"Nostalgias de las cosas que han pasado"

representações do passado no tango de Buenos Aires

Resumo

O artigo propõe que o tango tem sido um dos modos pelos quais a sociedade argentina se relaciona com seu passado, inscrevendo em música e versos o processo histórico vivenciado entre as décadas de 1880 e 1960. Trata-se de uma memória musical e social, afetiva e política, construída e atualizada ao longo de mais de um século de história. Desde a redemocratização argentina em 1983, o tango tem sido objeto de interesse cultural e comercial, em ações institucionais e no resgate promovido pela indústria fonográfica. Esse movimento é na verdade intrínseco à própria trajetória histórica do tango nas vertentes de dança, música e poesia. São analisados os casos da poesia de Homero Manzi, responsável pela renovação da poética “tanguera” nos anos 1930 e 40, e da música de Astor Piazzolla, cujo “tango nuevo” dos anos 1950 em diante propunha atualizar a tradição numa expressão contemporânea. Em um e em outro, porém, as notas da nostalgia e da melancolia, da homenagem e da representação do passado marcam o caráter de memória coletiva inscrito tanto nos versos quanto na música.