HOSPITAL JESUS: ESTRATÉGIAS E EFEITOS SIMBÓLICOS NA FORAMÇÃO DO QUADRO DE PESSOAL DA ENFERMAGEM (1935-1938).

Autores

  • Andréia Neves Sant'Anna HOSPITAL M. JESUS

DOI:

https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25p

Palavras-chave:

enfermagem, administração, historia

Resumo

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objeto a formação do quadro de pessoal de enfermagem no Hospital Jesus, estratégias e efeitos simbólicos para instituição, com delimitação temporal de 1935 a 1938, por ter sido o período da primeira administração do Serviço de Enfermagem na instituição, exercido pela Enfermeira Lucinda de Araújo Silva. Cabe ressaltar que esta enfermeira foi egressa da Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, seção feminina da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras da Assistência a Alienados, atual Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), formada em 1931. O Hospital Jesus, atual Hospital Municipal Jesus, foi inaugurado em 30 de julho de 1935, sob responsabilidade da administração municipal, no Rio de Janeiro, durante o governo constitucional de Getúlio Vargas (1934-1937). A instituição destinava-se ao tratamento de moléstias peculiares à criança. Nesta época, já existia o Hospital Arthur Bernardes (1924), atual Instituto Fernandes Figueira, sob a égide do Governo Federal, destinado a assistência às crianças (Seta, 1997,40).

Os antecedentes históricos correspondem à Revolução de 1930, com instalação do Governo Provisório (1930-1934) e o início da gestão da presidência do Brasil por Getúlio Vargas, tendo como interventor no Distrito Federal o Dr. Pedro Ernesto Batista (1931-1936).

OBJETIVOS

- Descrever as circunstâncias sócio-políticas do Rio de Janeiro na criação do Hospital Jesus - cabe destacar que o Rio de Janeiro, no período abordado, era o Distrito Federal, sendo, portanto, a Capital da República;

- Analisar as estratégias empreendidas para a formação do quadro de pessoal da enfermagem da instituição; e

- Discutir os efeitos simbólicos da formação do quadro de pessoal da enfermagem no Hospital Jesus, como contribuição na assistência pediátrica.

METODOLOGIA

O estudo é do tipo histórico-social, pois Cardoso afirma que: diversos historiadores apontam como uma abordagem capaz de tratar um campo específico de atividades humanas estudadas pela história. Os estudos histórico-sociais ganharam especial força nas décadas de 1930 e 1940, aparecendo vinculados a uma abordagem culturalista, com ênfase nos costumes e tradições nacionais. Assim, o autor aponta uma forma de se estudar momentos específicos com abordagens diferenciadas em um local ou área de conhecimento, podendo contextualizar culturalmente acontecimentos sociais. (Cardoso, 1997, 47). O campo de pesquisa foi o Hospital Jesus, atual Hospital Municipal Jesus, inserido na Secretaria de Saúde Geral e de Assistência do Distrito Federal em meados da década de 1930. As fontes primárias estão constituídas de documentos escritos, formados por compilados de: memorando, ofícios, remessas de empenhos, freqüências, escalas dos funcionários, sendo citados ao longo do trabalho como livros. Também foram utilizados documentos como os dados pessoais dos profissionais e institucionais e o discurso de inauguração do Hospital proferido por Pedro Ernesto Batista. 

As fontes secundárias selecionadas foram referentes ao contexto histórico sócio-político e sanitário do país; à temática da saúde pública nucleada à assistência da criança; e à história da enfermagem.  Estas fontes foram localizadas na Biblioteca setorial da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da UNIRIO e no Centro de Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ambas na Cidade do Rio de Janeiro e através da internet.

Resultados

Durante a primeira metade do século XX, a cidade passou por profundas transformações decorrentes do processo de industrialização e urbanização. Em linhas gerais a reestruturação urbana promoveu a segregação e a exclusão sociais. Os administradores da cidade, antecessores de Pedro Ernesto, concentraram suas realizações urbanas e sanitárias na área central. Aos poucos, a população pobre, até então instalada nesta região, teve que se deslocar em direção às áreas mais afastadas, acompanhando a linha férrea. Mesmo sendo precário, este era o meio de transporte utilizado para o deslocamento até aquelas localidades do subúrbio carioca. As condições de infra-estrutura habitacional nestes locais também eram deficientes, sobretudo nos aspectos de educação e atendimento médico hospitalar (Teixeira, 2004, 23).

Sob esse enfoque, a criação, em dezembro de 1930, do Ministério da Educação e Saúde Pública, foi apresentada à sociedade como indicador de preocupação do Estado com o futuro da nação. Essa linha de argumentação foi usada para justificar os investimentos necessários à implantação do setor (Almeida Filho, 2004, 33-34). Durante o governo de Getúlio Vargas, o Estado passou então a intervir em diversos aspectos nacionais, inclusive na saúde pública. Como interventor do Distrito Federal e posteriormente como prefeito, Pedro Ernesto marcou seus governos por uma atenção especial às áreas de saúde e educação, pois observou através de levantamentos específicos, deficiência de leitos para atendimento infantil.

