Um olhar antropológico sobre o suicídio: devir, formas de vida e subjetividades
DOI:
https://doi.org/10.9789/2525-3050.2019.v4i7.101-124Palavras-chave:
Suicídio, Antropologia, Formas de vida, Subjetividades, BiopolíticaResumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre o fenômeno do suicídio, a partir de alguns referenciais teóricos antropológicos e de uma etnografia realizada em ambiente digital, entre 2014 e 2016, que resultou em uma tese de doutorado. Em um primeiro momento, explicita-se como é possível inscrever o suicídio em uma análise social, por meio de certos conceitos, como formas de vida, subjetividades e devir. A seguir são apresentados alguns sujeitos etnográficos e são analisados seus discursos de suicídio como uma forma de perda de um futuro imaginado, à luz de teorias recentes da antropologia fundamentadas nas subjetividades e nas experiências do sujeito. Assim, propõe-se uma mudança no entendimento do fenômeno do suicídio capaz de englobar também uma perspectiva multidisciplinar: mais do que um Mal a ser combatido a qualquer custo, o suicídio é, ao mesmo tempo, uma resposta e uma consequência, entranhadas na vida social e cultural, de violências e de sofrimentos sociais. Nesta intepretação, o suicídio pode ser entendido como ausência do devir ou como um devir extremo. Por fim, um olhar antropológico permite ampliar a compreensão do fenômeno, que deixa de ser somente um item nosográfico e passa a ser um elemento indissociável da experiência humana.Downloads
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