como método de interpretação da realidade, a pesquisa é assumida neste trabalho como uma tomada de posição implicada na realidade pesquisada. Trata-se de uma produção discursivo-textual de agência social que não comporta uma explicação causal unívoca. Ancorados na dialética hegeliana; na lógica psicanalítica e na epistemologia africana o texto está organizado em quatro capítulos. No primeiro capítulo, ressoando a denúncia que faz o movimento negro quanto ao apagamento epistêmico de autoras e autores negros ressaltamos que reconstruir e manter viva a memória de um povo é na verdade assegurar, no presente o seu lugar social. Afeto a concepção africana, sustentamos a partir do conceito de Sankofa que não é tabu voltar atrás e buscar o que se esqueceu; no segundo capítulo realizamos uma recuperação histórica dos processos de invasão das Américas, do racismo do sexismo, da colonização, da formação do eurocentrismo no imaginário moderno-colonial e da formação sócio-racial brasileira; no terceiro capítulo sustentamos que a classe dominante brasileira, apoiada na idílica miscigenação e no mito da democracia racial denega uma configuração social mediada pela raça que forma uma realidade perversa e cínica cuja ambiguidade pode ser caracterizada como moebiana; no quarto capítulo analisamos os impactos do racismo no interior das instituições de psicanálise. Sustentamos a necessária implicação pública das instituições de psicanálise e a auto-organização dos psicanalistas negros e negras para disputa institucional do campo. Na conclusão apresentamos uma síntese das informações que colhemos ao longo da pesquisa e postulamos o reconhecimento de um sujeito brasileiro, um para além do negro e para além do branco reconhecendo a emergência de um sujeito da miscigenação e de uma formação social que a rigor é ambígua, diversa e que foi historicamente barrada. Em um país de tantas psicanalistas e psicólogos, urge a necessária constituição de uma psicologia e psicanálise autenticamente brasileira e implicada em seus processos históricos e sócio-raciais marcado pela exclusão. Há que se fazê-lo sem ignorar as relações concretas de poder e o papel da classe dominante nos processos de submissão racial e estratificação econômica.
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