RESGATANDO A MEMÓRIA DE AURORA DE AFONSO COSTA: UMA ABORDAGEM DE SUAS CONTRIBUIÇÕES TEORICO-PRÁTICAS PARA A ÁREA DA ENFERMAGEM
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
enfermagem, história enfemagem, biografiaResumo
Autores: Lorena Sabbadini da Silva, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente.
Descritores: Enfermagem; História da enfermagem; Biografia.
INTRODUÇÃO
Entre o corpo acadêmico da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa é comum o sentimento de admiração pela personagem que lhe dá nome. Porém, ao tentarmos recuperar sua atuação profissional são encontradas diversas lacunas, sendo esta a motivação para este trabalho, conhecer mais sobre a história de Aurora e sobre o legado que construiu e que permanece na cultura desta Escola que é conhecida por sua excelência em educação na área de enfermagem. Partindo do conceito de que a cultura de uma sociedade se dá, entre outros meios, através do resgate de sua história e memória, considerando memória como elemento na recuperação histórica, sendo um atributo pessoal e absoluto, a mesma indica como o homem se relaciona com o passado e com os elementos significativos deste passado, a história relaciona-se com as memórias produzidas coletivamente, ou seja, o que determinadas sociedades guardaram como referências do passado. Este trabalho é uma tentativa de realizar um recorte na biografia de Aurora de Afonso Costa, primeira diretora da Escola de Enfermagem da atual Universidade Federal Fluminense.
OBJETIVO
Portanto, este estudo tem como objetivo descrever parte da história profissional e das contribuições teórico-práticas para o ensino, pesquisa e assistência em enfermagem da professora Aurora de Afonso Costa, uma das pioneiras na enfermagem brasileira com sua participação expressiva na área da saúde, além de contribuir para o resgate de material documental que componha o acervo histórico desta escola de enfermagem.
METODOLOGIA
Para a busca destes dados, foi realizada uma visita inicial ao acervo documental da Escola de Enfermagem Anna Nery, já que esta instituição possui um número relevante de documentos referentes à Aurora. Este acervo é composto por diplomas de conclusão de cursos e especializações nacionais e internacionais, certificados de participação em associações de classe, conselhos fiscais e participação em congressos, diplomas de honras ao mérito, professor emérito, bem como documentos de fundação de periódicos nos quais participou como membro de conselhos diretores. Além disto, foram utilizados na elaboração do artigo pesquisa a bibliografia relacionada à Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, já que a vida desta profissional em sua maior parte foi dedicada e esteve entrelaçada a história desta escola.
RESULTADOS
Em vista disso, é necessário realizar um breve relato da criação desta escola de enfermagem. A idéia de se criar uma escola que seguisse o modelo oficial padrão em território fluminense surgiu com a industrialização e a urbanização brasileira que se intensificou na década de 1940. Neste contexto foram realizadas iniciativas importantes no campo da saúde pública tais como, saneamento básico da baixada fluminense e a criação de centros de saúde, além do melhoramento da rede básica hospitalar, tendo em vista a necessidade de proteger a saúde da população produtiva. Através do projeto de lei nº 1130 de 19 de abril de 1944 foi criada a Escola de Enfermagem, sendo reconhecida somente em 27 de janeiro de 1947, através do decreto nº 22.526. O objetivo da criação desta escola era o preparo de enfermeiras de alto padrão para os serviços de saúde pública e hospitalar. Em 1º de fevereiro de 1945 é realizada oficialmente a abertura do curso de enfermagem com a aula inaugural intitulada “História e Finalidade da Enfermagem”, proferida pelo professor Marcolino Candeau, representante da Organização Mundial da Saúde no Brasil OMS. Para dirigir esta escola de enfermagem de alto padrão do estado do Rio de Janeiro, era necessário escolher uma pessoa à altura do cargo. Como à época a Escola Anna Nery era considerada padrão de referência do modelo Nightingaleano, foi solicitado a então diretora D. Laís Netto Reys sugestões para a indicada ao cargo. Laís prontamente atendeu ao pedido e enviou uma lista com diversos nomes. Após o exame desta lista foi sufragado o nome de Aurora como escolhida para ocupar o cargo de diretora. Sua nomeação ocorreu em 09 de outubro de 1944. Dados que abordem a vida pessoal de Aurora são escassos no acervo histórico da Escola de Enfermagem Anna Nery. Sabe-se que Aurora também foi uma das enfermeiras diplomadas que rompeu com certos paradigmas da época, sendo um deles o casamento, Aurora não se casou, o que para a época, era algo mal visto, uma vez que persistia o entendimento de que a felicidade da mulher estava vinculada ao casamento, através do qual ela consolidava sua posição social e garantia sua prosperidade ou estabilidade econômica.Acredita-se que essa opção tenha ligação com sua total dedicação a vida profissional. Apenas dois documentos no acervo da EEAN datam até a época de sua eleição a diretoria da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, sendo estes a lista de ex-alunas da Escola Anna Nery, onde consta que Aurora fazia parte da Classe de 1927 