Meira (1971, 19) diz que o primeiro diretor efetivo do Hospital Jesus foi Alberto Borgerth, que acumulava também o cargo de Chefe da Cirurgia. Acompanhou desde o início a construção do Hospital, se envolveu de forma afetiva e humana com a instituição. Desta forma, Alberto Borgeth se encontrava em uma posição de reconhecimento e autonomia, pois a assistência infantil apresentava dificuldades. Este fato dava a este poder em várias instâncias na unidade hospitalar e fora dela, por ser diretor de um dos primeiros hospitais infantis da época. Neste sentido, o ex-diretor do Hospital de Pronto Socorro (HPS), à época diretor do Hospital Jesus, Alberto Borgeth, conhecedor da rede hospitalar, foi buscar os melhores elementos, pois tinha experiência em diversos hospitais e dispensários do Distrito Federal e, principalmente, no Hospital de Pronto Socorro. Convocou cirurgiões, clínicos e radiologistas (Meira, 1971, 23-25). Bourdieu (2007, 134) cita que a posição de determinado agente no espaço social pode ser definida pela posição que ele ocupa em diferentes campos, ou seja, na distribuição dos poderes que atuam em cada um deles. Atuar no Hospital conferia prestigio e, devido a este fato, Alberto Borgeth conseguiu reunir um grupo que reproduziu linguagem semelhante e, posteriormente conseguiu, na sua maioria, posição privilegiada.

Isso nos faz compreender que trabalhar no Hospital Jesus fez com que os que ali passaram, tivessem reconhecimento profissional. Foi chamada para ser Encarregada de Enfermagem, a Enfermeira Lucinda de Araújo Silva, oriunda do Hospital de Pronto Socorros, atual Hospital Souza Aguiar. Lucinda de Araújo Silva foi formada pela Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, na qual ingressou mediante solicitação de vaga por carta escrita de próprio punho em 17 de março de 1930, e recebeu diploma em 23 de dezembro de 1931 (cx 4a, ano 1931-1933, Arquivo setorial EEAP). Uma estratégia de trabalho de Lucinda de Araújo Silva era chamar pessoas oriundas da mesma escola de formação, outra estratégia de trabalho, elaboradas pela chefia de enfermagem do Hospital, era ter pessoas adaptadas e que trabalhassem na unidade ocupando setores de importância para o funcionamento do hospital. Cada membro da equipe manifestava sua colaboração, não indo contra ao que era proposto pela chefia de enfermagem, sendo este um efeito das estratégias da enfermeira Lucinda que colaborou para o atendimento da população que procurava assistência no Hospital. Isto permitia que a enfermeira chefe da unidade tivesse possibilidade de gerenciar o grupo de enfermagem distribuído por vários setores do hospital. Como efeitos das estratégias utilizadas pela enfermeira Lucinda, tivemos uma predominância de funcionários formados pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, que refletiu nas práticas de trabalho dos mesmos à época, e permanece até os dias atuais.

Neste sentido, temos no gerenciamento do Hospital Jesus a predominância de enfermeiros formados pela mesma escola que a chefe de enfermagem da época de inauguração do Hospital, mantendo-o como um hospital de excelência no tratamento a criança.

Conclusões

Foi possível concluir que a criação de um hospital para atendimento pediátrico na Capital Federal era considerada uma ação de importância, pois a clientela infantil carecia de assistência adequada. Esta importância se reforçava no fato de que neste período, ainda não existia no Distrito Federal um hospital essencialmente pediátrico para atender a população.

A enfermeira Lucinda  de Araújo Silva procurou como estratégia de trabalho, ocupar todos os espaços possíveis dentro do hospital com sua equipe, distribuindo o grupo de enfermagem em locais que não seriam inerentes a profissão. Ao longo da gestão desta enfermeira, pôde-se perceber que suas estratégias de trabalho deram ao grupo que liderava maior visibilidade e credibilidade. A partir da primeira enfermeira chefe que atuou na unidade, foi permitido a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto ter uma campo de prática novo, reconhecido pelos órgãos públicos da época, e levando o Hospital Jesus a ser reconhecido como referência para o atendimento à criança. É relevante mencionar que até os dias atuais a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto tem presença marcante no Hospital, e tem enfermeiros atuando diretamente na assistência e em cargos de chefia.

Referências

SETA, Marismary Horsth de. Instituto Fernandes Figueira: Delineamento de 50 anos de Historia Institucional. 1997. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.

CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da Historia. Ensaios de Teoria e Metodologia. Editora Campus, 1997.

TEIXEIRA, Cláudia Regina R.R.. A Reforma Pedro Ernesto (1933): Perdas e Ganhos para os Médicos do Distrito Federal. 2004. Dissertação de mestrado em História das Ciências da Saúde Fundação Oswaldo Cruz . Casa de Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro (116 p.).

ALMEIDA FILHO, A. J. A Escola Anna Nery (EAN) no “front” do campo da educação em enfermagem e o (re)alinhamento das posições de poder (1931-1949). UFRJ/EEAN, 2004.

MEIRA, Deyler Goulart. Hospital Municipal Jesus – Subsídio a sua História, RJ-GB. 1971.

BOURDIEU, P. O poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

Acervo da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: Histórico escolar de Lucinda de Araújo Silva (cx 4a, ano 1931-1933, Arquivo setorial EEAP).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Biografia do Autor

Andréia Neves Sant'Anna, HOSPITAL M. JESUS

Possui graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/ UNIRIO. Especialista em Enfermagem Gerencial pela Faculdade Luiza de Marillac, especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Cândido Mendes. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/ UNIRIO. Enfermeira do Hospital Universitário Pedro Ernesto e do Hospital Municipal Jesus.

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Publicado

2010-11-12

Como Citar

1.
Sant’Anna AN. HOSPITAL JESUS: ESTRATÉGIAS E EFEITOS SIMBÓLICOS NA FORAMÇÃO DO QUADRO DE PESSOAL DA ENFERMAGEM (1935-1938). Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online) [Internet]. 12º de novembro de 2010 [citado 8º de novembro de 2024];. Disponível em: https://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/906

Edição

Seção

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