Chamada para o Dossiê 20 (MORTE E NÃO-MORTE): v. 10, n. 20, jul./dez. 2025

2022-03-29

Dossiê Vol. 10, nº. 20, jul.-dez., 2025

TEMA: Morte e não-morte: o governo dos não-mortos e o trânsito entre o mundo dos vivos e dos mortos

PRAZO PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS: 30 de julho de 2024 

DIRETRIZES PARA AUTORES EM: http://seer.unirio.br/index.php/revistam/about/submissions#authorGuidelines

 

Organizadores:

Prof. Dr. Lourival Andrade Junior – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

Prof. Dr. Lúcio Reis Filho – Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil.

 

Os trânsitos entre os vivos e os mortos em suas mais diversas dinâmicas, que podem englobar os encantados, as entidades espirituais, os corpos-secos, as assombrações, as almas penadas, as mavkas, os xipocos, os changelings, as matumbolas ou maiombolas, os revenantes, os zumbis e uma infinidade de seres que orbitam e transgridem as fronteiras do mundo dos vivos e dos mortos, fazem parte de narrativas que povoam os imaginários e as dinâmicas coletivas em diversas partes do mundo. As experiências trocadas entre o lá e o aqui, e vice-versa, movimentam as sensibilidades humanas e nos colocam diante de paradigmas que precisam ser discutidos e problematizados.

Do ponto de vista da ciência política e da filosofia, existe um crescente interesse em perceber como diferentes estratégias de governo de populações ou indivíduos caracterizados como não-mortos ou mortos-vivos fazem parte da panóplia de estratégias de governamentalização dos Estados ou entidades supra-estaduais modernas. É nesse sentido que, completando Foucault, Achille Mbembe alerta para a criação de “mundos de morte” onde “vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de «mortos vivos»” (2018, 71), e Frank B. Wilderson expande o conceito de “morte social”, cunhado por Orlando Patterson (1982), para argumentar que, no pensamento ocidental, o Negro é sempre conceptualizado como não-vivo. Por outro lado, aprofundando o argumento de Jaques Derrida em Spectres de Marx (1993), Mark Fisher propõe o termo fantasmologia (hauntology) para decrever a forma como estéticas e utopias passadas assombram a cultura neoliberal.

Este dossiê pretende discutir todas as possibilidades de trânsitos, contatos e governos entre o mundo dos vivos e dos mortos, entre os vivos e os não-mortos numa perspectiva ampla, interdisciplinar e transversal que possibilite entender a morte, o morrer e o não morrer em suas mais diversas possibilidades de diálogo conceitual e metodológico.

 

Referências Bibliográficas

COUTO, Mia. A varanda do frangipani. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

DERRIDA, Jaques. Spectres de Marx. Paris: Galileé, 1993.

FISHER, Mark. ‘What is Hauntology’, Film Quarterly, 66, 1 (2012), 16-24.

ISAIA, Artur Cesar (org.). Orixás e espíritos: o debate interdisciplinar na pesquisa contemporânea. Uberlândia: EDUFU, 2006.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: n-1, 2018.

PATTERSON, Orlando. Slavery and Social Death: a comparative study. Cambridge MA: Harvard University Press, 1982.  

PRANDI, Reginaldo (org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

REIS FILHO, Lucio; RODRIGUES, Claudia; SANTOS, Cícero Joaquim dos. Assombrações, catolicismo e “não morte” nas narrativas do “Corpo Seco”. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 14, n. 42, 18 dez. 2021.

SÁEZ, Oscar Calavia. Fantasmas falados: mitos e mortos no campo religioso brasileiro. Campinas: UNICAMP, 1996.

WILDERSON, Frank B. Afropessimism. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 2020.

WILLIAMS, Joseph. Vodu: fenômenos psíquicos da Jamaica. São Paulo: Madras, 2004.