e seu diploma original de conclusão do curso de Enfermagem da Escola Anna Nery, o qual informa que Aurora Gipscphila de Affonso Costa era filha de Affonso Costa, nascida em 04 de dezembro de 1904 e natural do Estado da Bahia, sendo curioso que este diploma não registra o nome de sua mãe. Tal diploma foi expedido no mesmo ano de conclusão de curso, porém somente em 29 de outubro de 1963 a então diretora da Escola Anna Nery, Waleska Paixão retificou o ano de nascimento de Aurora no verso do mesmo, declarando que o ano correto de seu nascimento seria 1903. Outro documento que compõe o acervo é o que relata a criação da revista “PIONEIRA”, na qual Aurora participava como vice-presidente da Comissão. No período de 03 a 09 de dezembro de 1950 ocorria o 4º Congresso Nacional de Enfermagem no qual Aurora apresentou seu artigo “Programa para o Curso de Auxiliar de Enfermagem”, onde é possível perceber a colaboração desta profissional para a expansão do corpo técnico na área. Tal colaboração iniciou-se em 1944, visto que no período de 25 a 30 de setembro deste ano, Aurora fez parte da terceira reunião de diretoras das Escolas de Enfermagem Brasileira, organizada e presidida por Laís Netto dos Reys, então diretora da EEAN, a pauta principal desta reunião foi justamente a possibilidade da criação do curso de auxiliares de enfermagem, participaram da reunião um total de dezesseis enfermeiras diplomadas, número total de escolas de enfermagem brasileiras à época. O local das reuniões era sempre o pavilhão de aulas da EEAN, ocorreram no total seis encontros e a presença de Aurora foi citada apenas no terceiro encontro. Merece destaque, dentre outros acontecimentos, a participação da Escola de Enfermagem, sob o comando de Aurora no planejamento e organização do Hospital Municipal Antônio Pedro- HUAP (1951) cabendo a responsabilidade à direção da Escola de Enfermagem, que designou seus docentes para o projeto em causa. Outro certificado encontrado que data de 14 de dezembro de 1954, época em que Aurora nos Estados Unidos da América (EUA), gera muito interesse. Foi emitido por um programa americano de capacitação FOREIGN OPERATIONS ADMINISTRATION, subordinado ao Departamento de Defesa daquele país. O fato é que este programa era dedicado à cooperação militar e econômica entre as nações do bloco capitalista do período da guerra fria que mantinham relações com os EUA. Estes dados podem indicar alguma participação de Aurora na vida política do Brasil, hipótese a ser testada. Ainda durante sua estadia nos EUA, Aurora participou de outros cursos de qualificação específicos da área de educação e saúde. Em seu retorno continuou engajada em sua jornada pela difusão de conhecimento na área de saúde, e aparentemente, disseminando o que aprendeu enquanto esteve fora, com participações no Primeiro Congresso Nacional de Hospitais e na Primeira Conferência Nacional de Diretores de Serviços de Assistência Hospitalar que ocorreram no período de 26 de junho a 02 de julho de 1955, promovidos pelo Ministério da Saúde. Em dezembro de 1959, ocorria o 14º congresso Brasileiro de Higiene, promovido pela Sociedade Brasileira de Higiene, onde Aurora participou como membro efetivo, título este, que Aurora recebeu em todas as suas participações congressistas. Outro título de grande importância é o de Professora do ano, concedida a ela pelos relevantes serviços prestados à classe pela União Fluminense de estudantes no XVII Congresso Fluminense de Estudantes que ocorreu em 30 de setembro de 1961. Da mesma forma foi agraciada pelo Clube da amizade dos Universitários Fluminenses por três anos consecutivos a contar do ano de 1963. Consta nestes documentos que Aurora fez parte do conselho fiscal da Associação Brasileira de Enfermagem, seção Rio de janeiro por três mandatos não consecutivos, o que demonstra que a mesma estava sempre ligada às atividades exercidas por tal instituição. Participou como membro efetivo do II Congresso Brasileiro de Pedagogia Aplicada à Enfermagem em outubro de 1965, promovido pela Escola de Enfermagem do Estado Guanabara. Já em 1984, aposentada, recebeu do então Prefeito do município de Niterói o diploma de Ordem do Mérito de Araribóia, título concedido a pessoas ilustres que fizeram presença em território fluminense.
CONCLUSÃO
Estes são apenas alguns títulos que Aurora de Afonso Costa conquistou ao longo de sua carreira como personagem importante na história da enfermagem brasileira, porém, ressalta o quanto esta mulher se dedicou para a expansão de conhecimentos relacionados à enfermagem no Brasil. No entanto, lacunas sobre a vida pessoal e profissional de Aurora ainda são encontradas, o que implica na necessidade de um estudo mais aprofundado, já que a nossa intenção inicial é de contribuir para o resgate documental sobre a vida desta personagem.
A partir deste trabalho esperamos contribuir com o resgate da memória de Aurora de Afonso Costa, para a constante formação da identidade da enfermagem brasileira, fornecendo elementos que possibilitem a realização de outros estudos históricos, já que a construção de uma memória coletiva é o que possibilita a tomada daquilo que somos, enquanto produto histórico e desenvolvimento da (re)construção da identidade profissional.
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