OS ANTIRETROVIRAIS NO COTIDIANO DE IDOSOS SOROPOSITIVOS: UM ESTUDO A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Autores

  • Renan Santos Lima Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Elias Gomes de Oliveira UERJ
  • Denise Cristina de Oliveira Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
  • Antônio Marcos Tosoli Gomes
  • Érick Igor dos Santos Programa de Mestrado em Enfermagem da UERJ

DOI:

https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25p

Palavras-chave:

HIV na Terceira Idade, Antiretrovirais, HIV/AIDS

Resumo

Descritores: HIV na Terceira Idade; Antiretrovirais; HIV/AIDS;

INTRODUÇÃO

Este estudo é integrante do projeto de pesquisa “As transformações do cuidado de saúde e de enfermagem em tempos de aids: representações sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil”. A aids se trata de um fenômeno biológico e psicossocial impactante nos princípios morais, religiosos e éticos; na formulação de políticas públicas de saúde, nas relações interpessoais, nas questões relativas à sexualidade e na moralidade conjugal (SEFFNER, 2005). O estudo intitulado: “Atitudes sociais sobre aids e velhice” reflete a prevalência de concepções divergentes acerca do comportamento de idosos frente à sua soropositividade. Entre as crenças sociais destacam-se aquelas que correlacionam, automaticamente, a senilidade ao decréscimo da libido e atribuem heterossexualidade e monogamia a todo e qualquer tipo de relação sexual entre idosos, bem como desacreditam em qualquer em possibilidade de uso de drogas neste grupo populacional.

OBJETIVO        

Analisar a apreensão do diagnóstico de soropositividade para o HIV em idosos e sua interface com as representações sociais da Aids, mediante o convívio com o vírus e as dificuldades em potencial para a adesão ao tratamento com antiretrovirais.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo qualitativo, realizada sob o arcabouço teórico e metodológico das Representações Sociais. Participaram da pesquisa 20 idosos atendidos no ambulatório de Imunologia e de Doenças Infecto-parasitárias de um hospital universitário do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e foi realizada Análise de Conteúdo proposta por Bardin sistematizada por Oliveira (2008). Esta pesquisa foi submetida à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPq) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), atendendo a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

A aids e a condição de soropositivo para o HIV foram incorporados à vida dos sujeitos do estudo de formas distintas e, contudo, afetando-os profundamente. Para alguns deles, parece não ter havido mudanças drásticas no estilo de vida. A condição de estar com HIV/Aids é incorporada como mais um aspecto a ser vivenciado, não se modificando em comparação ao modo de vida anterior ao diagnóstico. Apesar dos medos e das dificuldades de convivência com alguns elementos estressores do dia-a-dia e da própria doença, o desejo de viver e de aproveitar a vida ainda são preservados, originando sentimentos de esperança. Estes idosos parecem aproveitar o tempo com ocupações e distrações, além de construir uma forma particular de conviver com o HIV/Aids. Já para outros indivíduos pesquisados também pertencentes à terceira idade, o cotidiano com a doença se mostra elaborado a partir das mudanças impostas pela necessidade de voltar à condição de “normalidade” existente antes do diagnóstico. As mudanças neste cotidiano, concebidas como obrigatórias, giram em torno do tratamento e do enfrentamento da situação. Por isso, estes idosos encaram a doença como um ritual, afirmando ser necessário se tratar muito bem para evitar a progressão da doença. O tratamento médico, neste caso, passa a ser visto como um recurso indispensável à sobrevivência e, somado aos medicamentos, inserem mudanças nos hábitos de vida no dia-a-dia destes indivíduos, cujo objetivo é a melhoria na qualidade de vida (PROVINCIALI, 2005). O número e apresentação de comprimidos a ingerir, a diminuição do metabolismo orgânico, bem como outros fatores, representam algumas das dificuldades de adesão ao tratamento com antiretrovirais entre os sujeitos da pesquisa. Logo, verificou-se a necessidade de criação de equipes interdisciplinares, treinadas para proporcionar cuidados especializados dirigidos à terceira idade, de forma a se evitar a assistência baseada em modelos de saúde exclusivamente medicalizantes. O atendimento psicossocial também se mostrou imprescindível, uma vez que o atendimento médico e a prescrição dos medicamentos parecem não serem suficientes para promover a adesão ao tratamento, já que percepções negativas por parte dos indivíduos estudados parecem ser responsáveis por suspensões voluntárias do tratamento ou ingestões indevidamente controladas das doses dos antiretrovirais. Segundo Strombeck e Levy (1998), em comparação com os jovens, eles experimentam um sentimento maior de isolamento, vergonha e culpa e ainda convivem com doenças e problemas que já são característicos dessa fase da vida.

