Narrativas e processo de reconstrução do significado no luto

Autores

  • Ivania Jann Luna Departamento de Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n Trindade - Florianópolis - SC http://orcid.org/0000-0003-1758-0892
  • Carmen Ojeda Moré Departamento de Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n Trindade - Florianópolis - SC http://orcid.org/0000-0003-2468-8180

DOI:

https://doi.org/10.9789/2525-3050.2017.v2i3.152-172

Resumo

O artigo analisa o processo de luto a partir da teoria da reconstrução do significado no luto. Parte de uma pesquisa qualitativa que investigou as narrativas de luto, com 12 pessoas que perderam um membro familiar na vida adulta. Para a coleta de dados utilizou-se o genograma e a entrevista com roteiro semiestruturado. A organização e integração dos dados foram feitos através da codificação da Teoria Fundamentada e do software Atlas-ti 5.0. Na análise de dados, seis categorias conceituais sustentaram as narrativas: as que versam sobre o relacionamento afetivo no ciclo vital adulto, a perda deste, o enlutamento, a crise, o enfrentamento e as mudanças. As narrativas indicam que o processo de luto implica a busca por significados no relacionamento com a pessoa que morreu e também por atribuir significado às novas experiências e situações vivenciadas a partir da perda. Conclui-se que o processo de transformação do mundo presumido se dá a partir de duas direções: na manutenção de significados previamente consolidados e na articulação de novos significados e possibilidades identitárias.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ivania Jann Luna, Departamento de Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n Trindade - Florianópolis - SC

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência profissional como docente no ensino universitário (Unisul, Univali e Unidavi) e como psicóloga hospitalar no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora no Departamento de Psicologia desta Universidade. Pesquisadora no grupo de pesquisa ‘Psicologia, cultura e saúde mental’, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Carmen Ojeda Moré, Departamento de Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n Trindade - Florianópolis - SC

Pós-Doutora em Psicologia Social pela Universidad Autonôma de Barcelona, Espanha. Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na área da Psicologia Hospitalar, faz parte do corpo docente da Residência Multidisciplinar de Alta Complexidade do Hospital Universitário, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Referências

ATTIG, Tomas. Relearning the world: making and finding meanings. In: NEIMEYER, Robert (org.). Meaning reconstruction and the experience of loss. Washington: American Psychological Association, p. 33- 53, 2001.

BOWLBY, John. Processes of mourning. The International Journal of Psycho-analysis. London, v. 13, nº. 4/5, p. 317-340, 1961.

____. Separação: angústia e raiva. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 451p.

BREEN, Linn & O’CONNOR, Marie. Family and social networks after bereavement experiences of support, change and isolation. Journal of Family Therapy. v. 33, p. 98-120, 2011.

CALHOUN, Logan, & Tedeschi, Robert. Posttraumatic growth: the positive lessons of loss. In: ROBERT, Neimeyer (org). Meaning reconstruction and the experience of loss Washington: American Psychological Association, p. 157-172, 2001.

CARTER, Betty e MACGOLDRICK, Monica. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 1995. 510p.

CASTLE, John & PHILLIPS, Willian. Grief rituals: aspects that facilitate adjustment to bereavement. Journal of loss and trauma, v. 8, p. 41- 71, 2003.

DAVIS, Carl. The tormented and transformed understanding responses to loss and trauma. In: ROBERT, Neimeyer (org.). Meaning reconstruction and the experience of loss Washington: American Psychological Association, p.137-155, 2001.

DENZIN, Norman. K. e LINCOLN, Yvonna. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2a. ed. Porto Alegre: ARTMED, 1980. 430p.

FRANCO, Maria Helena Pereira. Uma mudança de paradigma sobre o enfoque da morte do luto na contemporaneidade. In: FRANCO, Maria Helena Pereira (org.). Estudos avançados sobre o luto. São Paulo: Editora Livro Pleno, p. 15-38, 2002.

____. Porque estudar o luto na atualidade? In: FRANCO, Maria Helena Pereira (org.). Formação e rompimento de vínculos: o dilema das perdas na atualidade. São Paulo: Summus Editorial, p. 17-42, 2010.

FREIRE, Milena Carvalho Bezerra. O som do silêncio: isolamento e sociabilidade no trabalho de luto. Natal: EDUFRN, 2005. 188p.

GANDINI, Rosa Carla e OLIVEIRA, Luisa Todeschini Pereira. A recepção e transmissão do diagnóstico de câncer de mama na perspectiva das pacientes. In: VIII CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA HOSPITALAR, São Paulo, Anais Eletrônicos, 2011. (Cd-rom)

GILLIES, Jule & NEIMEYER, Robert. Loss, grief and the search for significance: toward a model of meaning reconstruction in bereavement. Journal of Constructivist Psychology, v. 19, p. 31-65, 2006.

GLASER, Barney & STRAUSS, Anselm. Discovery of Grounded Theory: estrategies for qualitative research. Chicago/Nova York: Aldine De Gruyter, 1969. 369p.

GRANDESSO, Marilene. Sobre a reconstrução do significado: uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. 248p.

GUEST, Gian; BUNCE, Aaron & JOHNSON, Lon. How many interviews are enough? An experiment with data saturation and variability. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1525822X05279903>. Acesso em: 25/02/2012.

KLASS, Dennis; SILVERMAN, Silver & NICKMANN, Sam. Continuing bonds: new understandings of grief. Washington: Taylor and Francis, 1996. 345p.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Sociologia da Emoção: o Brasil urbano sob a ótica do luto. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 215p.

KOVÁCS, Maria Júlia. Educação para a morte: temas e reflexões. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. 175p.

