Apresentação do Dossiê 10: Dispositivos Estatais e Construção Social dos Mortos
DOI:
https://doi.org/10.9789/2525-3050.2020.v5i10.188-199Resumen
A compreensão dos processos histórico-sociais da maneira como o Estado se estrutura e operacionaliza a morte no processo de construção dos mortos tem sido desenvolvida mais recentemente, sendo o presente dossiê uma contribuição aos estudos desse campo. Aqui reunimos análises dedicadas a descrever regimes técnicos e morais que se alinhavam nas instituições, tornando visíveis e enunciáveis as diferentes suturas que produzem mortos, desde suas derivações, transformações e mutações. Visibilidade e enunciação que, como descreve Deleuze (1990), se combinam com linhas de força e de subjetivação e, também, com brechas, fissuras e fraturas, que ora se entrecruzam, ora se misturam. Nesse movimento contínuo, histórico e social, acabam "por dar uma nas outras, ou suscitar outras, por meio de variações ou mesmo mutações de agenciamento". Descrever e analisar tais dispositivos é uma forma de explicar como se mobiliza um regime de saber, poder e subjetivação sobre a morte, que se vê indizível e invisível, e que age no sentido de produzir um controle sobre os mortos, de modo a construir socialmente sujeitos matáveis, objetos irrastreáveis, corpos extermináveis, populações vulneráveis e territórios marginais.Descargas
Citas
AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? Outra travessia, Florianópolis, n. 5, p. 9–16, 2005.
ARAÚJO, Fábio. Das consequências da "arte" macabra de fazer desaparecer corpos: sofrimento, violência e política entre familiares de vítimas de desaparecimento forçado. 2012. Tese (Doutorado em Sociologia e Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. 268 f.
ARAÚJO, Fábio; MEDEIROS, Flavia; MALLART, Fábio. As valas comuns: Imagens e políticas da morte. Dilemas, Rio de Janeiro, p. 1-12, 2020. [Seção] Reflexões da Pandemia.
ASSUMPÇÃO, Raiane et al. A violência de Estado e a busca pelo acesso à justiça. Uma análise a partir das narrativas dos familiares das vítimas dos Crimes de Maio de 2006 ocorridos na Baixada Santista, São Paulo. SUR – International Journal on Human Rights, São Paulo, v. 15, n. 27, p. 135-152, 2018.
AZEVEDO, Desirée de Lemos. Ausências incorporadas: etnografia entre familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. São Paulo: Editora Unifesp, 2018. 352 p.
BARCELLOS, Caco. ROTA 66: A história da polícia que mata. 16. ed. São Paulo: Editora Record, 1992. 352 p.
BARETTA, Jocyane Ricelly. Arqueologia da repressão e da resistência e suas contribuições na construção de memórias. Revista de Arqueologia Pública, Campinas, v. 8, n. 2 [10], p. 76-89, 2014.
BUCHLI, Victor; LUCAS, Gavin. Archaeologies of the contemporary past. London: Routledge, 2001. 194 p.
BUTLER, Judith. Frames of War: When is Life Grievable? New York, 2009. 193 p.
BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Quem canta o Estado-nação? Língua, política, pertencimento. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2018. 102 p.
CASSAL, Luan Carpes Barros. O menino morto com um sorriso sem dentes: Narrativas de assassinatos de adolescentes por LGBTIfobia no Brasil. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. X-Y, jul./dez. 2020.
COIMBRA, Cecília Maria Bouças; BRASIL, Vera Vital. Exumando, identificando os mortos e desaparecidos políticos: uma Contribuição do GTNM/RJ para o Resgate da Memória. In: MOURÃO, Janne Calhau (org.). Clínica e Política: subjetividade, direitos humanos e invenção de práticas clínicas. Rio de Janeiro: Abaquar, 2009. v. 2, p. 45–62.
DAS, Veena; POOLE, Deborah. State and its Margins: Comparative ethnographies. In: DAS, Veena; POOLE, Deborah. Anthropology in the margins of the state. New Mexico: School of American Research Press, 2004. p. 3-33.
DELEUZE, Gilles. ¿Qué es un dispositivo? In: DELEUZE, Gilles. Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990. p. 155–163.
EILBAUM, Lucía; MEDEIROS, Flavia. Quando existe ‘violência policial’? Direitos, moralidades e ordem pública no Rio de Janeiro. Dilemas, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 407-428, 2015.
EILBAUM, Lucia; MEDEIROS, Flavia. “Onde está Juan?": moralidades e sensos de justiça na administração judicial de conflitos no Rio de Janeiro. Anuário Antropológico, Brasília, v. 41, p. 9-23, 2016.
EILBAUM, Lucía; MEDEIROS, Flavia. "A tal reparação": moralidades e emoções do ponto de vista de familiares de vítimas letais. In: SANTOS, Shana Marques Prado et al. (org.). Reparação como política: reflexões sobre as respostas à violência de Estado no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ISER, 2018. p. 56-67.
