MANIFESTAÇÕES DO CUIDAR POPULAR E PROFISSIONAL NO COTIDIANO DE SAÚDE DE FAMÍLIAS RIBEIRINHAS DA ILHA DO COMBU
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pResumen
INTRODUÇÃO: Trata-se de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Graduação em Enfermagem, da Universidade do Estado do Pará (UEPA), em dezembro de 2010, o qual foi escolhido por tal Universidade a receber o prêmio de melhor TCC em Enfermagem. De acordo com Teixeira (2001), antes o cuidar buscava o equilíbrio homem-natureza. Hoje, temos ciências naturais que não são ciências da natureza, não se baseiam na experiência da vida. Esta arte de cuidar se perdeu no pensamento moderno. O “cuidar cotidiano” é entendido aqui como um conjunto de ações de cuidar da saúde, desenvolvido pelas comunidades em busca de qualidade de vida, em busca de saúde ou em busca de melhores condições de saúde ou ainda em busca de um atendimento, em casos de doença, tomando como referência a casa onde moram e o lugar onde vivem. O cuidar cotidiano de saúde indica a disposição para a vida e a sobrevivência, indica tanto um pensar como um fazer, envolvido e envolvendo-se com os ecossistemas onde está circunscrito. A noção de cuidar cotidiano de saúde comporta a promoção, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento, a cura e a reabilitação. Portanto, comporta multiterapêuticas. O cuidar de saúde também comporta uma ação individual (cuidar do eu ou autocuidado), uma ação coletiva (cuidar do outro e/ou família), e uma ação local (cuidar da casa e do lugar de vida). Portanto, comporta multiextensões (cuidar do eu, cuidar do outro/família, cuidar da casa, cuidar do lugar). Ainda envolve um conjunto de aspectos interativos, cognitivos e conectivos, comportando, enfim, multidimensões. (TEIXEIRA, 2001, p.45). Nosso interesse foi conhecer as manifestações do Cuidar Popular e Profissional no cotidiano de saúde de famílias ribeirinhas da Ilha do Combu. As práticas populares de saúde representam um importante aspecto a ser considerado na perspectiva das populações ribeirinhas alcançarem seu direito ao cuidado individual e coletivo. A identificação e valorização de saberes e fazeres populares passa a ser uma questão relevante para avançarmos na busca da garantia do direito à saúde. Além disso, é importante para nós, acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da UEPA, estudar as multiterapêuticas do cuidar cotidiano de saúde, pois nos auxiliará obter novos conhecimentos e estabelecer interações com diferentes atores-sujeitos-usuários. Nesse modo de pensar, Leininger (apud GEORGE, 2000) faz uma distinção entre dois sistemas de saúde existentes na sociedade: um refere-se aos sistemas de cuidados populares de saúde, ou sistemas “folk”; e o outro, diz respeito aos sistemas de cuidados profissionais de saúde. A autora pressupõe, ainda, que todos os tipos de culturas possuem práticas de cuidado à saúde desses dois tipos de sistemas, os profissionais e os populares. OBJETIVOS: Este estudo objetivou conhecer as manifestações do Cuidar Popular e Profissional no cotidiano de saúde de famílias ribeirinhas da Ilha do Combu. As práticas populares de saúde representam um importante aspecto a ser considerado na perspectiva das populações ribeirinhas alcançarem seu direito ao cuidado individual e coletivo. Buscou-se também identificar quais práticas representativas do cuidar popular são desenvolvidas pelas famílias no cotidiano de saúde na Ilha do Combu; constatar quais práticas representativas do cuidar profissional são desenvolvidas pelas famílias no cotidiano de saúde na Ilha do Combu e verificar qual o posicionamento dos enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde da Equipe Saúde da Família frente ao cuidar popular. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo com abordagem de natureza qualitativa, apoiado no método etnográfico, utilizando a técnica da observação participante para coleta dos dados, os quais ocorreram em quatro momentos distintos: visita à Unidade de Saúde da Ilha e levantamento das famílias que apresentam manifestações do cuidar popular e profissional no seu cotidiano de saúde; observação participante das famílias; entrevista semi-estruturada com os membros das famílias observadas e grupo focal com os profissionais da Equipe de Saúde da Família. Fizeram parte do estudo 07 famílias moradoras da Ilha do Combu e 06 profissionais da Equipe de Saúde da Família da referida ilha. Depois que realizamos a coleta de dados, partimos para a análise dos dados que, para