IMAGENS NA MÍDIA DAS ENFERMEIRAS DA FEB ENQUANTO AGENTES POLÍTICOS DA ALIANÇA GOVERNO VARGAS, EXÉRCITO BRASILEIRO E IGREJA CATÓLICA
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
História, enfermagem, jornalismoResumo
INTRODUÇÃO
Em virtude da solicitação imposta pelos aliados norte-americanos que constatavam o cansaço de suas enfermeiras foi criado para atuar na FEB, um Quadro de Enfermeiras, Estas iniciaram o voluntariado em 9 de outubro de 1943, sendo selecionadas, com chamada publicada no jornal "O Globo". Para a absorção do habitus militar o treinamento oferecido representou estratégia de homogeinização do comportamento das candidatas.
OBJETIVO
Trata-se de uma pesquisa histórico-social que tem como objetivo analisar a divulgação e utilização das imagens iconográficas das enfermeiras do Exército na Força Expedicionária Brasileira (FEB) enquanto agentes políticos pelo Governo Vargas, Exército e Igreja Católica durante a 2ª Guerra Mundial.
METODOLOGIA
Utilizamos como fontes primárias três fotografias da época, articuladas aos depoimentos orais de dezenove agentes. Essa modalidade de obtenção de dados possibilitou criar um método de pesquisa que denominamos Analítico Fotográfico Oral. As fotos foram escolhidas no acervo iconográfico do Exército localizado no Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro. As fontes secundárias foram os acervos literários sobre o contexto histórico social da época. Os dados foram analisados à luz dos conceitos de Pierre Bourdieu.
RESULTADOS
Os resultados evidenciaram no arranjo fotográfico (foto 1) a preparação física das enfermeiras. Este foi publicado no jornal "A Noite Ilustrada" (11/04/1944) e a matéria informava: “Enfermeiras da Reserva do Exército, Rigorosa preparação técnica- Exercícios para todas as emergências em campanha - Uma brilhante demonstração”. O treinamento foi dirigido por Belo e as enfermeiras fizeram subidas em cabo, saltos, marchas rastejantes, corridas e natação com Maria Lenk. O arranjo fotográfico possui seis fotos ocupando as páginas centrais do jornal. As fotos divulgadas proporcionou visibilidade ao grupo que pretendia ingressar num campo inédito na história da Enfermagem brasileira. Para a Enfermeira Bertha Moraes o aprendizado era para adquirir força muscular para suportar agruras da guerra, acrescentando que fizeram os mesmos exercícios que os soldados faziam, aguardando partir para o front. A depoente Enfermeira Virgínia Niemeyer Portocarrero narra que as fotos foram feitas na Urca, na pista de atletismo da Escola de Educação Física do Exército, sendo Bastante pesado o treinamento. A Enfermeira Elza Cansanção afirma que agüentaram firme, mas, foi muito difícil. Para as depoentes essas práticas eram reconhecidas como necessárias para o cumprimento das determinações e entendiam que a não absorção destas práticas implicava na exclusão do grupo. O treinamento tinha como objetivo prepará-las para desempenhar com desembaraço e vigor, as múltiplas atividades que as esperavam no front. Todo o treinamento físico moldou seus corpos para serem utilizados nas ações que seus treinadores imaginaram, com respostas imediatas sem reflexão maior. Nossas enfermeiras utilizaram o senso prático, uma regra de conduta, com modificação durável do corpo operada pela educação. A foto 2 foi publicada no mesmo jornal supra citado de 11/04/1944, retrata exercício militar de marchas rastejantes. Seis enfermeiras com uniformes pretos iguais estão presentes na composição. É visível pela contração muscular aparente em seus braços, dificuldade e esforço demandado nos movimentos dos corpos. Este tipo específico de preparo físico visava alcançar destreza para deslocamento em terrenos acidentados nas situações de emergência, fato esse passível de acontecer em situações na guerra. Para a Enfermeira Carmem Bebiano os uniformes de ginástica eram de braços e pernas sem proteção, deitar no chão e fazer essas marchas rastejantes incomodava e arranhava muito. A análise detida do texto fotográfico conjugada aos depoimentos orais das protagonistas reflete a sujeição ao cumprimento das atividades programadas ao mesmo tempo em que mostra a luta destas, no sentido da assimilação do habitus militar, com disciplina rigorosa, explicitada inclusive na maneira de usar o corpo e o reconhecimento da sua importância para o ingresso na FEB e no Exército. Caso não correspondessem aos padrões traçados pelos militares, não lhes restaria outra opção senão abandonar seus objetivos patrióticos estabelecidos internamente de partida para o front para cuidar dos feridos. Essas enfermeiras ou submetiam-se sem questionar ou não partiam. Após empreenderem diversas lutas para partirem para a Itália, já detendo capital militar, prontas para seguirem para o conflito, participam de uma missa que demarcou antecipadamente a partida para o front europeu. A foto 3, é uma foto de grupo realizada na Igreja Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro. Presentes na foto quarenta e três pessoas. A depoente Enfermeira Virgínia Potocarrero afirma que se trata da missa da benção dos braçais. Para a Enfermeira Isabel Feitosa a fé que era importante. A Enfermeira Carlota Mello informa ter a impressão que a maior parte professava o catolicismo. A Enfermeira Elza Cansanção relata que braçal de Cruz Vermelha que receberam na missa é a única proteção do Serviço de Saúde. As falas demonstram momento de fé e contrição. Elas receberam um símbolo mundial de proteção de suma importância que as protegeria em situações de risco. A mídia publica o evento no jornal “Correio da Manhã” de 01/07/1944 e a legenda cita que o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro Dom Jaime Câmara celebrou, a missa votiva pelas enfermeiras especiais do Brasil que partiam para o front. A nota afirma que o ato religioso foi assistido por numerosas autoridades civis e militares, entre elas, o General Mascarenhas de Morais, comandante da FEB e o General João Afonso de Souza Ferreira, Diretor de Saúde do Exército. Informa a matéria que O Monsenhor Henrique Magalhães em seu discurso anunciou a partida das enfermeiras no acontecimento social/religioso da missa dos braçais, tornando patente seu apoio a esse grupo, o que concorreu para legitimar o ingresso dessas mulheres na guerra. O fato de a benção ter sido realizada numa igreja desse porte e importância, além de estarem presentes altas autoridades, confere prestígio e poder ao evento em que foram inseridas essas enfermeiras.
CONCLUSÃO
Concluímos que a divulgação jornalística das imagens do Grupamento de Enfermeiras, contando com a presença de autoridades militares e eclesiásticas demonstra a presença e força da Igreja dando apoio explícito às Forças Armadas e ao governo Vargas na decisão brasileira de participação no conflito mundial, evidenciando o poder de dominação e as alianças entre Estado e Igreja.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. Contrafogos 2 : por um movimento social europeu; Trad. André Telles, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, 115p;
JORNAIS: "A noite ilustrada", ano 1944, de 11 de abril. “Correio da Manhã”, ano 1944, de 01 de julho.
MEDEIROS, E.C.. Eu estava lá! .Rio de janeiro: Ágora da Ilha, 2001.191p.;
MOTTA, A. M.(Coord).) História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. 8 tomos.;
SILVEIRA, J.X.. A FEB por um soldado. Rio de Janeiro: Expressão e cultura, 2000, 353 p.
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