O efêmero, a transmissão criadora e a memória em suspenso
um olhar epistemológico sobre o inventário Guarani
Résumé
Na era do patrimônio imaterial, este ensaio explora as questões teóricas, conceituais e epistemológicas que estão em jogo na patrimonialização quando aplicada, seja a uma prática vigente, seja a um gesto efêmero. Aponta para o dilema inicial dos processos patrimonializadores, destinados a fixar o patrimônio para salvaguardá-lo, porém com a preocupação de ao mesmo tempo não alterar sua dinâmica nem o imobilizar numa única forma. Mediante a observação de um inventário audiovisual do patrimônio, feita em conjunto por pesquisadores acadêmicos e um grupo de jovens e anciãos guaranis, este ensaio localiza as estratégias de circundamento postas em prática pelos diferentes atores para fazer durar o que é efêmero. Relatam-se os passos principais de uma análise que mostrou até que ponto os processos contemporâneos de patrimonialização mobilizam, em vários níveis, a memória de um grupo social, sendo capazes de propor uma fixação que não imobiliza os saberes, porém, igualmente, de suscitar o comprometimento do agente social com seu patrimônio. Configura- se um regime singular, orquestrado em torno de uma construção coletiva, criativa e contínua de uma memória social em suspenso. O efêmero aparece como princípio motor, um gesto, e um horizonte de expectativa dos inventários participativos: voltados à transformação perpétua dos saberes memoriais e seu reinvestimento permanente para o grupo social.