Barros e Lehfeld significa buscar o sentido mais explicativo dos resultados da pesquisa. Significa ler através dos índices, dos percentuais obtidos, a partir da medição e tabulação dos dados, ou de leitura e decomposição de depoimentos obtidos em pesquisas com ênfase na abordagem metodológica mais qualitativa (2005, p. 87). Lançamos mão da análise de conteúdo, a fim de encontrar idéias-chave temáticas esclarecedoras das questões norteadoras e ampliar o conhecimento sobre o tema articulando-o com o contexto, já que segundo Barros e Lehfeld (2005), “ela tem como objeto de estudo a linguagem e busca a melhor compreensão da comunicação ou discurso, aprofundando suas características gramaticais às ideológicas e outras, além de extrair os aspectos mais relevantes.” (p.96). RESULTADOS: Os resultados foram obtidos a partir das falas dos atores sociais, agrupados de acordo com a técnica de organização dos dados em categorias e subsidiados com a literatura acerca dessa temática. Diversos cuidados populares foram mencionados por estas famílias, entre eles podemos apontar a utilização de chás caseiros, rezas, emplastos, banhas, crença religiosa enquanto recurso de assistência à saúde, entre outros. Percebemos, ainda que as famílias costumam procurar os serviços formais de saúde que lhes é oferecido, no entanto, primeiro recorrem às alternativas populares para resolver os seus problemas de saúde-doença. Dessa forma, os profissionais da Equipe de Saúde da Família têm que se adequar para prestar assistência contínua à comunidade, sem desrespeitar seus costumes e crenças, uma vez que estas formas de expressão do cuidado não ocorrem de maneira isolada, mas sim apresentam-se imbricadas na vida das pessoas, portanto precisam ser conhecidas e valorizadas pelos profissionais da saúde. CONCLUSÕES: Conhecer as manifestações do cuidar popular e profissional no cotidiano de saúde de famílias ribeirinhas da Ilha do Combu configurou-se como a mola propulsora para o desenvolvimento desta pesquisa. Identificamos um vasto campo de utilização de práticas representativas do cuidar popular no cotidiano de saúde de famílias ribeirinhas. As famílias costumam procurar os serviços formais de saúde que lhes é oferecido, no entanto, primeiro recorrem às alternativas populares para resolver os seus problemas de saúde-doença. É interessante enfatizarmos a cultura como fator norteador do trabalho em saúde. Nota-se uma postura harmoniosa e prudente dos profissionais da ESF, diante do saber popular, mas com devida intervenção quando este oferece perigo à saúde dos indivíduos. O trabalho em saúde exige a formação de profissionais os quais, além de possuírem competência técnica e política, sejam sensíveis à realidade da comunidade em que estão desenvolvendo o seu trabalho. Sugeriu-se para a Equipe de Saúde da Família: o conhecimento do território de atuação da equipe, em relação a fatores sócio-econômico-culturais de suas famílias; valorização das práticas populares de saúde por parte da equipe como forma de cuidado; realização de programas informativos à população do território do PSF quanto aos objetivos do PSF, direitos e deveres dos usuários, atividades específicas, composição da ESF e suas atribuições gerais e específicas. Para os cuidadores familiares: o conhecimento dos objetivos do PSF, direitos e deveres dos usuários, atividades específicas, composição da ESF e suas atribuições gerais e específicas e entendimento e valorização das práticas do cuidar profissional, como recurso de cuidado à saúde aliado aos seus saberes. Para a comunidade acadêmico-científico em geral: o desenvolvimento de temas afins a esta linha de pesquisa para o aprimoramento das discussões relativas às manifestações do cuidar popular e profissional, no cotidiano de saúde, expansão desta pesquisa para outros territórios, além dos rios e travessias da ilha do Combu, valorização das práticas populares de saúde, como forma de cuidado e produto cultural, aliado como uma nova forma de saber adquirido no período de formação.
REFERÊNCIAS:
BARROS, A.J.P.; LEHEFELD, N.A.S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 16. Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
LEININGER, M. M. Teoria do cuidado Transcultural: Diversidade e Universalidade. In: Anais Primeiro SIBRATEN UFSC. Florianópolis, 20-24 maio de 1985.
TEIXEIRA, E. Travessias, redes e nós: complexidade do cuidar cotidiano de saúde entre ribeirinhos. Belém: Gráfica e Editora Ltda, 2001.
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