CONCLUSÕES

Concluiu-se que apesar do enfrentamento da condição de soropositividade entre idosos apresentar certas divergências, o diagnóstico do HIV e a representação social da síndrome para eles apresentam-se como fatores que causam uma série de alterações relacionadas às perdas físicas, psicológicas e sociais diferenciadas que são características desse grupo, visto que os idosos possuem necessidades médicas e psicossociais peculiares à sua faixa etária. Os resultados encontrados expressam que as representações do conviver com HIV na terceira idade estruturam-se na interface da pluralidade e complexidade do funcionamento de elementos comportamentais em busca de viver com qualidade mesmo diante da cronicidade do diagnóstico. Os idosos se mostram afetados profundamente com a descoberta da doença através do diagnóstico médico, uma vez que o processo de envelhecimento associado a uma patologia associada implica na necessidade de manejo do medicamento e seus efeitos colaterais, o que causa, frequentemente, resistência ou desistência do tratamento. A compreensão do modo de enfrentamento dessa doença, assim como da identificação das mudanças causadas nos hábitos de vida dos membros desse grupo populacional, contribui para que ações possam ser elaboradas e executadas para uma adaptação mais efetiva dos idosos à nova realidade vivida após o diagnóstico da doença, o que pode auxiliar o processo de redução da mortalidade por aids na terceira idade.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, D.C. Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de operacionalização.  R. Enferm. UERJ [online] v. 16, n. 4, p.569-76, out./dez. 2008. Disponível em: <http://lildbi.bireme.br/lildbi/docsonline/lilacs/20090500/409_v16n4a19.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2010.

PROVINCIALI, R.M. O convívio com HIV/Aids em pessoas da terceira idade e suas representações: vulnerabilidade e enfrentamento. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 2005 126p.

SEFFNER, F. O conceito de vulnerabilidade: uma ferramenta útil em seu consultório. Site do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. [online] Disponível em: <http://www.aids.gov.br/final/dh/afroatitude/vulnerabilidade_protagonismo/vulnerabilidade>. Acesso em: 03 set. 2010.

STROMBECK, R.; LEVY, J. A. Educational strategies and interventions targeting adults age 50 and older for HIV/Aids prevention. Research on agin. [online] v.20, n.6, p.912-936, 1998. Disponível em: < http://roa.sagepub.com/content/20/6/912.full.pdf+html>. Acesso em: 03 set. 2010.

 

 

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Biografia do Autor

Renan Santos Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Acadêmico de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem/UERJ. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/ UERJ, inserido no grupo de pesquisa “Promoção da Saúde e Práticas de Cuidado de Enfermagem e Saúde de Grupos Populacionais” (UERJ). Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UERJ pelo projeto "HIV/AIDS e suas Expressões na Sociedade: representações sociais, memórias e práticas sócio-profissionais."  

Elias Gomes de Oliveira, UERJ

Mestre em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem/UERJ. 

 

Denise Cristina de Oliveira, Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Professora Titular da Área de Pesquisa e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem/UERJ, coordenadora do Grupo de Pesquisa “A Atenção à Saúde de Grupos Populacionais”; pesquisadora do CNPQ.

Antônio Marcos Tosoli, Gomes

Doutor em Enfermagem, Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Professor adjunto do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgico e do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ.

Érick Igor dos Santos, Programa de Mestrado em Enfermagem da UERJ

Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem pelo Programa de Pós graduação da Faculdade de Enfermagem da UERJ. 

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Publicado

2011-01-04

Como Citar

1.
Lima RS, Oliveira EG de, Oliveira DC de, Tosoli AM, Santos Érick I dos. OS ANTIRETROVIRAIS NO COTIDIANO DE IDOSOS SOROPOSITIVOS: UM ESTUDO A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online) [Internet]. 4º de janeiro de 2011 [citado 22º de dezembro de 2024];. Disponível em: https://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/1194

Edição

Seção

Revisão Sistemática de Literatura

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