O QUE ZUMBIS PODEM ENSINAR SOBRE REVOLUÇÕES
Schlagworte:
Revolução, Zumbis, Colonialismo, Pós-humanidadeAbstract
A ficção científica, o horror e a fantasia possuem a capacidade de capturar aspectos únicos das crises do planeta. Os zumbis, enquanto figura colonial, histórica e também, atualmente, parte da cultura pop tem sua importância por serem figuras que transitam entre a vida e a morte. Mas o que estes monstros podem ensinar sobre revolução? O zumbi colonial é um monstro polivalente e incorpora uma multiplicidade de esperanças, traumas, medos e desejos. No contexto haitiano, o zumbi tem suas raízes na experiência brutal da escravidão e exploração, deprivação física e alienação humana, além da degradação ambiental introduzida pelas monoculturas coloniais. Há também um modelo dialético rompido na relação sacerdote voodoo/zumbi. Ainda, filmes sobre o zumbi haitiano proporcionam críticas no sentido dos trabalhos sobre a subalternidade. Assim, os zumbis se posicionam como sub-subalternos: são literalmente silenciosos e impossibilitados de qualquer forma de conexão com os demais grupos. Os zumbis mais recentes têm potencial de catalização, são coletivos, um enxame e não possuem história individualizante ou personalidade única. Em séries ou filmes, eles são sempre representantes da alteridade, a serem temidos ou salvos. Eles ameaçam as nações, as famílias e, no sentido literal, o corpo. Então, a ameaça às instituições opressoras e dominadoras como as citadas também pode ser revolucionária. Eles podem representar os excluídos, explorados, esquecidos e desumanizados que retornam. Nesse sentido, o zumbi significa rebelião daqueles considerados não capazes de se rebelar. Ainda, a metáfora do zumbi representa a não-conformação: enquanto o humano está “encarcerado” em um corpo mortal de carne, o zumbi resiste ao confinamento. Os zumbis representam o pós-humano e, literalmente, o pós-(morte) humano. O sujeito pós-humano tem o seu potencial na coletividade, multiplicidade e hibridismo. É na falta de individualidade, tão cara ao consumismo, que o modelo do zumbi prova que a inauguração da pós-humanidade só pode acontecer com o fim do capitalismo. A figura do zumbi pode, então, auxiliar na compreensão sobre as revoluções: coletividade, representação, identidade, rebelião, não-confinamento, multiplicidade e hibridismo. É na não-conformação com vida ou morte, sujeito ou objeto, mestre ou escravo que o zumbi representa possibilidades de revolução. Trabalhando textos como os de Césaire, Said, Fanon, Haraway, Spivak, Bishop, Cohen, Lauro e Embry, este trabalho pretende demonstrar por diversos vieses como os zumbis podem ser uma representação metafórica do futuro pós-humano e pós-capitalista desejado pela porção progressista e revolucionária da sociedade.
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