OS ANTIRETROVIRAIS NO COTIDIANO DE IDOSOS SOROPOSITIVOS: UM ESTUDO A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
HIV na Terceira Idade, Antiretrovirais, HIV/AIDSResumo
Descritores: HIV na Terceira Idade; Antiretrovirais; HIV/AIDS;
INTRODUÇÃO
Este estudo é integrante do projeto de pesquisa “As transformações do cuidado de saúde e de enfermagem em tempos de aids: representações sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil”. A aids se trata de um fenômeno biológico e psicossocial impactante nos princípios morais, religiosos e éticos; na formulação de políticas públicas de saúde, nas relações interpessoais, nas questões relativas à sexualidade e na moralidade conjugal (SEFFNER, 2005). O estudo intitulado: “Atitudes sociais sobre aids e velhice” reflete a prevalência de concepções divergentes acerca do comportamento de idosos frente à sua soropositividade. Entre as crenças sociais destacam-se aquelas que correlacionam, automaticamente, a senilidade ao decréscimo da libido e atribuem heterossexualidade e monogamia a todo e qualquer tipo de relação sexual entre idosos, bem como desacreditam em qualquer em possibilidade de uso de drogas neste grupo populacional.
OBJETIVO
Analisar a apreensão do diagnóstico de soropositividade para o HIV em idosos e sua interface com as representações sociais da Aids, mediante o convívio com o vírus e as dificuldades em potencial para a adesão ao tratamento com antiretrovirais.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo qualitativo, realizada sob o arcabouço teórico e metodológico das Representações Sociais. Participaram da pesquisa 20 idosos atendidos no ambulatório de Imunologia e de Doenças Infecto-parasitárias de um hospital universitário do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e foi realizada Análise de Conteúdo proposta por Bardin sistematizada por Oliveira (2008). Esta pesquisa foi submetida à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPq) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), atendendo a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
A aids e a condição de soropositivo para o HIV foram incorporados à vida dos sujeitos do estudo de formas distintas e, contudo, afetando-os profundamente. Para alguns deles, parece não ter havido mudanças drásticas no estilo de vida. A condição de estar com HIV/Aids é incorporada como mais um aspecto a ser vivenciado, não se modificando em comparação ao modo de vida anterior ao diagnóstico. Apesar dos medos e das dificuldades de convivência com alguns elementos estressores do dia-a-dia e da própria doença, o desejo de viver e de aproveitar a vida ainda são preservados, originando sentimentos de esperança. Estes idosos parecem aproveitar o tempo com ocupações e distrações, além de construir uma forma particular de conviver com o HIV/Aids. Já para outros indivíduos pesquisados também pertencentes à terceira idade, o cotidiano com a doença se mostra elaborado a partir das mudanças impostas pela necessidade de voltar à condição de “normalidade” existente antes do diagnóstico. As mudanças neste cotidiano, concebidas como obrigatórias, giram em torno do tratamento e do enfrentamento da situação. Por isso, estes idosos encaram a doença como um ritual, afirmando ser necessário se tratar muito bem para evitar a progressão da doença. O tratamento médico, neste caso, passa a ser visto como um recurso indispensável à sobrevivência e, somado aos medicamentos, inserem mudanças nos hábitos de vida no dia-a-dia destes indivíduos, cujo objetivo é a melhoria na qualidade de vida (PROVINCIALI, 2005). O número e apresentação de comprimidos a ingerir, a diminuição do metabolismo orgânico, bem como outros fatores, representam algumas das dificuldades de adesão ao tratamento com antiretrovirais entre os sujeitos da pesquisa. Logo, verificou-se a necessidade de criação de equipes interdisciplinares, treinadas para proporcionar cuidados especializados dirigidos à terceira idade, de forma a se evitar a assistência baseada em modelos de saúde exclusivamente medicalizantes. O atendimento psicossocial também se mostrou imprescindível, uma vez que o atendimento médico e a prescrição dos medicamentos parecem não serem suficientes para promover a adesão ao tratamento, já que percepções negativas por parte dos indivíduos estudados parecem ser responsáveis por suspensões voluntárias do tratamento ou ingestões indevidamente controladas das doses dos antiretrovirais. Segundo Strombeck e Levy (1998), em comparação com os jovens, eles experimentam um sentimento maior de isolamento, vergonha e culpa e ainda convivem com doenças e problemas que já são característicos dessa fase da vida.
CONCLUSÕES
Concluiu-se que apesar do enfrentamento da condição de soropositividade entre idosos apresentar certas divergências, o diagnóstico do HIV e a representação social da síndrome para eles apresentam-se como fatores que causam uma série de alterações relacionadas às perdas físicas, psicológicas e sociais diferenciadas que são características desse grupo, visto que os idosos possuem necessidades médicas e psicossociais peculiares à sua faixa etária. Os resultados encontrados expressam que as representações do conviver com HIV na terceira idade estruturam-se na interface da pluralidade e complexidade do funcionamento de elementos comportamentais em busca de viver com qualidade mesmo diante da cronicidade do diagnóstico. Os idosos se mostram afetados profundamente com a descoberta da doença através do diagnóstico médico, uma vez que o processo de envelhecimento associado a uma patologia associada implica na necessidade de manejo do medicamento e seus efeitos colaterais, o que causa, frequentemente, resistência ou desistência do tratamento. A compreensão do modo de enfrentamento dessa doença, assim como da identificação das mudanças causadas nos hábitos de vida dos membros desse grupo populacional, contribui para que ações possam ser elaboradas e executadas para uma adaptação mais efetiva dos idosos à nova realidade vivida após o diagnóstico da doença, o que pode auxiliar o processo de redução da mortalidade por aids na terceira idade.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, D.C. Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de operacionalização. R. Enferm. UERJ [online] v. 16, n. 4, p.569-76, out./dez. 2008. Disponível em: <http://lildbi.bireme.br/lildbi/docsonline/lilacs/20090500/409_v16n4a19.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2010.
PROVINCIALI, R.M. O convívio com HIV/Aids em pessoas da terceira idade e suas representações: vulnerabilidade e enfrentamento. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 2005 126p.
SEFFNER, F. O conceito de vulnerabilidade: uma ferramenta útil em seu consultório. Site do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. [online] Disponível em: <http://www.aids.gov.br/final/dh/afroatitude/vulnerabilidade_protagonismo/vulnerabilidade>. Acesso em: 03 set. 2010.
STROMBECK, R.; LEVY, J. A. Educational strategies and interventions targeting adults age 50 and older for HIV/Aids prevention. Research on agin. [online] v.20, n.6, p.912-936, 1998. Disponível em: < http://roa.sagepub.com/content/20/6/912.full.pdf+html>. Acesso em: 03 set. 2010.
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