PERCEPÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM SOBRE A PRESENÇA DE FAMILIARES-ACOMPANHANTES DURANTE A PUNÇÃO VENOSA INFANTIL
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pResumo
INTRODUÇÃO: Durante a hospitalização, a criança vivencia sentimentos desfavoráveis para o seu desenvolvimento físico, mental e social: está em um ambiente novo, cercada de pessoas desconhecidas, ruídos estranhos, segue uma rotina diferente da que possuía em casa e é frequentemente submetida a procedimentos invasivos e dolorosos. A punção venosa é um desses procedimentos, reconhecidamente traumático, porém, rotineiramente realizado por profissionais médicos e pela equipe de enfermagem, para a realização de tratamentos e exames. É um procedimento indispensável para recém-nascidos e crianças hospitalizadas, pois é mais confortável para administração de infusões venosas em grandes volumes e de determinadas substâncias que apresentam absorção deficiente nesta clientela1,2. A equipe de saúde precisa estar pronta para tentar reduzir os efeitos físicos, emocionais e sociais causados por procedimentos traumáticos advindos da hospitalização3. A enfermagem é uma profissão que vem enfatizando características humanas e holísticas4, embasando seus cuidados ao cliente pediátrico e à sua família. Existem intervenções já descritas em literatura que podem minimizar o desconforto de tal procedimento, como: uso de brinquedos terapêuticos, música, massagem, abraço terapêutico e a presença dos pais. Os pais, ao realizarem o abraço terapêutico promovem a contenção física e emocional à criança, reduzindo o efeito estressor oriundo do procedimento. Estas medidas aliadas a um preparo adequado prévio pode evitar o uso de contenções2. Apesar destes conhecimentos prévios, ainda vivenciamos uma prática de enfermagem que não utiliza tais medidas, seja por desconhecimento ou por outras justificativas. Assim, o objeto deste estudo é a percepção da equipe de enfermagem sobre a presença de familiares-acompanhantes durante a punção venosa pediátrica.
OBJETIVOS: Descrever a percepção da equipe de enfermagem sobre a presença do familiar-acompanhante durante a punção venosa da criança hospitalizada e discutir as percepções da equipe no contexto da humanização em pediatria, com enfoque na criança e sua família.
METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo qualitativa descritiva. O cenário foi uma Unidade de Internação Pediátrica de um Hospital Público Universitário do Estado do Rio de Janeiro. Os sujeitos da pesquisa foram dezessete profissionais de enfermagem dos serviços diurno e noturno, funcionários do referido cenário. Foram excluídos aqueles que não aceitaram participar da pesquisa ou aqueles que estiveram ausentes por licenças e férias no período de coleta de dados. Os aspectos éticos e legais foram respeitados conforme a Resolução 196/965. O estudo foi aprovado através do parecer número 0173.0.228.000-09 de 09 de dezembro de 2009 CEP-HUPE. Os dados foram coletados entre os meses de abril a junho de 2010 com a utilização de um formulário contendo perguntas fechadas e uma pergunta aberta: “Como você percebe a presença de familiares-acompanhantes durante a punção venosa infantil?”. A partir da entrevista gravada, as falas foram analisadas através da análise temática.
RESULTADOS: A análise dos dados permitiu a emergência de três unidades de significação: A presença do familiar e sua influência no trabalho da enfermagem, A importância do familiar como suporte para criança e Reações da família frente à punção venosa. Percebemos que a equipe de enfermagem verbaliza e reconhece a importância dos pais para a criança e seu direito em permanecer durante procedimentos junto ao seu filho. A equipe também entende e expressa reações diferentes dos familiares (“Uns são calmos, outros são mais estressados”). Mediante variadas vivências, a equipe apresenta visões divergentes sobre a presença do familiar durante o procedimento. Para alguns, a presença dos pais atrapalha, pois funcionam como verdadeiros “fiscais” do procedimento, cobrando que “acerte a veia de primeira”. Outros profissionais apresentaram discursos favoráveis diante da presença dos familiares durante o procedimento (“nos ajuda muito”).
CONCLUSÕES: A enfermagem pediátrica deve repensar a presença dos familiares-acompanhantes durante a punção venosa pediátrica, nos espaços de hospitalização infantis. Precisamos compreender a problemática vivenciada pela família, a fim de que sejam também cuidados pela equipe e percebidos como aliados no processo de cuidar. A punção venosa não pode ser restrita apenas ao momento e à técnica em si, devendo ser compreendida como um processo de cuidado à criança e sua família. Os profissionais de enfermagem devem aplicar estratégias que possam integrar e informar os familiares-acompanhantes, na vivência hospitalar, reconhecendo a visão destes frente à técnica, além de rever conteúdos teóricos sobre as relações interpessoais. Os achados demonstram distância entre teoria e prática de enfermagem, além de apontar certo desconhecimento da equipe de enfermagem sobre os reais benefícios que uma reação amistosa e humanizada traz para o desenvolvimento emocional da criança hospitalizada frente à dor e situações de crise. Sugerimos a realização de treinamentos sobre estratégias de humanização durante a punção venosa pediátrica e sobre a inserção da família nestes espaços de cuidado.
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