LUNA, Ivânia Jann e MORÉ, Carmen Leontina Ojeda Ocampo. O modo de enlutamento na contemporaneidade e o aporte do construcionismo social. Nova Perspectiva Sistêmica, Rio de Janeiro, v. 22, nº. 46, p. 20-35, agosto de 2013.

LUNA, Ivânia Jann. Histórias de perdas: uma (re)leitura da experiência de luto. 2014. Tese (Doutorado em Psicologia). Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014, 249p.

MARRIS, Peter. Loss and change. 4ª ed. London: Routledge, 1993. 329p.

MCCULLOUGH, Paul e RUTENBERG, Sam. Lançando os filhos e seguindo em frente. In: CARTER, Betty e MCGOLDRICK, Monica (orgs.). As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed. Porto Alegre: ARTMED, p. 248-268, 1995.

MCGOLDRICK, Monica e GERSON, Randy. Genetogramas e o ciclo de vida familiar. In. CARTER, Betty e MCGOLDRICK, Monica (orgs.). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, p.144-168, 1995.

MCGOLDRICK, Monica; GERSON, Randy e PETRY, Sulivan. Genogramas: avaliação e intervenção familiar. Porto Alegre: ARTMED, 2012. 328p.

MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Hucitec-Abraco, 2010. 269p.

MOURA, Carina. Uma avaliação da vivência do luto conforme o modo de morte. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Programa de Pós-graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. 180p.

MUHR, Tomas. ATLAS/ti the knowledge workbench. V 5.0 Quick tour for beginners. Berlin: Scientific Software Development, 2004. 314p.

NEIMEYER, Robert. Meaning reconstruction and the experience of loss. Washington: American Psychological Association, 2001. 423p.

____; KLASS, Dennis & DENNIS, Michael Robert. A Social Constructionist Account of Grief: Loss and the Narration of Meaning. Death Studies. v. 38, p. 485-498, 2014.

OLABUÉNAGA, José Ignacio Ruiz. Metodología de la investigación cualitativa. Bilbao: Universidad de Deusto, 2009. 289p.

PARKES, Colin Murray. Bereavement as a psychosocial transition: processes of adaptation to change. Journal of Social Issues, v. 44, nº. 3, p. 53-65, 1988.

____. Guidelines for conducting ethical bereavement research. Death Studies, v.19, p.171-181, 1995.

____. Estudos sobre o luto na vida adulta. São Paulo: Summus Editorial, 1996. 214p.

____. Ajuda aos agonizantes e indivíduos de luto. In: Parkes, Colin Murray; Paul, Laungani & Bill, Young (orgs.). Morte e luto através das culturas. Lisboa: Climepsi Editores, p. 239-254, 1997.

____. Amor e perda: as raízes do luto e suas complicações. São Paulo: Summus Editorial, 2009. 446p.

RAMSHAW, Eduard. The personalization of postmodern post-mortem ritual. Pastoral Phychology, v. 59, p.171-178, 2010.

ROLLAND, Jonh. Doença crônica e o ciclo de vida familiar. In: CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica (orgs.). As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed. Porto Alegre: ARTMED, p. 373 -392, 1995.

SHAPIRO, Ester. Grief as a family process: a developmental approach to clinical practice. New York: The Guildford Press, 1994. 307p.

SLUZKI, Carlos. E. A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 147p.

SOUZA, Airle Miranda; MOURA, Denise. Souza Correa e PEDROSO, Valquiria Aram Camargo. Implicações do pronto-atendimento psicológico de emergência aos que vivenciaram perdas significativas. Psicologia Ciência e Profissão, v. 29, nº. 3, p. 534-543, 2009.

STRAUSS, Anselm e CORBIN, Judith. Pesquisa Qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. 2ª. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008. 288p.

STROEBE, Margareth & STROEBE, Wolfgan. The symptomatology of grief. In: MARGARETH, Stroebe & WOLFGAN, Stroebe (orgs.). Bereavement and health: the psychological and physical consequences of partner loss. Cambridge University Press, p. 7-25, 1994.

STROEBE, Margareth & SCHUT, Henk. The dual process model of coping with bereavement: rationale and description. Death Studies, v. 23, p. 197-224, 1999.

VALENTINE, Cristine. Methodological Reflections: attending and tending to the role of the researcher in the construction of bereavement narratives. Qualitative Social Work, v. 6, n. 2, 159- 176, 2011.

WALSH, Froma e MCGOLDRICK, Monica. A perda e a família: uma perspectiva sistêmica. In: WALSH, Froma e MCGOLDRICK, Monica (Orgs.). Morte na família: sobrevivendo às perdas. Porto Alegre: ARTMED. p. 27-55, 1998.

WALTER, Tony. A secularização. In: PARKES, Colin Murray; LAUNGANI, Paul e YOUNG, Bill. Morte e Luto através das culturas. Lisboa: Climepsi Editores, p. 195-220, 1997.

____. Grief narratives: the role of medicine in the policing of grief. Anthropology & Medicine, v. 7, nº. 1, 97-114, 1999.

____. What is complicated grief? A social constructionist answer. Omega, v. 52, n. 1, p. 71- 79, 2006.

____. The new public mourning. In: MARGARETH, Stroebe; ROBERT, Hansson; HENK, Schut & WOLFANG, Stroebe (orgs.). Handbook of bereavement research and practice advanced in theory and intervention. Washington: American Psychological Association, p. 241-262, 2008.

WAMBACH, Jordan. The grief process as a social construct. Omega, v. 6, nº. 3, p. 201-211, 1985.

Downloads

Publicado

2019-02-25

Como Citar

Luna, I. J., & Moré, C. O. (2019). Narrativas e processo de reconstrução do significado no luto. Revista M. Estudos Sobre a Morte, Os Mortos E O Morrer, 2(3), 152–172. https://doi.org/10.9789/2525-3050.2017.v2i3.152-172