FANON, Franz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1979. 400 p.
FARIAS, Juliana. Governo de mortes: Uma etnografia da gestão de populações de favelas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2020. 248 p.
FERREIRA, Letícia Carvalho de Mesquita. “Uma etnografia para muitas ausências”: o desaparecimento de pessoas como ocorrência policial e problema social. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 308 f.
FERREIRA, Letícia Carvalho de Mesquita. “Apenas preencher papel”: reflexões sobre registros policiais de desaparecimento de pessoas e outros documentos. Mana, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 39-68, 2013.
FERREIRA, Letícia Carvalho de Mesquita. Pessoas desaparecidas: uma etnografia para muitas ausências. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2015. 292 p.
FOUCAULT, Michael. O nascimento da clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1963. 241 p.
FOUCAULT, Michael. Surveiller et punir: naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1975. 352 p.
FOUCAULT, Michael. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Liígia M. Pondé Vassalo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1977. 288 p.
FOUCAULT, Michael. 1979. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. 277 p.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 590 p.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; OLIVEIRA, Nanci Vieira de. A arqueologia do conflito no Brasil. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; ZARANKIN, Andrés; REIS, José A. (org.) Arqueologia da Repressão e da Resistência: América Latina na era das ditaduras (1960-1980). São Paulo: Annablume, 2008. p. 141-149.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; ZARANKIN, Andrés; REIS, José A. (org.) Arqueologia da Repressão e da Resistência: América Latina na era das ditaduras (1960-1980). São Paulo: Annablume, 2008. 215 p.
GENNARI, Patricia Visnardi; VENDRAMINI CARNEIRO, Eliana Faleiros. O Ministério Público em busca de pessoas desaparecidas: um olhar ao meio ambiente destinado às inumações de pessoas não identificadas no Município São Paulo. Revista Brasileira de Meio Ambiente, [s. l.], v. 8, n. 3, p. 114-136, 2020.
GONZAGA, Yvone Maria; COSTA JUNIOR, Jair da. Capital racial e a perspectiva colonial no século XXI: reflexões sobre a política de segurança pública. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. X-Y, jul./dez. 2020.
GROSFOGUEL, Ramón. Descolonizar as esquerdas ocidentalizadas: para além das esquerdas eurocêntricas rumo a uma esquerda transmoderna descolonial. Contemporânea, São Carlos, v. 2, n. 2, p. 337–362, 2012.
GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo (org.). Cientistas sociais e o Coronavírus. 1. ed. São Paulo: ANPOCS, 2020. 718 p.
GRUPO DE TRABALHO PERUS: A retomada da identificação dos desaparecidos políticos da vala clandestina. Relatório produzido e encaminhado à CMV pelo Grupo de Trabalho Perus em novembro de 2016. In: LAJOLO, Tereza et al. (coord.). Relatório Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo. São Paulo: [s. n.], 2016. p. 371-392.
HATTORI, Márcia Lika et al. O caminho burocrático da morte e a máquina de fazer desaparecer: propostas de análise da documentação do Instituto Médico Legal-SP para antropologia forense. Revista do Arquivo, São Paulo, ano 1, n. 2, s. p., abr. 2016.
HATTORI, Márcia Lika. Necropolítica em três atos. El Salto, on-line, 28 oct. 2020. [Seção] Agantro. Disponível em: https://www.elsaltodiario.com/agantro/agantro-necropolitica-em-tres-atos. Acesso em: 15 dez. 2020.
HATTORI, Márcia Lika; CONDE, Daniel. Verticalidade da pandemia na Espanha e no Brasil: um olhar desde a varanda. Boletim extraordinário CAAF/Unifesp de enfrentamento da Covid-19, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 8-10, 2020. Tema: Mortos e mortes da Covid-19: saberes, instituições e regulações.
HATTORI, Márcia Lika; VENDRAMINI CARNEIRO, Eliana Faleiros. Políticas neoliberais: o desaparecimento de pessoas na burocracia dos cemitérios. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. X-Y, jul./dez. 2020.
HORTON, Richard. Offline: COVID-19 is not a pandemic. Lancet, London, v. 396, n. 10255, p. 874, 2020.
LEMOS, Caroline Murta. Arquitetando o terror: um estudo sensorial dos centros de detenção oficiais e clandestinos da ditadura civil-militar do Brasil (1964-1985). 2019. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Campus de Laranjeiras, Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, 2019. 384 f.
LIMA, Roberto Kant de. Cultura jurídica e práticas policiais: a tradição inquisitorial. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 4, n. 10, p. 65-84, 1989.
LOBO, Andréa de Souza; SOBREIRA, Luiza Báo. Quando o corpo se torna indigente: sobre processos de morrer à luz do Estado. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. X-Y, jul./dez. 2020.
MACHADO, Ana Maria et al. (org.) Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado. 1. ed. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020. 105 p. E-book.
