Vivos e mortos no ‘Círculo de Oração’: o rito de luto na Igreja Assembleia de Deus
DOI:
https://doi.org/10.9789/2525-3050.2017.v2i3.94-115Resumo
A partir da análise de um caso de luto vivido por uma senhora do “Círculo de Oração” da Igreja Assembleia de Deus de Todos os Santos em Praia de Mauá, Magé, no Rio de Janeiro, este artigo evidencia um trabalho de ressignificação, associado às ritualizações de luto evangélicas pentecostais. Os objetos, sonhos, visões e profecias são instâncias que permitem uma flexibilização das fronteiras entre o mundo dos vivos e o dos mortos, garantindo a continuidade das relações com o morto. Neste sentido, cada enlutado busca respostas específicas para sua condição emocional. A transformação do morto em lembrança, e de sua imagem em memória é objeto de um trabalho lento, que envolve debates, contradições e dúvidas. As ritualizações de luto envolvem um trabalho de elaboração específico, que ultrapassa a dicotomia entre leis e práticas, e prevê respostas para cada caso.Downloads
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