POLTERGEIST
ESTUDO ACERCA DO VAIVÉM ENTRE PROJETO E MATERIAL, VISÃO E ESCUTA, LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO NO PROCESSO COMPOSICIONAL
Palavras-chave:
Composição Musical, Escrita Musical, Processo Composicional, Visualidade, Técnica EstendidaResumo
O presente texto empreende uma investigação da obra “Poltergeist” de Austeclínio Lopes de Farias, destinada à execução em flauta solo, propondo uma análise da intersecção entre concepções conceituais e suas interações com a materialidade inerente ao processo composicional. De igual importância é o destaque atribuído aos ensaios colaborativos com a intérprete Vanessa Maria André, cuja contribuição se mostra medular na tessitura da peça. Nesse contexto, a noção de “imagem” assume um papel intermédio, englobando os polos, ideias e materiais que permeiam o tecido composicional. São alçadas à superfície as concepções de “involução” de Dufourt, bem como as estratégias de repetição e variação inerentes ao corpus artístico do pintor Alfredo Volpi, reverenciado como referência artística por um ponto de vista tanto sonoro quanto visual. A abordagem aspira à emancipação do espaço gráfico na escrita musical, assentando-se em uma paralela centralização da materialidade sonora, que se sobrepõe com primazia às categorias conceituais de ordem principalmente abstrata. Em um paralelismo, tais mudanças de paradigma são equiparadas ao modernismo pictórico, sob o prisma das concepções de Greenberg, que primou pela ênfase na planaridade e nos materiais pictóricos, concebidos como elementos imanentes da criação artística. A reflexão culmina com a exploração do conceito de anamorfose, engendrando uma ilustração da mutabilidade da percepção como mediada pela rememoração, em especial no contexto de um objeto retratado, cujo trama se enreda em uma multiplicidade de combinações e permutações de parâmetros musicais, conferindo a “Poltergeist” uma variabilidade contínua do motivo musical. A influência assertiva das estratégias de Volpi na cristalização da obra é enfatizada, congruente com a reflexão exauriente acerca da “pré-audibilidade” assinalada por Grisey, numa intersecção com a emancipação do espaço gráfico, aspectos os quais se imiscuem ao longo de toda a investigação empreendida.
Downloads
Referências
ADORNO, Theodor W. A arte e as artes e primeira introdução à teoria estética. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2017.
ADORNO, Theodor W. Aesthetic theory. Frankfurt am Main: Suhrkamp-Verlag, 1970.
ALBERTI, Leon Battista. Da pintura. 2a. ed. Trad. Antonio da Silveira Mendonça. Campinas: Editora da Unicamp (Coleção Repertórios), 1999.
BADIOU, Alain. On Beckett Ed. and trans. Nina Power and Alberto Toscano. Foreword: Andrew Gibson. Manchester: Clinamen, 2003.
BAYLE, François. Image-of-sound, or i-sound: Metaphor/metaform. Contemporary music review, v. 4, n. 1, p. 165-170, 1989.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 2012.
BLACK, Sheila R. Review of semantic satiation. Advances in psychology research, v. 26, p. 63-74, 2003.
BOULEZ, Pierre. Apontamentos de aprendiz. São Paulo: Perspectiva, 1995.
COUCHOT, E. Da representação à simulação: evolução das técnicas e das artes da figuração. In: Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. Org. André Parente. Rio de Janeiro: Editora 34, p. 37-48, 1993.
DAHLHAUS Carl. L'Idée de la musique absolue: Une esthétique de la musique romantique. Trad. Martin Kaltenecker, Genebra: Contrechamps, 1997.
D'ERRICO, Lucia. Powers of Divergence: An Experimental Approach to Music Performance. Lovaina: Leuven University Press, 2018.
DUFOURT, Hugues. Il dinamismo genetico del materiale musicale e il suo movimento generatore di spazio. Musica/Realtà, Lucca, XXVI-77, Julho, s.p., 2005.
DUFOURT, Hugues. Les paradigmes du processus et du matériau et leurs crises dans la musique occidentale. Paris: Presses universitaires de France; Cités, n. 3, 2012.
DUFOURT, Hugues. O artifício da escrita na música ocidental. Trad. Carole Gubernikoff. Rio de Janeiro: DEBATES - Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música, UNIRIO n. 1, 1997.
FELDMAN, Morton. Give my regards to eight street. Collected writings of Morton Feldman. Cambridge: Exact Change, 2000.
FELDMAN, Morton. O futuro da música local: XXX Peripécias e desenhos. Trad. Bárbara Costa Lima, Tomás Cunha Ferreira. Rio de Janeiro: Numa Editora, 2021.
FERRAZ, Silvio. A fórmula da reescritura. São Paulo: Seminário Música Ciência Tecnologia, v. 1, n. 3, 2008.
FERRAZ, Silvio. Kairós: ponto de ruptura. Uberlândia: OuvirOUver, UFU, v. 11, n. 1, p. 34-52, 2015.
FERRAZ, Silvio. Varèse: a composição por imagens sonoras. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
FLUTEXPANSIONS. FluteXpansions. Disponível em: <https://www.flutexpansions.com/>. Acesso em: 27 jul. 2023.
FERREIRA, Glória (org.) et al. Clement Greenberg e o debate crítico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 101-110, 1997.
GIANNOTTI, Marco Garaude. Veneza em Volpi. São Paulo: ARS , v. 16, p. 165-175, 2018.
GRISEY, Gérard. Tempus ex Machina: A composer's reflections on musical time. Contemporary music review, v. 2, n. 1, p. 239-275, 1987.
HANSLICK, Eduard. Vom Musikalisch-Schönen. BoD–Books on Demand, 2022.
KLABIN, Vanda Mangia et al. 6 perguntas sobre Volpi: um debate sobre arte brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
MENEZES FILHO, Florivaldo. Apoteose de Schoenberg. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
MORGAN, Robert P. Schenker and the theoretical tradition: the concept of musical reduction. In: College Music Symposium. Montana: College Music Society, p. 72-96 1978.
NAVES, Rodrigo. Anonimato e singularidade em Volpi, em A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, p. 177-190, 2001.
PEREIRA, Antônio de Sá. O Solfejo na Berlinda. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Música, v. 10, p. 75-88, 1944.
PERSSON, Mats. To be in the silence: Morton Feldman and painting. 2002. Disponível em: <https://www.cnvill.net/mfperssn.htm>. Acesso em: 27 jul. 2023.
SAFATLE, Vladimir. Fetichismo e mimesis na filosofia da música adorniana. Porto Alegre: Discurso, n. 37, 2007.
SAFATLE, Vladimir. Morton Feldman como crítico da ideologia: Uma leitura política de Rothko Chapel. Revista Dissertatio de Filosofia, v. 42, p. 11-26, 2015.
SOCHA, Eduardo. Adorno e a morfologia do tempo musical de Karlheinz Stockhausen. Em: Clovis Salgado Gontijo; José Antônio Baêta Zille. (Org.). Os filósofos e seus repertórios. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UEMG, 2018.
SOLOMOS, Makis. Da música ao som: a emergência do som na música dos séculos XX e XXI – uma pequena introdução. Art Research Journal: Revista de Pesquisa em Artes, v. 2, n. 1, p. 54-68, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 DEBATES - Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.