OBESIDADE ABDOMINAL ASSOCIADA A FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES: ABORDAGEM DE ENFERMAGEM
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
Obesidade abdominal, Cuidados de Enfermagem, Fatores de Risco.Resumo
INTRODUÇÃO:
A obesidade já se tornou uma epidemia e um grave problema de saúde pública. Diversos fatores são relevantes no seu surgimento, como os genéticos, fisiológicos dentre outros, entretanto, a crescente taxa de indivíduos obesos é decorrente de fatores externos, relacionados à mudança no estilo de vida e hábitos alimentares, que surgiram a partir do desenvolvimento tecnológico e social das populações. O consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos concomitante a uma diminuição na prática de atividades físicas tem sido apontados como importantes contribuintes para o agravo do caso. A obesidade está associada a um grande número de condições crônicas de saúde: resistência à insulina, intolerância à glicose, diabetes mellitus, hipertensão, dislipidemia, síndrome metabólica, dentre outras, além de ser um fator de risco independente para doenças cardiovasculares. A influência da obesidade sobre as cardiopatias e outras co-morbidades está aumentada quando o excesso de gordura corpórea se dá predominantemente no abdômen, caracterizando a obesidade abdominal ou andróide. A medida da circunferência abdominal é o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal e de aferição mais simples e reprodutível.
OBJETIVOS:
Determinar a associação da circunferência abdominal como um possível fator de risco cardiovascular; avaliar os hábitos de vida de um grupo de indivíduos relacionando fatores condicionantes ao surgimento da síndrome metabólica e discutir medidas de intervenção eficazes.
METODOLOGIA:
Estudo transversal, descritivo-exploratório com abordagem quantitativa, vinculado ao Projeto: O Cuidado de Enfermagem na Saúde Cardiovascular: Prevenção e Controle dos Fatores de Risco, realizado no Hospital Escola São Francisco de Assis (HESFA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEAN/HESFA, protocolo nº 069/07. A amostra foi de 188 clientes adultos, de ambos os sexos, atendidos no ambulatório da referida instituição. As entrevistas foram realizadas através de um instrumento com questões sobre características sócio-ambientais, hábitos de vida e condições de saúde. Foram mensurados peso, altura e circunferência abdominal. A circunferência abdominal foi medida estando o sujeito com o mínimo de roupa possível, com a fita métrica, flexível e inextensível, passando pela cicatriz umbilical. Aqueles com circunferência abdominal acima de 102 cm, no caso de homens, e acima de 88 cm, em se tratando de mulheres, foram caracterizados como portadores de obesidade abdominal. Para determinar a prevalência da síndrome metabólica na população estudada utilizaram-se os critérios definidos pelo National Cholesterol Education Program’s Panel (NCEP-ATP III) e referenciados pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I DBSM). Dessa forma, o diagnóstico foi determinado pela presença de três ou mais dos seguintes componentes: circunferência abdominal maior que 102 cm em homens e 88 cm em mulheres; níveis pressóricos ≥ 130 ou 85 mmHg; glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL, HDL-c < 40 mg/dL para homens e < 50 mg/dL para mulheres e triglicérides ≥ 150 mg/dL. A consulta documental foi feita no prontuário dos clientes, para obtenção de dados laboratoriais (níveis de triglicerídeos, colesterol total, HDL-c, LDL-c, glicemia em jejum). Os resultados foram organizados em planilhas eletrônicas e analisados utilizando o método de estatística descritiva, de freqüência simples e percentual. Foram respeitados todos os aspectos éticos em pesquisa, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS:
A prevalência de indivíduos com obesidade abdominal foi de 66%, sendo as mulheres mais acometidas que os homens (72,4% vs. 41,7%). No caso das mulheres, a deficiência estrogênica decorrente da menopausa está relacionada com o início de um novo padrão de distribuição de gordura corporal, deixando de ser glúteo-femural ou ginecóide para ser abdominal ou andróide e está associada, ainda, ao aparecimento de outras alterações como aumento da concentração de triglicérides e redução dos níveis de HDL-c, além da elevação da glicemia e da insulinemia, caracterizando assim como uma condição de maior risco cardiovascular. Com relação aos grupos de alimentos mais consumidos, houve uma maior incidência na categoria de cereais massas e pães, abrangendo 34,6% do total. A ingestão de alimentos hipercalóricos combinada com a diminuição da prática de exercícios físicos é a principal razão para o crescente aumento da obesidade no mundo. O sedentarismo, um parâmetro importante para avaliação de riscos para diversas patologias esteve presente em 67,6% dos indivíduos. A inatividade física da vida moderna parece ser o maior fator etiológico do crescimento dessa doença nas sociedades industrializadas e a prática regular de atividade física tem sido recomendada para a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares. A síndrome metabólica foi observada em 70 indivíduos perfazendo um total de 37,2% dos entrevistados. Dos clientes que apresentaram obesidade abdominal 53,5% possuíam triglicérides acima do normal e 78,5% apresentavam hipertensão arterial sistêmica. A circunferência abdominal aumentada foi o fator de maior associação com estes dois últimos índices. É importante ressaltar a íntima relação entre a obesidade abdominal e o surgimento da síndrome metabólica. No presente estudo, a freqüência de síndrome metabólica também se apresentou maior neste grupo. A obesidade, portanto, se traduz em importante condição clínica que requer uma abordagem efetiva, especialmente no que se refere à prevenção primária e secundária das doenças cardiovasculares. Evidências científicas mostram que modestas intervenções no estilo de vida têm impacto na diminuição do risco cardiovascular, sempre considerando que tais modificações devem ser realizadas de maneira gradual e com metas alcançáveis. Dessa forma, os indivíduos devem ser estimulados a adotar alimentação equilibrada, praticar regularmente atividades físicas e perder peso, medidas que levam ao controle da pressão arterial, da glicemia, do colesterol e a melhora do peso. A abordagem à saúde que propicia informação, apoio e monitoramento constante pode melhorar a aderência a práticas saudáveis, o que reduzirá a carga das condições crônicas e proporcionará melhor qualidade de vida aos clientes.
CONCLUSÕES:
Diante desse quadro percebe-se a importância no gerenciamento de medidas de intervenção educativas para o combate e prevenção dos fatores de riscos cardiovasculares. As orientações não devem se restringir ao consultório, ambientes hospitalares ou postos de saúde. Devem abranger áreas como escolas, empresas, instituições em geral, para que a prevenção primária seja realmente aplicada, uma vez que muitos indivíduos só procuram a assistência hospitalar quando já instalada a co-morbidade. O enfermeiro exerce um papel crucial no gerenciamento do cuidado, principalmente no que tange as orientações e em atividades de reabilitação de clientes com patologias cardiovasculares, estabelecendo estratégias para redução de riscos e tendo a sensibilidade de adequá-las a realidade de cada um. A possibilidade de prevenção dos fatores de risco para doenças cardiovasculares, através de ações de saúde, é uma realidade que deve ser explorada pelo enfermeiro em benefício à manutenção da vida, saúde e bem estar do cliente. A medida da circunferência abdominal como um indicador da obesidade e sua associação com o aumento do risco cardiovascular sugerem a inclusão dessa medida nas práticas de enfermagem como uma intervenção para o acompanhamento e monitorização da saúde da população.
REFERÊNCIAS:
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