Uma narrativa musical do ‘estado da alma’ do compositor: a Sinfonia no 2 de Villa-Lobos
Palavras-chave:
Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Sinfonia. Narratividade. Teoria das tópicas. Análise musicalResumo
A Sinfonia no 2 (“A Ascensão”) de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) tem data de composição em 1917, mas sua estreia só ocorre em 1944. A obra, como as demais sinfonias compostas entre 1916 e 1919, tem estrutura de sonata cíclica, segundo a teoria de Vincent d’Indy. A diferença em relação às outras sinfonias é a ausência de um programa literário explícito, como na Sinfonia no 1 (escrito pelo próprio compositor) e nas Sinfonias no 3 e no 4 (escritos por Escragnolle Dória). No entanto, nas notas de programa publicadas pelo Museu Villa-Lobos (1972), admite-se que essa obra foi inspirada “por assuntos literários”, representando “o estado de alma do compositor àquela época”; além disso, uma breve matéria no jornal A Noite, por ocasião da estreia, oferece detalhes adicionais sobre o caráter da obra. Essa hipótese é reforçada pelosindícios de que a composição é posterior à data oficial, mais próxima da estreia.
Este texto propõe uma análise narrativa, correlacionando os aspectos musicais agenciais, como forma, temas, harmonia, textura e timbre com aspectos expressivos. As referências adotadas vêm das teorias de narratividade propostas por Eero Tarasti (1994) e Byron Almén (2008), além de análises tópicas, segundo Leonard Ratner (1980) e Raymond Monelle (2000). Em geral, esses autores são influenciados pela narratologia greimasiana. Fontes adicionais sobre forma musical são consultadas em d’Indy (1909), Caplin (1998), Wheeldon (2005) e Hepokoski e Darcy (2006).
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