O SABER LOCAL DAS FAMÍLIAS NO MANEJO DA ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ DE BAIXO PESO: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA SOCIAL DA ENFERMAGEM.
DOI:
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25pPalavras-chave:
enfermagem, alimentação, baixo peso ao nascerResumo
INTRODUÇÃO: Os bebês de baixo peso ao nascer possuem demandas de cuidados habituais modificados relacionados à nutrição que implicam na necessidade de monitoração do manejo daalimentação. Quando em casa, independente do tipo de alimento, se leite materno ou fórmula, alimentar o bebê de baixo peso, é uma tarefa desafiadora para a família, devido à necessidade de ajuste entre as demandas metabólicas, de crescimento e desenvolvimento. Além disso, ele apresenta peculiaridades na regulação da temperatura corporal. A combinação desses aspectos cria a necessidade de um monitoramento mais restrito do crescimento e desenvolvimento, e do seu estado de saúde, em virtude da maior exposição ao adoecimento. A conjugação desses fatores inclui esse bebê no conjunto das crianças com necessidades especiais de saúde (CRIANES), denominado na literatura internacional comoChildren with special healthcare need. Tratam-se de crianças que apresentam limitações no seu estilo de vida e nas suas funções normais para a idade, com maiores demandas de cuidados contínuos, sejam eles de natureza temporária ou permanente, que as demais crianças em geral. Por apresentar condições especiais de saúde com demanda de cuidados habituais modificados relacionados à nutrição, a família do bebê de baixo peso precisa aprender a manejar sua alimentação, e não apenas a mãe.
OBJETIVOS: descrever a prática discursiva dos familiares no manejo da alimentação do bebê de baixo peso, desvelar a prática social derivante dessa prática discursiva e interpretar os modos de articulação dessa prática social com as práticas culturais influenciadoras da tomada de decisão das famílias à luz do saber local.
METODOLOGIA: Estudo qualitativo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP/HUPE (Protocolo 2013), desenvolvido segundo o método criativo sensível, sendo implementadas as dinâmicas de criatividade e sensibilidade Mapa Falante e Corpo Saber no domicílio de seis grupos de familiares cuidadores, no período de abril de 2008 a março de 2009. Estes grupos familiares receberam a denominação fictícia de: “família de Guilherme”, “família de Uli”, “família de Pedro Henrique”, “família de João Gabriel”, “família de Maria Vitória” e a “de Raphael”, totalizando 25 participantes. A todos foi explicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de sua assinatura. As falas dos familiares foram gravadas em fita cassete e após a realização das DCS foram transcritas na íntegra. A escolha das dinâmicas Mapa Falante e Corpo Saber como estratégias de produção de dados sustentam-se em três dimensões: a ontológica, epistemológica e a metodológica. As dimensões ontológica e epistemológica da dinâmica do mapa falante visaramconhecer as relações estabelecidas entre os cuidadores e a comunidade em geral, tendo como principio fundamental o individuo no coletivo e a visibilidade da prática discursiva do grupo familiar. Assim, essa dinâmica nos levou aos locais e as pessoas da comunidade que contribuíram para a constituição dos saberes e práticas locais de manejo da alimentação do bebê de baixo peso. A dinâmica do corpo saber visou conhecer as práticas dos familiares no manejo da alimentação (amamentação, mamadeira, sopinha etc.) do bebê de baixo peso e que saberes e crenças permeiam essas práticas alimentares. A dimensão metodológica em ambas dinâmicas foi operacionalizada em cinco momentos. O primeiro caracterizou-se pelo acolhimento do grupo de familiar. O segundo, pela apresentação de cada participante. Nesta etapa, foram explicados os objetivos da pesquisa e como se realizaria a dinâmica. Após disponibilizar os materiais para a elaboração da produção artística (canetas hidrográficas, lápis de cera, cartolina), enunciei e expliquei a questão geradora de debate. O terceiro momento destinou-se à elaboração da produção artística. No quarto, cada participante apresentou o material produzido e enunciou sua experiência individual no plano coletivo. O quinto momento correspondeu à análise coletiva e validação dos dados.Por evidenciarmos elementos da macro-estrutura social na constituição do discurso desses familiares, optamos pela vertente da Análise Crítica de Discurso (ACD) de Fairclough para desenvolver a análise do material empírico. Esse modelo analítico considera qualquer evento discursivo a partir de três dimensões. A primeira se caracteriza pela análise textual e lingüística; na segunda, o analista leva em conta a prática discursiva do sujeito como algo produzido, apreendido e compartilhado consensualmente entre as pessoas. Esta análise está centrada nos conceitos de intertextualidade manifesta e interdiscursividade. A terceira dimensão de análise compreende a análise do evento discursivo como instância da prática social. É uma dimensão que analisa as circunstâncias institucionais e organizacionais do evento discursivo e de que maneira elas moldam a natureza da prática discursiva.
RESULTADOS: A prática discursiva dos familiares cuidadores indicou três contextos de constituição dos saberes e das práticas dos familiares no manejo da alimentação do bebê: hospitalar, domiciliar e societal. No hospitalar, a ordem de discurso institucional foi pautada na unicidade do dizer profissional, apontando a amamentação como prática social exclusiva. No domiciliar, a diversidade de vozes dos familiares apontou duas práticas sociais: a da amamentação e a da alimentação do bebê. Ambas as práticas constituíram o saber local dos grupos familiares materializado sob a forma de teia de crenças culturais por saberes transmitidos intergeracionalmente, seja no espaço de interação social da família, seja na ressignificação das vozes dos profissionais de saúde. No societal, a diversidade de vozes indicou práticas sociais semelhantes àquelas do contexto domiciliar.
CONCLUSÃO: A prática clínica dos profissionais de saúde favoreceu o início da amamentação exclusiva; porém, a manutenção da mesma dependeu da motivação da família para negociar experiências bem sucedidas. A despeito de todo o poder do discurso dos profissionais de saúde na promoção e apoio a prática do aleitamento materno exclusivo, nem todas as mães dos bebês de baixo peso continuaram com o leite materno como a única fonte de alimento para o filho após a alta da Maternidade. No domicílio, outros saberes e outras práticas assumiram o lugar na prática das famílias de alimentação do bebê de baixo peso. O poder do discurso de familiares pertencentes a diferentes gerações foram decisivos nesse processo de mudança de atitude. Os valores e as normas familiares foram mais fortes na tomada de decisão sobre como alimentar o filho. Os profissionais de saúde precisam incluir a família, como alvo de suas intervenções clínicas e educativas. Conhecer as práticas culturais de alimentação das famílias é o ponto de partida para a negociação de novas práticas alimentares.
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