Opúsculo dos Mortos-Vivos: estigma e representação da lepra em periódicos brasileiros de início do século XX
DOI:
https://doi.org/10.9789/2525-3050.2025.v10n20.e13383Palavras-chave:
Representação da Lepra, Hanseníase, Mortos-Vivos, Horror, Imagem da morteResumo
Este artigo pretende analisar a representação da hanseníase em periódicos brasileiros das primeiras décadas do século XX, a fim de compreender a histórica associação dos leprosos à figura dos mortos-vivos, relacionada a arquétipos da impureza e do contágio. Nesse sentido, a análise e a interpretação das fontes – a saber, jornais e revistas de ampla circulação – revelam que era lugar-comum descrever os portadores da hanseníase não como doentes, mas como objetos de horror ou monstros e toda a sorte de epítetos pejorativos, referindo-se a esses indivíduos como seres fétido, podres e deformados, capazes de infligir medo, cometer malefícios e transferir sua condição de impureza através do contágio. Esta representação, que remonta à Antiguidade, era ainda recorrente no início do século XX, quando, em face do horror e da ameaça que a doença supostamente interpunha à modernização do Brasil, os periódicos defendiam rigorosas medidas sanitárias e de controle social, que incluíam políticas de segregação e confinamento. Então, via-se os leprosos como obstáculos para os preceitos higienistas da sociedade moderna; e, uma vez que os impressos reproduziam os valores burgueses, reforçavam constantemente representações calcadas no estigma e no preconceito.
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