Chamada para o DOSSIÊ 21 (O legado da pandemia da Covid-19 sobre o pensar, o agir e o cuidar diante dos processos de morte e luto): v. 11, n. 21, jan./jun. 2026
Dossiê vol. 11, nº. 21, jan.jun., 2026
TEMA: O legado da pandemia da Covid-19 sobre o pensar, o agir e o cuidar diante dos processos de morte e luto.
PRAZO PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS: 30 de maio de 2025.
DIRETRIZES PARA AUTORES EM: http://seer.unirio.br/index.php/revistam/about/submissions#authorGuidelines
Organizadoras:
Prof. Dra. Aline Silva Santos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
Prof. Dra. Andreia Vicente da Silva– Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Profa. Dra. Gabriela Casellato Brown Ferreira Santos – Quatro Estações Instituto de Psicologia.
Chamada
Desde que a pandemia da covid-19 foi decretada pela Organização Mundial de Saúde em 11 de março de 2020, ocorreram intensas transformações nas médias diárias de mortes no mundo, bem como mudanças nas práticas concernentes à ocorrência dos falecimentos, aos rituais de despedida e aos espaços sociais para a partilha dos processos de luto. Inaugurou-se um novo período histórico que se marcou por uma experiência de morte em grande escala cujos impactos atingiram diferentes culturas e contextos sociais e em diferentes esferas da vida social. Assim, sustentamos que as mortes em massa da covid-19 refletem não apenas afetações nos processos de enlutamento individual e familiar, mas provocaram impactos políticos capazes de transformar a ordem social (Han, Millar and Bayly, 2021).
Considera-se a pandemia como um marco de um período histórico porque a magnitude deste evento gerou uma crise humanitária, sanitária, estrutural, econômica, política e na saúde física e mental sem precedentes para as últimas gerações. Entende-se como crise a quebra de um mundo presumido (Parkes, 2009). Afinal, toda organização social necessita de uma previsibilidade, constância e organização como forma de manutenção de um equilíbrio e reasseguramento absolutamente necessários para a sobrevivência em grupo em qualquer tempo e contexto. A pandemia nos imputou uma impactante ruptura dessa homeostase em muitas dimensões estruturantes do viver. Nosso mundo presumido ruiu. Sob alguns aspectos de forma definitiva, sob outros, de forma transitória. De modo geral, o mundo que conhecíamos até então não existe mais.
O isolamento físico inaugurou e reforçou um mundo cada vez mais digitalizado como uma forma preponderante de sociabilização. Aprendemos a trabalhar, estudar, consumir, conviver, amar e a nos despedirmos de pessoas queridas pelas telas. Os espaços físicos estão sofrendo intensas mudanças impostas pelo domínio do mundo digital. Uma nova noção de segurança física e psicossocial é alimentada pela ideia de um novo tecido social tecnológico. Um vírus invisível nos fez encarar de forma contundente nossa impermanência e vulnerabilidade. Diante do medo de morrer, buscamos novas formas adaptativas. Resta saber como e em que direção.
A partir desta realidade incontornável, nos perguntamos: o que aprendemos sobre o morrer e sobre como lidar com a morte e o luto a partir da pandemia? Que práticas sociais criamos, transformamos e/ou revisitamos quando fomos tocados por estas mortes? Somos capazes de estabelecer conexões da pandemia com fatores anteriores à decretação de situação de emergência de saúde internacional que nos ajudem a revelar – nos termos de Caponi e Mantovani (2020) – que toda epidemia irrompe como um fenômeno social inesperado revelando as carências e dificuldades que uma sociedade enfrenta?
Propomos aos pesquisadores e pesquisadoras que desejarem contribuir com este número da Revista M. que reflitam a respeito de processos sociais que estão implicados com o advento da pandemia da covid-19, suas ampliações, interrupções ou reverberações em sentido amplo. Serão bem-vindas contribuições de natureza interdisciplinar, com reflexões situadas nas mais diversas áreas do conhecimento como as ciências da saúde, humanas e sociais em geral, e que envolvam campos como os relativos a políticas públicas, legislação, medicina, religião, educação, cultura, arte, paisagismo, arquitetura e urbanismo, entre outros possíveis.
Desejamos pensar a respeito do que fizemos da pandemia, na pandemia e para a pandemia, provocando questionamentos que procurem articular-se com os desdobramentos e reverberações que seguem sendo percebidos no cotidiano dos diferentes grupos sociais. Serão apreciadas discussões realizadas a partir do contexto nacional, internacional ou em panoramas comparativos.
Referências Bibliográficas
ASGARI, M., et al. (2023). Investigation into Grief Experiences of the Bereaved During the Covid-19 Pandemic. OMEGA. Journal of Death and Dying, 0(0), 1–22.
CASELLATO, G. (org.). (2022). Luto por perdas não legitimadas na atualidade. Ed. Summus.
CAPONI, S. e MANTOVANI, R. (2020). As pestes na história: Contágio desigual entre classes sofrimento, balas de prata e messias. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social. 1, 1-18.
FRANCO, M. H. (2021). O Luto no século 21: uma compreensão abrangente do fenômeno. Ed. Summus.
HAN, Y., MILLAR, K. M. & BAYLY, M. J. (2021). COVID-19 as a Mass Death Event. Ethics & International Affairs, 35(1), 5-17.
NEVES, M. F. de A. (2021). Living the death of others: the disruption of death in the COVID-19 pandemic. Horizontes Antropológicos, 27(59), 91-108.
MATTA, G. C. et al. (2021). Os impactos sociais da Covid-19 no Brasil: populações vulnerabilizadas e respostas à pandemia. FIOCRUZ.
MORIN, E. (2020). É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus. Bertrand Brasil.
PARKES, C. M. (2009). Amor e Perda. As raízes do luto e suas complicações. Summus.
WALTER, T. (2023). ‘Heading for Extinction’: how the climate and ecological emergency reframes mortality. Mortality, 28, 661-679.
VICENTE DA SILVA, A.; RODRIGUES, C. & AISENGART, R. (2021). Morte, ritos fúnebres e luto na pandemia de Covid-19 no Brasil. Revista do NUPEM, 13, 214-234.
VICENTE DA SILVA, A. (2024). New Technologies in Pentecostal Funeral Rituals During the COVID-19 Pandemic in Brazil. Anthropological Quartely 97(3), 511-537.