MAGUIRE, Pedro Fermín; COSTA, Denise Neves Batista. ‘Scientific torture’? Scientism and the marks of torture inside a police station in Belo Horizonte, Brazil. Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, on-line, v. 15, n. 3, e153510, 2018.
MALLART, Fábio et al. O massacre do coronavírus. In: GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo. (org.) Cientistas sociais e o Coronavírus. 1. ed. São Paulo: ANPOCS, 2020. p. 405-409.
MBEMBE, Achilles. Necropolitics. Raisons politiques, Paris, n. 1, p. 29-60, 2006.
MEDEIROS, Flavia. “Matar o morto”: uma etnografia do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro. Niterói: Eduff, 2016. 221 p.
MEDEIROS, Flavia. Linhas de Investigação: uma etnografia das técnicas e moralidades numa Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Autografia, 2018. 351 p.
MEDEIROS, Flavia. Operações policiais, produção de mortos e investigação de mortes: violência policial em meio à pandemia. Boletim extraordinário CAAF/Unifesp de enfrentamento da Covid-19, São Paulo, v. 1, n. 7, p. 4-7, 2020. Tema: Mortos e mortes da Covid-19: saberes, instituições e regulações.
NADAI, Larissa. Entre pedaços, corpos, técnicas e vestígios: o Instituto Médico Legal e suas tramas. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) –Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018. 323 f.
PEIRANO, Mariza. ‘Sem lenço, sem documento’: cidadania no Brasil. In: PEIRANO, Mariza. A Teoria Vivida e Outros Ensaios de Antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. p. 121-134.
PERELMAN, Mariano D. Bodies in the tip: Deaths and politicised deaths in Buenos Aires’s refuse. Human Remains and Violence, Manchester, v. 5, n. 1, p. 38–54, 2019.
PITA, Maria Victoria. Formas de morir y formas de vivir. El activismo contra la violencia policial. Buenos Aires: Editores del Puerto, 2010. 256 p.
QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, 2000. p. 107-130.
SANJURJO, Liliana; FELTRAN, Gabriel. Sobre lutos e lutas. Violência de estado, humanidade e morte em dois contextos etnográficos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 67, n. 2, p. 40-45, abr./jun. 2015.
SANJURJO, Liliana; NADAI, Larissa; AZEVEDO, Desirée. Corpos, tempo e instituições: Um olhar sobre os cemitérios na pandemia de Covid-19. Dilemas, Rio de Janeiro, 2020. p. 1-17. [Seção] Reflexões da Pandemia.
SILVA, Debora M.; DARA, Danilo. Mães e familiares vítimas do Estado: a luta autônoma de quem sente na pele a violência policial. In: KUCINSKI, Bernardo et al. Bala perdida: A violência policial no Brasil e os desafios para sua superação. São Paulo: Editora Boitempo, 2015. p 83-90.
SILVA, Fernanda Pinheiro. COVID-19 no município de São Paulo: dados e desigualdades. Boletim extraordinário CAAF/Unifesp de enfrentamento da Covid-19, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 4-7, 2020. Tema: Mortos e mortes da Covid-19: saberes, instituições e regulações.
SOUZA, Rafael de Abreu et al. A formação do grupo de antropologia forense para a identificação das ossadas de Vala de Perus. In: RELATÓRIO Final da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva. São Paulo, Brasil: [s. n.], 2015. T. 1, pt. 1, cap. 4. Disponível em: http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/parte-i-cap4.html. Acesso em: 15 dez. 2020.
SOUZA, Rafael de Abreu. A materialidade da repressão à guerrilha do Araguaia e do terrorismo de Estado no Bico do Papagaio, TO/PA: noite e nevoeiro na Amazônia. 2019. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. 417 f.
TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir Pinheiro. O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010. 352 p.
TELES, Janaina. Eliminar “sem deixar vestígios”: a distensão política e o desaparecimento forçado no Brasil. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. X-Y, jul./dez. 2020.
TELES, Maria Amélia Almeida; LISBOA, Suzana Keninger. A vala de Perus: um marco histórico na busca da verdade e da justiça! In: MACUCO, Instituto (org.). Vala Clandestina de Perus. Desaparecidos Políticos um capítulo não encerrado da História Brasileira. São Paulo: Instituto Macuco, 2012. v. 1, p. 200. E-book.
VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: História de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. E-book.
VENDRAMINI CARNEIRO, Eliana Faleiros; GENNARI, Patrícia Visnardi. O Ministério Público em busca de pessoas desaparecidas: desaparecimentos forçados por omissão do Estado. Revista Liberdades, São Paulo, n. 22, p. 39–52, maio/ago. 2016.
WAGNER, Alfredo; ACEVEDO, Rosa; ALEIXO, Eriki. Pandemia e território. São Luís: UEMA Edições, 2020. 1226 p.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Licença Creative Commons CC BY 4.0