“E a padiola ia e vinha, rangendo lugubremente”: coveiros, cemitérios e epidemia do cólera no Ceará (1862)
gravediggers, cemeteries and cholera epidemic in Ceará (1862)
DOI:
https://doi.org/10.9789/2525-3050.2021.v6i11.92-108Palavras-chave:
Cólera morbo, Cemitérios, Coveiros, Ceará, InumaçõesResumo
O presente artigo visa compreender como os coveiros, durante a epidemia de cólera no Ceará de 1862, foram representados sob um olhar de desconfiança, preconceito e condenação, numa conjuntura de medo e morte generalizada, quando o enterro massivo de corpos tornou-se questão sanitária fundamental. A epidemia atingiu o cotidiano, afetou as práticas fúnebres locais, promoveu a urgência na construção de cemitérios para abrigar os milhares de mortos vitimados pela doença e a contratação de coveiros. A atuação destes tornou-se alvo de apreensão das autoridades. Para tal intento, analisamos documentos oficiais, imprensa, literatura, registros paroquiais e livros de memória, à luz da análise discursiva e do entrecruzamento dos documentos. As fontes demonstram que a preocupação com os cemitérios e enterros acarretaram medidas de coação, que forçaram homens miseráveis, inclusive presidiários, a assumirem, sob violenta coerção policial, as inumações dos coléricos.
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