ALUNAS ORIENTAIS EGRESSAS DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP: 1953 a 1970
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
História da enfermagem, Mulheres, História.Resumo
Bárbara Felix Fragazi da Silva
Orientador: Genival Fernandes de Freitas
Grupo de Pesquisa em História e Legislação da Enfermagem (EEUSP)
Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP
Descritores: História da enfermagem, Mulheres, História.
INTRODUÇÃO
Desde sua criação, a profissionalização oferecida pela Escola de Enfermagem da Universidade se São Paulo (EEUSP) refletia modernidade quanto ao ensino aplicado, pois oferecia além de formação teórica, campos de estágio que qualificavam “a nova profissional”.
Durante 17 anos, a EEUSP ofereceu para seus alunos o internato. Seja por seu projeto pedagógico, formação teórica, campos de estágio ou pelas facilidades deste sistema, a Escola atraía o interesse de muitas candidatas ao curso, na época. Os acordos entre a Fundação Rockefeller e o governo preconizavam a excelência da Escola, tendo em vista a possibilidade de ingresso de estudantes de diversas regiões do país, inclusvie do norte e nordeste, proporcionando, assim, uma chance para essas mulheres se capacitassem para uma atividade profissional. Por outro lado, o internato servia como uma motivação para formar enfermeiras profissionais para atuarem não somente no Brasil, mas em todo mundo.
Neste estudo, fez-se necessário entender o porquê da existência de um número considerável de estudantes orientais na EEUSP, visando saber o que as atraiu para a profissão. Foi possível contextualizar como era ser estudante de Enfermagem e ter descendência oriental, observando principalmente o comportamento dessas mulheres diante do regime que eram submetidas, uma vez que o aspecto cultural se mostrava de extrema importância para entender a postura das mesmas frente a muitas situações (Siles, 1999).
OBJETIVOS
O estudo teve como objetivos desvelar os significados e percepções de ex-alunas orientais internas na EEUSP no período de 1953 a 1970, período quando vigorou o regime de internato. Tornou-se indispensável, assim, analisar a vivência dessas mulheres, do período de Graduação até sua formação e atuação no campo de trabalho, além de contextualizar o período histórico em que elas se inseriram e os fatos relevantes de suas experiências na Universidade. Coube, então, desvelar e analisar fatos como os aspectos culturais – uma interface da cultura oriental com a escolha profissional, relações interpessoais na Escola com colegas e discentes, no campo de trabalho, com médicos e outros profissionais – para entendermos as experiências dessas mulheres na Graduação.
METODOLOGIA
O estudo utilizou a metodologia da história ora temática. Contudo, viu-se necessário resgatar a história pessoal da entrevistada, lidando em um primeiro bloco, com a história de vida da entrevistada, para depois abordar a historia oral temática, levando-se em conta o fato de estarmos abordando “fontes com algum nível de homogeneidade, e que se abram para a possibilidade de quantificar ou de serializar as informações ali perceptíveis no intuito de identificar regurlaridades” (Barros, 2004, p. 147). Os sujeitos da pesquisa foram as ex-alunas descendestes de orientais da EEUSP, no período de 1953 a 1970. Para a seleção dos sujeitos foram estabelecidos como critérios a facilidade de localização e a disponibilidade de cada colaboradora. Seguindo a metodologia preconizada pela história oral, a gravação dos depoimentos possibilitou a confecção de documentos escritos, que ao término da investigação passarão a integrar o acervo de fontes orais da EEUSP. A coleta dos dados ocorreu no período de 6 de fevereiro de 2009 a 4 de março de 2010, tendo sido realizadas oito entrevistas. Utilizou-se a análise de conteúdo proposta por Bardin para sistematizar os achados da pesquisa.
Como se trata de uma pesquisa com seres humanos, a mesma atende à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), sendo elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido, submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEUSP.
RESULTADOS
Os depoimentos revelaram-se ricos de conteúdo, possibilitando exemplificar situações e descrições do cotidiano das internas.
Assim, a maioria dos familiares das entrevistadas migrou para o Brasil a fim de trabalharem em lavouras e almejando um futuro melhor para os filhos, faziam questão que tivessem o ensino superior. As facilidades oferecidas pelo internato, atreladas ao fato de ser a enfermagem uma das poucas profissões que na época era predominantemente direcionada para mulheres, foram fatores relevantes na escolha do ofício. Foi possível comparar a grade curricular e os estágios do recorte temporal do estudo com o dos dias atuais.
Durante o período estudado, o Brasil vivenciou a Ditadura Militar e em todas as falas o assunto foi citado. As colaboradoras vêem uma relação de irmandade entre as companheiras de turma, e muitas vezes questionaram a postura de algumas professoras da época. Contudo, elas mostraram sempre uma imensa admiração pela diretora da Escola, Maria Rosa Sousa Pinheiro, tanto por sua intrigante personalidade quanto pela postura desta mulher frente a muitas situações.
Citaram, também, as tradicionais festas e confraternizações da EEUSP, como a festa junina, e a formação de grupos sociais como o Coral da USP, ambas respeitando as temidas medidas de disciplina impostas pela entidade.
CONCLUSÕES
O estudo possibilitou o registro de parte da memória das pessoas que vivenciaram o sistema de internato na EEUSP e, consequentemente, da própria história desta instituição, do ensino e das práticas de campo, das relações e interações das colaboradoras com seus mestres, com os pacientes e com outros agentes de saúde.
Deste modo, o estudo contribuiu para o entendimento da trajetória acadêmica das ex-alunas orientais no internato na EEUSP, os motivos da escolha profissional, os laços de amizade e a identidade formada a partir da convivência no espaço de estudo e moradia. Foi possível recuperar tanto a memória de uma época quanto parte da memória institucional da Escola.
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